Prólogo

56 3 0
                                    

O campo é lotado de flores brancas e amarelas, num contraste perfeito com o verde da grama e o azul do céu. O cheiro doce delas entram em meus poros trazendo harmonia em minha alma. Um mar azul claro e ondas calmas brilham em meus olhos, logo abaixo do morro. Meus pés descalços sentem a textura fofa da grama e o molhado das pequenas gotículas de água presas nas mesmas. O vestido branco e solto molda meu corpo. Meu cabelo escuro voando de acordo com o vento calmo e frequente. As cores me fazem suspirar. Tudo tão vivo. Lindo e puro.

O meu sorriso é largo em meu rosto. Eu giro e giro, observando as cores ao meu redor. Eu me sinto feliz, me sinto viva. Fazia tanto tempo...

Levando as mãos de encontro com as flores, corro até o mar, deixando que meu cabelo voe livre. Minha cabeça empinada ao céu azul anil.
Frio, um calafrio sobe por meus pés quando chego, fazendo com que meu sorriso fique ainda mais largo - se for possível. O vai e vem das ondas e o vento batendo em meu rosto torna tudo perfeito e mágico.

Ao longe vejo a silhueta de uma mulher. Seu cabelo e vestido dançam igual aos meus. Sinto minha respiração começar a falhar, o ar prender em minha garganta. Eu jamais a vi, na verdade, quase não a consigo ver no momento, talvez seja por isso que não a reconheço. Seus detalhes são turvos, como uma pessoa míope tentando enxergar sem seus óculos. Mesmo assim forço meus olhos, caminhando também em sua direção.

A apenas alguns passos de distância, percebo sua fisionomia familiar, mas totalmente estranha. Seu olhar brilhante conectado aos meus. Uma explosão de castanho e verde. Mas um castanho único, diferente.

Seus passos param. Ela está tão próxima a mim. Um sorriso brilha em seu rosto, automaticamente no meu também. Sua pele dourada absolutamente iluminada me hipnotizando. Um rosto perfeito e de nariz redondo e arrebitado. Qual seria seu nome? Camila. A resposta aparece em segundos.

Sinto nossos dedos se entrelaçando, mas não consigo desviar o olhar, não consigo perceber quem aperta mais, quem segurou primeiro. Tudo parece tão confuso e mágico. Tão incrível que lacrimeja meus olhos, quero chorar por tamanha beleza.

Seus lábios semi abertos mandam uma respiração frequente e quente aos meus, deixando meus sentidos inebriados. Camila da um passo a frente. A ponta de seu nariz encosta milímetros no meu. Eu sinto minhas bochechas corando e o sorriso doce da mulher aumentando.

Nossos olhos dançam. Uma vez ao olho direito, outra ao esquerdo, descendo até a boca, e entao se repetindo, cada vez mais rápido ao ponto do olho doer e querer fechar.

Seria possível estar apaixonada por uma total desconhecida? E por quê esse sentimento parece tão banal ao que eu estou sentindo?

A cor de seus olhos mudam para um tom forte de castanho, quase preto, ao que minhas mãos tocam sua face. Desejo escorre por todos os lados. Anseio. Seu sorriso some, e seus traços também. Um toque tão sutil.

Um vento forte, minhas mãos caem ao meu lado. Sem apoio, sem Camila. Foram poucos minutos, eu preciso de mais. Tudo estão desmorona.

As cores desbotam. Meus olhos ardem, enquanto lágrimas descem, lágrimas de dor, não beleza. Me sinto vazia e fria, sem qualquer presença vista além do escuro.

Olhando ao redor não vejo nada, apenas sinto e escuto a água em meus pés e o vento forte batendo em meus rosto, que trás chuva. As gotas duras machucam minha pele e queimam todo o ambiente. A paisagem agora vibra a cada toque em azul púrpura.

Eu a procuro em todos os cantos, meus pés correndo em direções desconhecidas. Meus olhos buscando desesperadamente até encontrar algum deslumbre dela. Consigo. Camila corre sem olhar pra trás, deixando o rastro de seu cheiro e alguns tons coloridos.

Grandes árvores cobrem tudo ao meu redor. Altas, cheias de folhas e galhos, elas não deixam com que eu saia do lugar. Elas me prendem fortemente contra elas. Eu suspiro pesadamente, não tentando me soltar ou gritar. Não irá fazer qualquer diferença nesse final.

Meu peito arde e minhas pernas ficam fracas, galhos me ninam até o chão. A terra umida e fria como uma cama que acolhe, o vendo sacudindo como quem canta uma canção em busca de calmaria. A melodia ecoa por todos os cantos, não há mais árvores ou tons mesclados com outros. Não há escuro ou prisão. Apenas castanho me abraçando.

Sou puxada para um sono sem sonhos.

_

My EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora