Único

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Música para melhor experiência - opcional: Wicked Game - Daisy Gray

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A noite estava envolta em uma penumbra tensa, onde a névoa se entrelaçava entre as árvores de estruturas enigmáticas e as sombras pareciam dançar sob os raios prateados da lua. O ar era frio, cortante, e cada respiração era um vapor sutil que escapava dos lábios de Agatha.

Ela afastou-se do grupo, o peso das palavras de Rio atingiu uma parte de seu coração que há um século tentara manter fechada. Trancada, para que ninguém nunca ousasse tocar. Mas o inevitável aconteceu. A pessoa pela qual ela tivera de fazer isso, também era a única que tinha o risco de acessá-lo novamente.

Agatha sabia que ela era o motivo daquela ferida que nunca cicatrizou completamente. Pois também tivera uma igual. Uma que mantivera sob seu ego e rancor.

A história delas, o amor que, embora quebrado, ainda pulsava como uma chama teimosa, mesmo em meio às cinzas do passado.

Os passos quebrando as folhas secas ao longe eram inconfundíveis. Era ela.

Harkness sempre soubera, mesmo em seus silêncios. A presença dela era como uma corrente invisível que puxava seu coração, sua alma, para cada vez mais perto, não importava o quanto tentasse resistir.
E então, a sentiu - não apenas a ouviu, mas a sentiu antes mesmo de o toque acontecer.

Quando os dedos deslizaram gentilmente sobre seus cabelos longos, descendo até a base de suas costas, Agatha fechou os olhos, um suspiro lento, quase um gemido, escapando de si. O frio ao seu redor parecia se dissipar por aquele instante, a presença de Vidal a aquecia mais do que qualquer fogo poderia.

De olhos fechados, ela virou-se, e quando os abriu, e encontrou os dela, o mundo ao redor pareceu desaparecer, e todo o universo se reduziu àquele olhar. Não era nada além de uma vulnerabilidade sutil. O máximo que aquele ser, poderia expressar. E Agatha, fora o único ser, a também enxergá-la como ela verdadeiramente era.

Seu coração bateu em um ritmo descompassado, uma sinfonia caótica de sentimentos. E então, sem pensar, sem hesitar, ela a envolveu. Os braços a envolveram com uma ternura desesperada.

E quando Rio sentira a mão envolver por sua nuca, adentrando lentamente entre os cabelos, enquanto o outro braço se fechava ao redor da cintura, e assim, levando-a aquele abraço. Ela deixou sua testa repousar na curva do pescoço de Agatha, respirando fundo, absorvendo o cheiro dos cabelos longos e o perfume natural da pele que já conhecia tão bem. Ainda que estivesse misturado ao cheiro da terra e ao sal do suor, havia algo inconfundível ali. Durante séculos, ela havia sido arrebatada pelo cheiro puro daquele corpo, o mesmo cheiro que, por tantos anos, havia a deixado de joelhos, presa a um amor que jamais havia conseguido extinguir

O toque dela parecia desencadear uma avalanche de sensações que a arrebatavam por completo. O cheiro dela invadiu seus sentidos, uma mistura inebriante, algo apenas dela, que a envolvia e a prendia naquele instante. Os olhos de Rio se fecharam sem que ela percebesse, entregando-se à conexão física e emocional. Seus corpos se moviam juntos, quase como se quisessem se fundir, buscar a unidade que as palavras nunca alcançariam.

O coração de Rio pulsava em um ritmo descompassado. A respiração, que ameaçava escapar do controle, mantinha-se em um ritmo contido, como se sua própria existência dependesse daquele momento.

Nada mais importava. Apenas o refúgio seguro que ambas encontram uma na outra
Era um pedido de perdão, uma entrega silenciosa.

Os dois corações pulsavam em uníssono, batendo com força contra os peitos pressionados. Agatha sentia o cheiro de Rio, uma mistura de terra, suor e algo familiar, quase doce, que a remetia aos tempos em que se perderam uma na outra.
Seus corpos se moldavam como peças perfeitas de um quebra-cabeça que nunca deixaram de ser.

M'lady | One - AGATHARIOOnde histórias criam vida. Descubra agora