Único

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Kelvin não conseguia pensar. Sentir Ramiro tão próximo a si, os braços dele à sua volta, o peito dele subindo e descendo suavemente contra o seu, os lábios dele tão perto, era como um dos seus mais secretos sonhos se tornando realidade.

Sabia com toda certeza que Ramiro jamais o machucaria, não de propósito, com real malícia, mas era verdade que a relutância dele em todos aqueles meses que se viam e as rejeições (mesmo que ele tivesse voltado atrás em todas as vezes) não servira para ajudar a acalmar suas inseguranças. Mas ali, no bar que era tão familiar para ambos, enquanto a música ainda tocava e os clientes se divertiam, Ramiro olhando em seus olhos e falando em voz baixa enquanto lhe segurava com força e respirava o mesmo ar, podia quase ouvir o som das últimas barreiras de seu coração ruindo. Amava demais aquele homem.

Não era a primeira vez que se apaixonava, mas as outras nem se comparavam. Rapazes bonitos com quem estudara, que ele se contentava em admirar de longe e escrever os nomes em cadernos guardados a sete chaves, ocasionais turistas que lhe faziam promessas vazias e em quem ele fingia que acreditava. Um ou outro filho de fazendeiro lhe dizendo que o "tiraria daquela vida". Kelvin se apaixonava fácil. Mas desapaixonava também. Todos esses acabaram se tornando apenas notas de rodapé em sua história. Mas Ramiro não. O peão pobre, cheio de preconceitos, a última pessoa por quem esperava se apaixonar fora justamente o homem que conseguira cravar uma bandeira em seu coração.

Imaginava se não deveria estar sentindo medo pois aprendera a nunca se deixar ser vulnerável, mas não. O medo se misturava ao desejo e virava uma excitação, uma expectativa de algo grandioso que estava por vir. Nem mesmo a ideia de se lançar em uma carreira internacional o deixara tão cheio de energia, tão eufórico. Sentia-se como um fio desencapado, e a proximidade de Ramiro o fazia querer explodir.

Aproximou mais o rosto, sentindo a respiração do peão em seus lábios e um gemido baixo deixou sua boca. Sempre tivera cuidado em respeitar o tempo de Ramiro, um cuidado que não tivera consigo e raramente lhe demonstravam, mas naquele momento, onde se sentia igualmente poderoso e vulnerável, não pôde evitar dar um passo à frente antes dele.

— Ramiro? — sussurrou, sentindo as mãos fortes e calejadas segurando-o com mais força. Imaginou se deixariam marcas. Desejou que deixassem.

— Hmm? — os olhos do peão passeavam por seu rosto e se demoravam em seus lábios. Kelvin sabia que ele queria. Sentia-se mal por pedir, por não esperar, não deixar que partisse dele a iniciativa, mas depois de ouvi-lo dizer que ele não conseguiria viver longe de Kelvin, se não o beijasse, cairia morto no chão.

— Me beija… — e ergueu o rosto esperando tocar os lábios dele com os seus, mas Ramiro lhe roubou a chance, descendo a boca sobre a sua, tranquilizando Kelvin sem saber.

Não havia finesse ou técnica, apenas desejo, anseio, paixão. Cravou as unhas nos ombros de Ramiro para mantê-lo junto a si e inclinou a cabeça. Insinuou a língua sobre os lábios do peão e sentiu mais do que ouviu o som que ele fez, um quase rosnado ressoando em seu peito. Uma das mãos agarrou os cachos de Ramiro e isso fez com que as mãos em sua cintura o segurassem com mais força ainda enquanto Ramiro girava e o pressionava contra a coluna onde ele estivera apoiado durante a conversa.

Ouvia a música do bar e o som confuso das conversas, todas misturadas, ao longe, pois o som de seus batimentos cardíacos e a respiração ruidosa que escapava de sua boca e da de Ramiro soavam altos em seus ouvidos. Tanto que, relutantemente, contra todas as suas vontades e desejos, afastou-se. Estavam se deixando levar pela paixão em um local onde podiam ser facilmente vistos. Se Ramiro percebesse e se assustasse, se o deixasse ali para ter outra crise de pânico motivada por seus preconceitos, Kelvin não responderia por si. Talvez aceitasse a proposta de Frank apenas para deixar Nova Primavera e nunca mais voltar, pois também não saberia como viver se Ramiro o rejeitasse outra vez.

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