Ela estava sentada no armário da cozinha, as pernas negras de fora pois estava de saia, os cachos acima e o sorriso. Tanta naturalidade para dizer a urgência médica que tinha.
Parado com as mãos no bolso, o silêncio o tomou, cerrou seus lábios, confundiu sua cabeça. Sua mente era tão intelectual, mas naquele momento as palavras sumiram, tomado que estava de preocupação.
Queria esganá-la. Por que não havia o dito antes? Como você pode ser tão atrevida, menina? E não ter medo disso diante da vida?
E o rosto dela manteve-se natural.
-Eu sabia que você tinha algo a dizer, deveria ter desconfiado! Aliás desde o parque eu percebi.
-Talvez você não devesse se preocupar com isso, querido. Tudo acontece como tem que acontecer, o importante é que é mágico o tempo que estamos juntos. Agora, se quiser acabar com tudo isso, existe uma cura para tudo isso, fica no valor de vinte e sete mil.
Inquietou-se. Foi até ela. Não gostava de surpresas. Como assim não tinha com o que se preocupar?
-Porra, e por que você não disse isso antes?
-Ora, como eu te disse: estávamos vivendo um momento mágico juntos, eu só queria aproveitar, será que eu não podia? Eu não podia viver um romance como eu sempre quis?
Ela o abraçou. Não podia perdê-la. E amando ela cada vez mais. Aquilo não podia parar. Ela encontrava um refúgio nele, em seus braços fortes. Ele encontrava um consolo nela.
Foi um corte em toda a fantasia que estava vivendo. Até parecia um jogo e um corte forte da vida, qual ele estava vivendo um amor e do nada foi levado para a triste realidade, o qual o fez pensar na escuridão da noite e da morte.
Daí, ela sorria, a bendita sorria. Sim, ela sorria. Não, não estava preocupada, estava vivendo somente o presente. De onde tiraria vinte e sete mil para fazer uma cirurgia, afinal?
O que precisava era somente unir forças para os próximos dias. Para de repente, conseguir aquele dinheiro, pois era uma hora de ajudar e cuidar dela.
Mas o baque era maior do que decisão que pudesse tomar, e mulheres como ela viviam a vida como se ela fosse uma aventura. Não se preocupava, como que já entregue. Ela já estava passando dias em sua casa, não era?
