Bailando com o Rei

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Naquele ponto, até o sol se refugiava do penar mortificante das almas derrotadas, se ocultando sorrateiramente pelo horizonte. A escuridão da noite aparecia, à medida que o reino negrume ficava mais forte, mais indestrutível do que já era. O rei estava a um passo de mim, o exorbitante soberano do reino negrume, com uma aura aterrorizante de tremer os ossos. Era assim que o eu, o rei da luz, me sentia ao olhar em seus olhos. Meu corpo coçava e agoniava em um terror mórbido. 

     A batalha era silenciosa, sem gritos, mas com muita dor, apenas peças eram sacrificadas, o povo fazia de tudo pelos seus respectivos reis. A declarada guerra foi iniciada pelos cavalheiros da luz, ficando cada vez mais sangrenta. Tantas pessoas morrerem... Peões desnutridos, feridos, cansados, assolados de medo e solidão, vi o brilho nos olhos de alguns, como um fio de esperança de que continuariam vivos em minha piedade misericordiosa. Mas, em guerra, ninguém liga para as pobres almas humanas segurando suas grandiosas espadas. Me obriguei a matar todos.  

     Também, vi outros implorarem pela morte, se ajoelharem sob meus pés e berrarem para que eu acabasse com seu sofrimento. O rei da noite nem sequer ligava para seu povo, conseguia ver seu olhar de desgosto com o cheiro de medo que exalavam. Eu engoli o seco, sentindo o pouco de fôlego que me restava se arrastando pela garganta, os olhos vazios e negros me fitavam indiferentemente, mesmo que um minúsculo pontinho de luz pudesse ser observado.  

     As histórias não mentiam, ele era sádico, angustiantemente cruel. O Rei, chamado de Sasuke Uchiha, amava ver o sofrimento alheio, como se isso fosse maior que sua vontade de salvar a sua esposa, que salvar o seu império. E, naquele momento, ele deu um passo ao lado, se pondo na casa em minha frente, percebi o olhar determinado fixo no meu. 

     — Xeque. — Falou calmamente, senti meu coração parar por um segundo. Não apenas de medo, mas também, porque sua voz era a coisa mais linda que já vi na vida. Era perfeita, simplesmente perfeita. E, o observando mais de perto, percebi como cada pedaço nele era lindo, como se fosse esculpido diretamente por Afrodite.  

     Uma pele tão branca quanto a neve, quase como se nunca tivesse pegado sol. Seus olhos, anteriormente vazios, pareciam como a galáxia, escuros e repletos de estrelinhas pequenas. O cabelo do Uchiha era preto, o preto mais escuro que já vi na vida, ele vestia uma roupa absurdamente tenebrosa.

     Assustadoramente lindo. 

     — Não há mais saída, é mate. — Escutei um bispo da luz falar, com sua voz embriagada de lágrimas. Percebi que já era tarde quando ouvi o choro de minha rainha, Hinata, as lágrimas grossas se atropelavam umas nas outras como uma melodia desordenada. Os peões largavam suas espadas, derrotados e cansados, se entregavam à morte tão facilmente quanto entraram naquele campo.  

     Ninguém esperou o grito de vitória dos negrumes, eles apenas permaneceram inexpressivos, aguardando a ordem do rei. Mas ela não chegou. 

     — Não vai me matar, princesinha? — Perguntei, erguendo minha cabeça com um sorriso irônico e um tom de desafiador. Eu vou morrer? Sim, mas vou morrer com honra.  

     Escutei um som delicioso sair de seus lábios, eles se encurvaram para cima, seus olhinhos brilhavam quando ele riu. O som quase inexistente de tão baixo, mas foi o suficiente para assustar a todos presentes no tabuleiro.  

     — Não seja idiota, você quem começou essa guerra. Só está piorando a sua situação, princesinha. — O tom saiu quase ácido de tão maléfico, se arrastando levemente ao proferir a última palavra.  

     — Acabe com isso logo, ninguém suporta os seus joguinhos, nem sequer o sua própria rainha. — Falei, olhando diretamente para a mulher de cabelos rosados, com um vestido preto se pendurando em seu corpo. Ela tinha um olhar severo, transbordando em ódio. 

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