how the seasons change.

um.

          Hades tinha ouvido falar como as coisas estavam mal no Mundo dos Vivos.

Mesmo após a Gigantomaquia, a batalha aterradora que garantiu a vitória dos deuses sobre os nascidos da terra com a ajuda do herói Hércules, os gigantes restantes eventualmente sublevavam-se e causavam problemas.

Por dias, Hades absteve-se do conflito, resignando-se a manter seu trabalho no Mundo dos Mortos inalterado, encarregando-se de cuidar das novas almas que surgiam diariamente no Submundo, especialmente durante o novo combate, que ceifou um maior número de vidas mortais e imortais.

Porém, até o Deus dos Mortos tem seus limites. Quando Zeus enviou o filho Hermes pessoalmente, o Mensageiro dos Deuses, ao palácio subterrâneo, com um pedido quase humilhante, além de sentir seu ego ser massageado, Hades entendeu a gravidade da situação.

"Tio, os gigantes estão triunfando sobre os deuses, estamos tendo baixas diariamente. Precisamos da sua ajuda, Jungkook. Zeus tem medo que, sem sua presença, os deuses sejam subjugados aos nascidos da terra", ele havia dito em um tom próximo ao desespero, com as palavras atropelando umas às outras.

Hades muitas vezes esquecia de seu nome imortal: Jungkook. Como um deus, ter múltiplas nomenclaturas, diversos apelidos e, especialmente em seu caso, no qual os mortais temiam pela própria vida ao proferir seu nome divino, era normal ele esquecer de seu real nome, dado pelos seus pais em seu nascimento. Cada deus tinha o nome que os mortais conheciam, Hades, Zeus, Poseidon, Apolo, Hermes, etc., mas também tinham seu nome imortal, Jungkook, Namjoon, Seokjin, Hoseok, Taehyung...

O nome imortal não era algo do conhecimento humano e deveria ser mantido assim, uma vez que era algo extremamente poderoso e frágil ao mesmo tempo, pois colocava o deus na posição de apenas um filho, irmão, tio... Remetia a sua parte humana em sua imortalidade, ao fato de que um deus, assim como um humano, também tinha parentescos, vínculos invisíveis e inquebráveis que o ligavam a outros e, portanto, emoções humanas, que o tornavam muitas vezes tão humano quanto um mortal poderia ser.

Deixando de lado a surpresa de ser lembrado de seu nome imortal, já que estar sozinho no Submundo tornava até o som da própria voz um fato desconhecido pela falta de uso, Hades voltou a encarar Hermes, escondendo seus sentimentos íntimos das suas feições.

Embora o "enaltecimento" de Hermes tenha sido muito bem calculado em suas falas, o Deus dos Mortos sabia que essas não haviam as palavras de seu irmão, Zeus.

"Taehyung, não seja tão leviano com as palavras que usa". Jungkook franziu os lábios e encarou o sobrinho. "Elogios podem ser um pontos fracos dos deuses, mas Namjoon, como Rei dos Deuses, jamais faria um pedido tão... vergonhoso".

Taehyung desfez a feição preocupada e abriu um sorriso que fez um brilho quase malandro em seus olhos castanhos cintilar. Ele cruzou os braços e tombou levemente a cabeça para o lado.

"Apesar de todo esse tempo longe do contato com os corações pulsantes, vejo que Hades continua tão afiado em suas análises quanto em tempos passados". Entretanto, aquela pose despreocupada e praticamente afrontosa se desfez, e Hermes tomou uma postura séria. "Posso ter tentando persuadir você, tio, mas nós dois sabemos que eu jamais viria até aqui se meu pai não estivesse realmente preocupado e precisássemos de você".

Taehyung, conhecido pelos mortais como Hermes, era o deus da astúcia e esperteza, uma criatura divina tanto em aparência quanto nas suas habilidades engenhosas de convencimento e de comunicação. Os mortais viam no Mensageiro dos Deuses uma figura trapaceira, o que não era de todo o engano, mas o deus viajante era muito mais que isso. Ele era um mestre na manipulação, principalmente dada sua inteligência rápida, sempre pronto para usar de subterfúgios quando necessário. Porém, a mente humana é muito reduzida à dicotomia de "bem" e "mal" e não entende que nem tudo que é amoral é, portanto, imoral.