Prólogo: ᴛᴏʀɴᴇ-sᴇ ᴏ ᴄᴏʟᴇᴛᴏʀ ᴅᴇ ᴀʟᴍᴀs

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A escuridade o prendia numa cela solitária e cheia de opressores famintos por sofrimento. Ele sabe. Sabe mesmo. Foi sentenciado ao perpétuo exílio. Os olhos tão acesos se apagaram em meio ao brando cinza da cela. Eles são de um vermelho matador, sensual e de um brilho ufano num claro desafio de uma brava aproximação. Agora, no entanto, ele pertencia àquele local, no escuro.

Seus pés doíam com a posição de cócoras, mas ele não se levantou pois as paredes são pontiagudas demais para que ele se apoiasse no espaço apertado. Fez xixi há poucos minutos atrás, então o fedor o incomodava levemente. Já se passaram quatro semanas. Cada vez mais ele esperava a morte, mas infelizmente, um demônio não é capaz de morrer.

Para sua surpresa, a porta pesada da cela se abriu e revelou um dos servos de Lúcifer. Com os olhos opacos e expressão imparcial, o homem o chamou com um aceno.

- Jeon Jungkook. Nosso soberano o convocou para uma reunião. Tente parecer no mínimo apresentável - o carrasco, coberto por uma capa preta que submerge o corpo monstruoso, atirou-lhe um conjunto de roupas limpas. - Assim que terminar, me acompanhe.

Jungkook não respondeu, apenas se despiu e enfiou o corpo fraco na roupa. Eles chamam isso de apresentável? De qualquer forma, ele ficou bem escondido nas roupas escuras. O cabelo curvado nas pontas já atingia o queixo, então o prendeu com um rasgo da calça.

- Estou pronto.

Seu cotovelo foi puxado com violência e a lâmina de Ferro de Morgui - basicamente, a única arma capaz de machucar um demônio - cutucou suas costas. A tensão aumentou. Alguém sairia morto daquela interação, e Jungkook garante que não seria ele.

De fato, Jungkook chegou sozinho ao encontro com Lúcifer, melado de sangue preto e pedaços de carne podre presos nas unhas. Os guardas - gárgulas irritadinhas - o barraram.

- Moleque, quem foi que você estraçalhou? - perguntou a invocada Hilda.

- Eu vou precisar limpar a sujeira depois. Oh, Deus - Harald lamentou, até se tocar do que falou. - Quer dizer! Oh, enxofre!

- Cara, você fala cada coisa. Está usando uma expressão sobre o cheiro do inferno? - Jungkook limpou as mãos nas calças sujas. - Me deixem entrar. Seu chefe quer me ver.

- Vai com Deus - Harald errou novamente, então Hilda meteu a mão na boca infestada de dentes pontiagudos dele. - Foi sem querer, mulher!

- Você já me irritou demais só hoje, não me testa.

Irritado e impaciente, Jungkook abriu a porta por ele mesmo. E o que dizer do todo poderoso? Uma poderosa figura. Chifrudo, pele clara, dentes perfeitos, boca saborosa, boa aparência. Lúcifer é bonito, mas apenas para aqueles que quer, e no momento, Jungkook era uma dessas pessoas.

- Fala, Lulu - cumprimentou com casualidade, indo até ele. - O que manda, meu lorde?

Lúcifer grunhiu e bateu com seu cajado na cabeça de Jungkook, que resmungou um xingamento.

- Se você não fosse tão útil, eu arrancaria sua cabeça.

Jungkook o olhou de baixo.

- Admita, Kim Taehyung, mesmo que eu o tenha desobedecido, você ainda gosta de mim com essa rocha de vulcão que chama de coração. Mas, sabe, me enfiar nessas roupas foi maldade.

- Eu sou a própria maldade, Jungkook - Taehyung desceu de seu trono e se aproximou do delator. - Foi ousado de sua parte trair-me, Jeon Jungkook. Mesmo com toda a mordomia, toda a confiança, toda a...

- Você me dava bebida e puta, não é como se eu fosse tão privilegiado assim - Jungkook deu de ombros e recebeu outra cajadada no crânio. - Caralho, Taehyung! Isso dói!

- É para doer - ele tocou a testa de Jungkook e seus olhos brilharam em rubro. Jeon temeu o que viria. Ele sentiu sua vitalidade demoníaca ser sugada pelo dedo colado em sua testa. Então, caiu de joelhos. - Você não é mais meu discípulo, Jungkook. Você me servirá com outra função - Taehyung deu dois passos para trás e usou a mão direita para invocar uma sombra, logo ela se revelou como um homem alto e de músculos salientes.

- Por que... - Jungkook tossiu, enfraquecido. - Por que Namjoon está aqui?

- Ele irá auxiliá-lo.

- Em quê?

Taehyung, simplesmente, bateu o cajado no chão e pequenas esferas cinzentas ergueram-se do chão - rodeado de lava e cheirando a enxofre - para penetrar o corpo de Jungkook, dando-o de volta à sua vitalidade. Mas ele não era mais um demônio.

- Estas são amostras do que irá fazer por mim - Lúcifer se aproximou e tocou o queixo dele, perfurando as íris brilhantes de Jungkook com seu brilho poderoso. - Lhe proclamo, agora, o Coletor de Almas.

Uma força possante tomou conta dele e sua boca entreabriu, permitindo que Taehyung o beijasse e passasse uma gama de poder amargo para sua garganta. Quando foi solto, Jungkook sentiu que seu coração inativo voltou a bater.

- Seu trabalho é simples - disse Lúcifer. - Vai usar dois objetos. Este - uma katana surgiu na mão direita dele - e este. - Uma esfera transparente surgiu na esquerda. - Com eles, irá perambular pela Terra para coletar as almas de pecadores selecionados. Foi uma burocracia enorme, mas o Cara lá de cima deu permissão para que isso acontecesse. Você sabe, não posso fazer essas coisas por mim mesmo - deu de ombros com uma expressão entediada. - Namjoon irá acompanhá-lo como meu informante. Não tente driblá-lo, ele estará ciente de cada passo seu na Terra.

Jungkook assentiu e olhou para Namjoon por alguns segundos.

- Então, eu preciso matá-los? - Jungkook perguntou, recebendo os objetos em suas mãos. Imediatamente, a cor avermelhada de seus olhos foi substituída por um verde claro e ofuscante.

- Obviamente - disse Lúcifer. - Eles não merecem vida - Taehyung respirou fundo, o cheiro do inferno foi sugado pelas narinas simétricas, assim como todas as suas proporções. - Bem, essa parte eu não contei ao carinha, mas tenho certeza de que Ele não irá se importar.

Lúcifer o olhou da cabeça aos pés.

- Não, você não se vestirá assim. Precisa matar com estilo.

Ele ergueu a mão e um redemoinho engoliu Jungkook, puxando suas vestes e as substituindo rapidamente. Segundos depois, ele foi liberto.

- Veja-se - Taehyung deu um espelho de corpo inteiro a ele. Jungkook ignorou as bordas de pele de bode.

Ele se admirou. Um traje preto, de tecido pesado, porém nada calorento, se ajustava ao seu calor corporal. Pulseiras que eram como correntes. A katana se teletransportou para as suas costas.

- Ela não será vista por ninguém - Lúcifer disse ao notar a confusão de Jungkook - Apenas por você.

Assentindo, ele voltou a olhar para o espelho. Notou um broche metálico no peito. Não precisava perguntar. Era o símbolo de adoração a Lúcifer. Porém, era proibido descrevê-lo a qualquer criatura, nem mesmo ao próprio Lúcifer. Então, não olhou para ele por muito tempo. E então, quando iria deixar de se olhar, prendeu os olhos numa corrente que prendia seu pescoço. Quando tocou-a, tomou um choque.

Taehyung riu.

- Acha que confio em você? - Lúcifer disse com deboche. - Não adianta tentar tirar, é impermeável ao seu poder. Explicando sobre este objeto, isso vai te queimar com a lava do inferno se acabar matando um inocente. O Cara lá de cima deixou bem claro, mas a parte da queimadura veio da minha parte - Taehyung sorriu, mostrando as presas compridas.

- Como vou saber quem é inocente ou não?

- A esfera irá lhe avisar. Agora, vá.

Então, Namjoon e Jungkook foram sugados por um furacão. E de repente, estavam no meio de uma boate.

- Aqui é nossa primeira parada - Namjoon avisou. - Boa sorte. Se fizer algo de errado, tenho permissão para puní-lo - então ele desapareceu.

Jungkook encarou a multidão, a esfera acendeu quando uma mulher de vestido vermelho passou por ele.

- Certo - ele sorriu malignamente. - Vamos começar.

E assim se iniciou a jornada do Coletor de Almas.

Sinner | YoonkookOnde histórias criam vida. Descubra agora