Capítulo 1

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É véspera de Natal

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É véspera de Natal. O fim do ano se aproxima, e Seattle brilha como um pinheiro natalino gigante. Luzes adornam cada avenida, e os prédios, decorados até o último andar, parecem competir em beleza. A neve cobre as árvores nas ruas, criando um cenário que poderia facilmente sair de um cartão de Natal. Sempre adorei essa época do ano, especialmente desde que me mudei para cá. Seattle é agitada, vibrante — um contraste gritante com a cidade para onde estou indo. Forks é um lugar tranquilo, quase intocado, onde todo mundo se conhece pelo nome. É lá que meu pai mora, e é para lá que estou indo passar as férias de fim de ano.

Recentemente, fiquei sabendo que minha meia-irmã, Bella, está morando com ele. Trocamos algumas palavras por telefone, e ela me contou que já está lá há um tempo. Falando a verdade, não me empolguei muito com a notícia.

Nunca tivemos muito contato. Crescemos em realidades diferentes, com casamentos e famílias separados. Eu sempre fui a filha mais velha de Charlie, o que me fazia sentir uma responsabilidade maior. Quando Bella e a mãe dela, Renée, foram embora para Phoenix, eu tinha quase três anos. Desde então, minha vida foi em Forks, até sair de casa depois do ensino médio para estudar em Seattle. Já Bella... Ela passou pouquíssimo tempo com a gente. Sua mãe se cansou rápido da vida pacata de Forks, e eu não a culpo. Nossa cidade pode ser tranquila demais para quem busca algo mais. Até porque também foi algo que fiz com muita convicção.

Minha realidade agora é tão diferente da deles. Passarei apenas um curto período junto a eles, mas o contraste entre o mundo de onde venho e o que deixei para trás me faz sentir... estranha. Mesmo assim, amo meu pai, e estou feliz por estar voltando para casa. Dois anos longe. Isso é tempo suficiente para que tudo pareça diferente. Horas, dias, anos que se acumulam até virar uma distância que, às vezes, parece impossível de encurtar. E sim, eu sinto falta — uma saudade que parece agarrar meu peito de repente — de estar naquela cidade onde cresci, onde aprendi a viver.

Seguro a passagem de avião entre os dedos. O papel está frio, quase congelante, ou talvez seja só o que estou sentindo por dentro. Semana retrasada comprei essa passagem, e agora, aqui estou, sentada em um banco qualquer do aeroporto, esperando em silêncio. O burburinho ao redor parece distante, como se estivesse submersa. Não ouço os anúncios, nem o som de malas arrastadas pelo chão. Apenas o silêncio dentro de mim, aquele que cresce em dias como este, quando estou sozinha com meus pensamentos.

Faz frio. Muito frio. Sinto a brisa cortante entrar pelas portas automáticas do aeroporto e me envolver. É uma sensação familiar. Como o frio de Forks. Eu gostava daquele frio — sempre gostei. Era como um abraço, algo que me fazia sentir viva. Nunca fui muito fã do calor. O calor traz desconforto, agitação, enquanto o frio... o frio acalma. Me lembra de quem eu sou.

Meu voo é chamado e então me levanto finalmente daquele banco desconfortável, pego minha mala que está pesada o suficiente para que eu possa fazer uma careta, meus dedos estão congelando enquanto caminho agarrada a alça da mala. Já caminhando para dentro do avião me sento na poltrona onde me sinto confortável e me permito relaxar. A viagem até Forks não é longa e não me da tempo de tirar algum cochilo dentro do avião. Pousarei em Port Angeles onde esperarei meu pai ir me buscar.

Estou prestes a surtar aqui, me sinto nervosa, quase pulando de felicidade por finalmente rever meu velho. Mas, ao mesmo tempo, estou tão insegura... tenho medo de que tudo tenha mudado entre nós. Éramos uma dupla e tanto, mas agora já não sei. Faz tanto tempo que não o vejo. Mesmo Seattle não sendo tão longe, nunca consegui ir até lá, nem ele vir até mim. Parecia uma perda de tempo, eu nunca conseguiria dar a atenção que ele merecia se viesse me visitar. E isso dificilmente aconteceria, já que Charlie está sempre ocupado na delegacia. Meu pai é o xerife de Forks, o que complicava um pouco nossa comunicação quando eu morava aqui.

Liguei para Charlie faz uns trinta minutos, falei que tinha chegado em Port Angeles e o esperava em frente a lanchonete que sempre vinhamos.

Costumávamos vir aqui em alguns finais de semana e almoçar alguma porcaria nessa lanchonete, a nostalgia de estar tão perto de casa me agarra e não parece querer soltar, minhas lembranças de uma adolescente rebelde que fazia de tudo para não se sentir sozinha, ou uma criança feliz com nada a se preocupar, essas memórias são as que aquecem meu coração, lembranças que nunca vou esquecer, porque me fazem sentir o amor e a felicidade que eu vivi ali.

Enquanto estava sentada no banco em frente à lanchonete, avistei o carro da polícia de Forks se aproximar. Meu coração deu um salto tão grande quanto eu quando vi meu pai sair do carro. Ele estava exatamente como eu me lembrava quando saí daqui. Não consegui esperar que ele se aproximasse — corri na direção dele e tentei não abraçá-lo com tanta força, mas foi impossível.

Naquele abraço, senti que finalmente estava em casa novamente. Longe da correria de Seattle, mesmo gostando de viver lá, percebi que aqui era o meu lugar. Aqui, nos braços do meu pai, eu me sentia completa. Ele é a minha única família, e, naquele momento, tudo parecia certo de novo.

- Senti sua falta, querida. - ouvi papai murmurar, ainda com a cara enfiada em meu pescoço. Quis chorar.

- Também senti sua falta. Nem acredito que finalmente estou aqui,- consegui dizer, com dificuldade pelo esforço em não chorar. Não estava mentindo; foi tão complicado vir para cá que agora estou surpresa por ter conseguido. O abraço se desfez com minhas palavras.

Papai tem cabelos castanhos escuros, mas eles estão começando a ficar grisalhos. Isso me faz pensar que eu deveria passar mais tempo com ele. Charlie sempre foi muito calado, na dele, mas nunca deixou de me proporcionar tudo o que uma criança precisa.

O vento gelado cortou meu rosto, puxando-me de volta para a realidade e me lembrando que meu pai estava ali, ao meu lado.

- Como você está, papai? Já faz um tempo, hein? - Perguntei, enquanto ele me olhava com aquele sorriso discreto.

- Claro que estou bem. Firme e forte! - Charlie respondeu, erguendo as sobrancelhas e abrindo os braços como se quisesse se exibir. - Veja só, seu pai ainda não está numa cadeira de rodas.- Ele soltou uma risada suave, e eu sorri. De vez em quando, ele deixava escapar esse lado bem-humorado. Eu adorava isso.

Rindo, resolvi entrar na brincadeira: - Com certeza! Vamos deixar essa função para o velho Black, o que acha? - Arqueei as sobrancelhas de volta, provocando, e percebi que o sorriso no meu rosto não ia embora tão cedo. Por alguns dias, acho que eu ficaria sorrindo como uma boba para tudo.

Charlie acabou por pegar minha mala e coloca-la no carro, para que possamos ir para Forks.

Já dentro do carro, papai me contou que Bella tinha saido com Jacob Black e que provavelmente estaria em casa quando chegássemos, me contou também que Bella está passando por uma fase muito complicada e que está sendo difícil para ele manter tudo em ordem. Sinto que Bella precisa de alguma ajuda psicológica e não de um namorado mas papai insiste em jogar ela para o Jake ou sei lá, forçar alguma amizade. Jake era um pirralho quando sai daqui mas ainda sempre gostei da sua companhia, é um bom garoto.

Ficamos em silêncio a maior parte do tempo só apreciamos a companhia um do outro em silêncio assim como antigamente. É parece que algumas coisas não mudaram.

A estrada para Forks sempre me trouxe uma sensação de nostalgia. O ar frio, o céu nublado, as árvores altas cobrindo o horizonte... É como voltar no tempo. E talvez seja isso o que eu mais preciso agora.

Chegamos em casa e eu estava finalmente aliviada porque agora estava tudo mais leve, eu estava bem e está tudo correndo muito bem. A casa que estava em minha frente estava exatamente igual, a mesma cor a mesma casa em que cresci. Me sinto em casa agora.

Eu estava ótima, quem não está no momento é Charlie.

Bella não estava em casa.

𝐒𝐨𝐦𝐛𝐫𝐚𝐬 𝐐𝐮𝐞 𝐃𝐚𝐧𝐜̧𝐚𝐦- 𝓙𝓪𝓼𝓹𝓮𝓻 𝓗𝓪𝓵𝓮Onde histórias criam vida. Descubra agora