Um pensamento estranho... fraldas

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"De novo."

O pensamento foi a primeira coisa que me atravessou a mente assim que abri os olhos naquela manhã. Estava escuro no quarto, como sempre. A cortina pesada que cobria a janela nem deixava o pouco sol da manhã passar. Me mexi na cama, sentindo o lençol frio e úmido sob mim, e um arrepio de frustração percorreu meu corpo. Já era a terceira vez naquela semana. O cheiro não demoraria a se espalhar pelo quarto, e Ethan voltaria logo. Não podia deixar que ele visse isso.

Levantei com cuidado, me movendo devagar, tentando não fazer barulho. O chão de madeira rangia sempre que eu pisava com força, então aprendi a me mover como um gato, silencioso, invisível. Mesmo com Ethan fora, eu sentia a necessidade de me manter fora de vista. Sempre fora assim.

"Preciso limpar isso antes que ele volte."

Olhei para o relógio na parede - os ponteiros marcavam nove e meia da manhã. Sábado. Isso significava que Ethan provavelmente não voltaria antes do meio-dia, com sorte. Ele devia estar em alguma festa, bebendo, ou... não me importava. Na verdade, era até um alívio quando ele não estava aqui. A casa parecia menos opressiva. Sem ele por perto, eu conseguia respirar, mesmo que por algumas horas.

Eu me movi rápido, jogando o cobertor em cima do travesseiro e tirando o lençol da cama. Já estava acostumado a esse ritual. Levei o lençol úmido até o banheiro e o joguei dentro da pia. O apartamento era pequeno e sujo, com paredes amareladas e móveis velhos, muitos deles quebrados. Havia uma pilha de roupas no canto da sala, um cinzeiro transbordando de pontas de cigarro ao lado do sofá, e o cheiro de fumaça parecia impregnado em tudo. Mas o banheiro era o pior - a luz piscava como se estivesse à beira de apagar, o chão sempre estava molhado de algo que eu preferia não saber o que era, e o cheiro de mofo se misturava com o de produtos de limpeza vencidos.

Fiquei ali, olhando para o lençol na pia, tentando entender como as coisas tinham chegado a esse ponto. Como é que eu, Zayn Kain, tinha acabado assim? Lembro de quando mamãe ainda estava aqui, de como o apartamento era diferente. Sempre limpo, com cheiro de bolo de chocolate nos fins de semana. Eu e Ethan éramos diferentes também. Ele era o irmão que eu admirava, o cara legal que me protegia dos garotos mais velhos na escola. Agora... ele é só alguém que eu evito.

Suspirei, esfregando os olhos. Sentia um cansaço constante que parecia fazer parte de mim. Uma exaustão que não vinha só do corpo, mas da mente também.

"Talvez eu devesse contar para ele", pensei, mas logo descartei a ideia. Não. Ethan não ligaria. Pior, ele ficaria bravo. Ele já ficava furioso por qualquer coisa. Outro dia, quando derrubei um copo de suco na cozinha, ele gritou tanto que fiquei tremendo por horas. Não, ele não podia saber disso. Eu já era problema o suficiente pra ele.

Enquanto tentava dar um jeito no lençol, a porta da frente fez um barulho alto. Meus músculos travaram. Ethan? Ele não deveria estar de volta tão cedo.

"Zayn!"

A voz dele ecoou pela sala, rouca, já carregada de irritação. Ele estava de volta. Eu não sabia o que era pior - o fato de ele estar bêbado ou de estar sóbrio. Na maioria das vezes, quando estava bêbado, ele simplesmente me ignorava, mas quando estava sóbrio...

"Zayn, cadê você?"

Seu tom de voz era impaciente. Meu coração disparou, e eu me vi encolhendo, como sempre fazia quando ele chegava. Não era só o medo do que ele poderia fazer, mas a sensação de estar constantemente fora do lugar, como se eu fosse um erro que precisava ser corrigido.

"Estou no banheiro", respondi, minha voz baixa. Eu odiava o som da minha própria voz quando falava com ele. Era como se estivesse sempre implorando para não ser notado.

Entre Lençóis MolhadosOnde histórias criam vida. Descubra agora