COLE VAN DOREN
Há 4 anos
A minha mente era um ser vivo. Ela estava gritando, arranhando as paredes do meu interior, pedindo por um socorro de anos. Ela estava trancafiada, se comportando como uma garota sequestrada que era alimentada como um rato de esgoto que caçava corpos mortos. A sua vontade era de sair, escapar da dependência que era viver sob as ordens de um filho da puta que era doente. E até nisso eu precisava concordar com ela. O som da chuva não ajudava a forma viva da minha consciência. A sensação de me cortar e ver meu sangue respigando no chão conseguia ser mais reconfortante que as gotas que deslizavam pela janela como se me dessem boas-vindas. Todos os sons que a tempestade trazia eram como balas rentes ao meu crânio. Ao mesmo tempo que me matava, era como se desse a liberdade e felicidade que tanto procurava. A minha mente ficaria feliz se esse vazio fosse ocupado. Era uma pena que a minha morte não viria tão cedo, principalmente para os filhos da puta que fecharam meus pulsos com algemas. O interrogatório demorou pouco mais que uma hora. Fui o último dos quatro garotos do sequestro a ser interrogado. Me senti um pouco ofendido ao saber que Vance Campbell foi convidado a participar de tal evento antes de mim. Todos sabiam que a única merda que sairia da sua boca seria um bocejo de desapontamento por não ter algum lixo humano embalado pronto para ser esfaqueado como um pedaço de carne. Mesmo torturado, o otário manteria as suas palavras engolidas. O único som que poderia sair da sua boca seria um gemido como uma cadela no cio por adorar ter o seu sangue sendo esvaziado. Experiência própria, eu diria. Nenhuma das questões feitas nesse interrogatório foram na tentativa de procurar pelo culpado do que aconteceu. Havia uma certa certeza de que nós também fazíamos parte do massacre daquele teatro. Infelizmente, eu possuía as minhas mãos limpas de sangue. Assim como os outros três que foram deixados de fora por Dante Faulkner. Cinco corpos foram pendurados na varanda do teatro. A polícia sabia que Faulkner, o garoto que salvou outros garotos de um sequestro que eles evitavam investigar, era a cabeça pensante e controladora. Porém, era nítido que ele precisou de ajuda. O tumultuo demorou pouco mais de meia hora e para que cinco pessoas aparecessem mortas, precisaria de mais mãos assassinas. Infelizmente, não as minhas. Para a tristeza de muitos e indiferença minha, mais gente morreu ao longo do processo. A carnificina no teatro foi apenas uma entrada para o prato principal que era o caos que a cidade se tornou. Os donos do hospital Othello tinham sido encontrados decapitados em seus aposentos. Estes, sim, por Dante. Ele não fez questão de limpar as evidências que apontavam para ele no local do crime. Então, o que ele fazia no teatro e quem matou o restante? Nem eu sabia da resposta, apesar de ter algumas opções de escolha. Mas os policias incompetentes demorariam a chegar à conclusão de que eu não tinha participado. Antes que adormecesse, a porta foi aberta e dois estrumes rondearam o espaço até se colocarem diante de mim. Eles me analisavam como se eu fosse pior que eles. Na prática, até seria, porém, suas mentes depravadas se alimentando de garotos de treze anos e assistir vídeos de estupro me tornavam um ser de luz iluminado por Deus. A minha avó bem que acreditava que eu era abençoado. Afinal toda essa merda era feita por corrupção. Movia-se através de dinheiro e influência. Não acreditava na maioria dos policiais. Seus distintivos eram tão assassinos quanto aquele que apontava uma arma. Dante só fez uma limpa rápida.
— Cole Van Doren — um deles clamou, olhando para alguns papéis. — Você está liberado. Não temos mais perguntas a serem feitas. Mas nem pense em tentar fugir. Você terá que ficar por aqui até as investigações terminarem.
Ergui as sobrancelhas, fechando meus braços contra o peito e os encarando na tentativa que apressassem o discurso. A tempestade continuava sacudindo a delegacia, agitando a minha consciência que, dessa vez, se encolhia e chorava como uma criança perdida. Ao seu lado, o vazio aumentava. Cada vez mais escuro. Mais gritante. Mais assustador. E a única coisa que alimentaria a minha voz interna seria uma das minhas facas passeando pelos órgãos de um dos homens. Observando-os gritar de maneira agonizante, implorando por um alívio que nunca mais encontrariam. No entanto, eu tentava não pensar nisso. Não agora.
— Se você receber algum contato do seu amigo ou se lembrar de alguma coisa que possa ajudar no caso, não hesite em dizer — ele continuou, mas agora seu tom tornou-se mais ríspido. — Se soubermos que você negou informações às autoridades, você será sentenciado. Espero que saiba. Ergui meu queixo, ascendendo meus lábios num sorriso amarelo.
— Eu sei. Levantei da cadeira, balançando a mesa que foi empurrada pela força bruta das minhas pernas. — Onde eu posso arranjar a declaração de falta na escola? — perguntei, tirando piscadelas confusas de ambos. Incompetentes de merda. — Sou um aluno exemplar, caso não saibam. Faltei a duas aulas. — Ah. — O bastardo coçou a nuca antes de encarar o colega que encolheu os ombros em murmúrios estranhos. — Vou com você.
Apesar de se convidar a ir comigo, se manteve a distância. Era como se eu fosse um ponto de contágio e a proximidade era indício de que ele morreria em questão de segundos. Era uma pena que isso não aconteceria.
— Por aqui — ele chamou ao ver que eu caminhava na direção oposta. Ao chegarmos no balcão principal, notei um amontoado de pessoas em cadeiras de plástico azuis. Analisei um dos adultos e me surpreendi pelas características em seu rosto. Coreanos. Éramos poucos nessa porra de cidade. Meus pais escolheram morar aqui por saberem que ninguém da nossa família nos encontraria. Portanto, era sempre uma surpresa ver alguém como nós. No entanto, fui pego desprevenido ao ver que uma das garotas dessa família era uma filha da puta que a minha mente não simpatizava. Seus olhos caíram nos meus e sua feição mudou de tristeza para uma raiva que a fez enrubescer. Indiferente. Toda a sua ira era mais aborrecida que ouvir as orações da minha avó antes de cada refeição. Então, me preocupei em amassar a declaração e prosseguir o caminho até à porta.
— Van Doren! A sua voz ecoou pelas paredes como uma bola saltitante. Irritante. Estúpida. Pequena. Ignorei, abrindo a porta e recebendo apenas o vento com restos de chuva que já tinham se acalmado. Mas antes que eu pudesse fechá-la, um empurrão fez meu corpo pender e minhas narinas inflarem. Assim que me virei em modo ataque, meu punho fechando e levando consigo o resto do papel impresso, rebaixei meus olhos para me encontrar com uma garota de cabelos escuros, olhos raivosos, o lábio sangrando pelas vezes que ela o mordeu em raiva e uma estatura média. Kayleen Cullbert. A vontade de vê-la ferida, chorando ainda mais agressivamente corroeu minha mente, porém a minha violência parava quando sabia que havia alguma coisa que passava dos limites. E ela era um deles. Sem que eu pudesse pronunciar alguma merda que a fizesse chorar mais, meu rosto aqueceu em segundos inesperados por uma mão que me acertou fortemente.
— Diz ao seu amigo que se ele quiser mexer com a Lia, que ele passe por mim primeiro! — Seu grito era como chuva. Aumentava meu vazio. Gerava um forte desejo de esmagar o mundo, inclusive, ela.
— Espero que morram na cadeia porque é isso que vocês merecem! Encarei-a, dando passos o bastante para que ela interiorizasse o medo, mesmo que a coragem e impulsividade ainda se manifestassem naqueles olhos castanhos. Seus cabelos negros sacudiram pelo vento assim como seu corpo ao bater na parede. Mesmo que a minha sombra a engolisse, Kayleen manteve a raiva que era muito maior do que o seu corpo. Ela era um gato preto. Trazia azar. Desgraça. Maldições. Nada do que o meu vazio procurava. Nada que a minha mente queria se alimentar.
— Você acha que isso seria um castigo? — murmurei, recebendo um esgar. Seu semblante enrubesceu. — Se eu mereço tanto estar entre as grades, por que não usar você como ponte? Seus lábios eram uma linha tensa, escorrendo sangue pelo canto. Observei como ela limpou com a língua, sem quebrar a expressão de dor e terror. Cullbert tentava parecer valente. Mas ela era minúscula por dentro. Triste. Covarde. Feia. Mesmo que a sua beleza fosse um ponto de atenção para a maioria dos garotos em puberdade dos arredores, mal sabiam que o seu interior não tinha nada para oferecer.
— Você tem desejo de morte, sua fedelha. E se levantar a mão para mim novamente, eu te concedo essa vontade — finalizei, repuxando seu queixo, mas a sua mão enrolou em meu punho. Ela devolvia. Kayleen nunca deixava de devolver mesmo que o medo congelasse suas pernas.
— Você já é a sua própria punição. Você já está morrendo por dentro. Soltei-a no mesmo instante e ela me empurrou com força, seguindo novamente para dentro. A dor na minha face ainda me queimava. Sua mão foi pesada o bastante para supor que tinha perdido alguns dentes no processo. Contudo, sua voz alcançou um lugar no meu subconsciente que não esperava acordar, gritar, chorar um sangue ácido, preenchendo uma parte do meu vazio que nunca tinha sido atingida. Que eu nunca tinha sequer permitido alguém chegar. Minha cabeça latejou e fui obrigado a fechar os olhos, aterrando meu punho na parede. Os metacarpos pulsaram de dor, mas o prazer revirou meus olhos pela tortura instantânea. Escutá-la não me fez bem. Ela não me fazia bem. E antes que eu pudesse chegar em uma conclusão exata, a chuva voltou e o vazio me engoliu. Novamente. Como há anos a minha mente havia se tornado. A noite embalava a floresta. O cheiro da terra molhada e da merda dos animais no chão eram intensificados com os resquícios de chuva. O céu estava empobrecido de estrelas porque as nuvens não descansavam em fazer da cidade um alvo de tempestades. Nesse momento, somente os pingos acumulados no topo das árvores que caíam em terra. Eu subi a trilha até chegar em uma zona que dava acesso a uma das melhores vistas. A cidade estava minimamente iluminada, porém, o silêncio absoluto pela falta de parasitas caminhando parecia escurecê-la. Todos estavam com medo de sair à noite. Todos estavam com medo de serem as próximas vítimas. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo e o que afetaria no dia-a-dia de cada um. Não tive tempo de admirar a vista, pois a minha mão que estava em um dos bolsos da minha calça saiu para a gola da camiseta da única pessoa ali. Dante Faulkner. O filho da mãe que decidiu arcar com todas as mortes sem dizer para nenhum dos seus malditos parceiros. Aquele que eu tinha algum tipo de empatia, mas, naquele momento, via como um desperdício de sentimentos.
— Olá também para você — ele brincou. — Que merda você fez?! — perguntei, quase cuspindo em seu rosto. Não havia felicidade nas feições de Faulkner, mas não havia nenhum rastro de arrependimento ou tristeza pelo ato. Não esperava, ao menos. Sabia que o massacre era algo que Dante já queria, principalmente quando incluía matar o casal Gray, os donos do hospital. Mesmo que eles fossem pais da garota que ele estava apaixonado como um pirralho que nunca bateu uma punheta na vida.
— Você não precisa se preocupar. Ninguém tem nenhuma prova contra vocês — ele começou por dizer, depois de apertar mais o seu colarinho, deixando sua coluna pendente no ar. — Pedi ajuda para outras pessoas. Torman me ajudou também.
— Não é você que tem que me dizer se eu preciso me preocupar ou não, porra! A sua merda era nossa também. Você quer agir como um inconsequente quando não é o único com motivos para matar — disparei, a raiva governando cada maldito dente. A gola de Dante começou a apertar mais o seu pescoço pela força maior que depositei na minha mão e sua expressão mudou, os traços tão bem desenhados pelas mãos do diabo.
— Mas sou o único que teria a coragem. Você não mata, lembra? Eu te chamaria para regar as plantas? Para segurar meu pau? Isso eu cuido, obrigado. Seu tom irônico me fez largá-lo caído no chão. Dante não se deixava humilhar. Tudo o que ele fez foi sentar e levantar a cabeça. Mesmo sendo mais baixo que eu, o seu ego e austeridade era superior a todas as minhas sombras.
— Fiz isso porque seria necessário no futuro — Dante externou. O massacre do teatro era importante na sua visão. Para um futuro que eu não enxergava, mas ele planejava em seus pensamentos pouco compartilhados.
— Eu não quero seguir uma vida. Eu posso fazer isso. Torman vai nos ajudar a nos manter juntos nos próximos anos. Mas isso afasta as autoridades de vocês e tira do radar. Tudo o que eles vão fazer é me caçar. Mas até nisso vão perder.
— Foi uma tentativa dois em um? — interroguei.
— Podemos dizer que sim. Matei os alvos necessários e fiz com que vocês parecessem inocentes. Poupa-nos trabalho. A lógica moveu minhas engrenagens, mas não interrompeu a porra do meu ódio pelo movimento de Dante sem a autorização de nenhum dos quatro. Éramos cinco caras que estavam juntos por vingança. Era um plano de anos, que estávamos construindo para saciar uma sede que nos despertou no dia em que fomos sequestrados para um tráfico. Não foi repentino como muitos achavam. Não éramos sádicos. Ainda éramos crianças assustadas que se camuflavam nas lendas e histórias que outras crianças contavam. Mas assim que os anos passaram, a vingança dilatou-se também. Dante foi o nosso impulso. O que nos guiou. O que nos moveu. Mas ele não era o único que sabia fazer essa merda dar certo. Se ele ia contra algum plano, ele seria contra um de nós. — Mas a desgraçada você não soube atirar. A menção de Emília Gray, a filha dos donos de Othello, fez com que sua pose de valentão virasse uma amostra de verme. Seus olhos ganharam algum tipo de sentimento que causou repulsa em meu estômago. O filho da puta era um ridículo de um apaixonado. Por mais que ele negasse, sua mente tinha sido ocupada por uma vadia irritante.
— Emília não tem nada a ver com isso. Ela e os seus pais são pessoas diferentes. Eu não precisava fazer mais do que fiz. A minha vingança era com os desgraçados. Minhas narinas inflam em uma risada um tanto sarcástica. — Ela tem. E ela sempre vai ter. Dante me encarou por segundos o bastante para fechar suas pálpebras e rastejar a sua mão na face. Até que um silêncio íntimo chegou, e com ele veio o que pareciam soluços entalados. — Os seus pais choraram na minha frente, implorando para que eu não os matasse por causa dela.
— Sua voz saiu trêmula como se as palavras se atropelassem. Dante estava pequeno. Arruinado. Transtornado. Era uma versão dele que eu repugnava.
— Eles falaram que seriam melhores se eu desse oportunidade. Eu hesitei. Ponderei se valeria a pena seguir em frente e, mesmo depois de matá-los, senti algo que nunca pensei.
— Você se arrependeu — completei, estalando o céu da boca em um ato de raiva. Arrependimento não deveria caber no nosso vocabulário. Ninguém soube o que era piedade quando se tratou da nossa vez. Então, nenhum dos cinco deveria ponderar em agir. Se era pelo nosso objetivo, deveríamos ir até o fim sem remorsos. Mas Dante tinha se arrependido por causa de uma fedelha maldita. Um pedaço de carne que ele certamente só queria enfiar o pau dentro e perder seu maldito cabaço. Ele estava se perdendo por causa dela. Ele chorava por causa dela. No entanto, assim que Dante retornou seus olhos à conversa, a minha perna foi mais rápida. O chute em seu queixo fez com que ele caísse, mas não o dopou a ponto de não revidar. Assim que o puxei pela gola novamente, seu punho aterrou em minha mandíbula, obrigando-me a cuspir no chão e limpar minha boca pelo gosto do sangue que adocicou minha língua. Faulkner se levantou, mal conseguindo ficar de pé. Ele estava com a perna ferida. Talvez por alguma bala perdida durante o massacre ou uma fuga que não correu bem. Dante estava com dificuldade para caminhar.
— Você já foi visto pelo médico? — Torman disse que trataria disso — ele declarou, como se não tivéssemos acabado de partir para uma briga. Era tão comum me virar em violência, que os caras já não se importavam. Eles devolviam, nem que fosse para me dar um tiro no pé. Eu tinha uma marca para contar a história.
— Você ainda vai morrer pela sua estupidez — confessei, me colocando de pé. — Deus não seria tão bom para mim.
— Um raro riso da sua parte veio em adição. — Não quero que você pense que me arrependi para sempre. Foi algo passageiro.
— Depois do chute que te dei, espero que tenha sido um devaneio. Dante sorri sarcasticamente. Minha feição não mudou desde que cheguei.
— Nós ainda vamos seguir com o plano. Quando chegar a hora de nos reunirmos de novo, Torman vai te contatar como hoje — ele explicou.
— Os outros querem fazer parte também. Você é o único que falta, Van Doren. Você tem uma vingança para cumprir, certo? O assassino dos seus pais precisa de um fim. É por isso que você não está matando ninguém. A sua primeira morte será para eles. Suas palavras eram um convite escrito com cheiro de mortos e sangue. O tipo de convite que causava fome em mim. Que instigava meu lado selvagem a despertar como um animal rugindo de sede. Ao contrário dos outros, a morte não tinha me escolhido. Eu a escolhi. O meu objetivo era me encontrar com ela quando conhecesse o assassino dos meus pais. Aquele que os colocou debaixo da terra quando eram apenas velhos ingênuos e inocentes, que apenas procuravam por um filho sequestrado por uma rede de tráfico humano. A Fábrica. No entanto, não tive nenhum sinal dele. Mas eu caçaria. Não desistiria de caçar para que assim eu desse a liberdade à minha consciência e derrotasse o vazio que vivia dentro dela. Eu merecia isso. Acumulei um pouco de ar em um arquejo exaustivo, escondendo minhas mãos nos bolsos da calça pelas feridas nos metacarpos que ainda ardiam. Pela força que centrava em meu punho, era capaz de estar criando uma abertura maior da carne nos meus dedos.
— Você tem que prometer que não há nenhuma traição da sua parte — propus.
— Tudo o que fizer, vai passar por nós. Tem que passar por mim também. Não sou um cachorro, Dante. Muito menos um filho da puta covarde que não trataria de você em segundos.
— Se é para estarmos nisso, estaremos até morrer — ele declarou.
— Não haverá traições. Não haverá fugas. A minha morte é de cada um de vocês. E a morte de cada um é minha também. Então, eu assenti. Não tinha para onde ir. Eles eram a única coisa que alimentava a minha consciência. A vingança. O assassino dos meus pais. A Fábrica. Tudo isso era o gás que a minha mente precisava. O que completava um pouco do vazio que eu tanto sentia há anos. A punição que eu sentia que merecia.
— Quando você estiver de volta à ativa, avisa — respondi, chutando uma pedra que caiu pela rampa. — Pode deixar. Não deixamos espaço para mais conversa. Decidi retornar para casa, sabendo que a minha avó estaria preocupada com a minha ausência repentina. No entanto, uma voz esganiçada fez uma visita rápida, me parando no meio do caminho e me obrigando a virar.
— Antes que eu me esqueça, tenho uma mensagem para você — disse, forçando Dante, que apreciava a noite fria que governava a cidade, a me encarar.
— Cullbert quer que você passe por cima dela antes de mexer com a Emília. Dante deu de ombros.
— Resolva você esse problema. Já me basta o meu. As minhas sombras pareciam ganhar vida. A escuridão da minha mente quase engolia a minha consciência, que já não era uma garota perdida, e sim algum tipo de animal que desejava caçar. Eu queria caçar. Queria saber qual o gosto daquela fedelha e a força com que seus dentes mordiam o seu lábio até ela extrair aquele sangue vermelho vivo que escorria como vinho. E que métodos eu teria que usar para poder ver em outras partes do seu corpo. Kayleen Cullbert poderia ser um experimento. Um brinquedo que poderia divertir as minhas sombras quando elas estivessem entediadas. Quando elas precisassem de um corpo para torturar e arruinar, assim como a minha mente já era por mim.
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OBLÍVIO
RomanceEm cada mente, existia uma besta faminta por dor que precisava se torturar para conseguir sentir a vida fluir em suas veias. Cole Van Doren era obcecado por essa tortura. A Morte o atormentava durante a madrugada, caçando pelo seu lado obscuro que d...