Capítulo 2

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Melina:

Melina, desce e vem tomar o café da manhã — Escuto os gritos insistentes de dona Maria atrás da porta.

Rolo para o outro lado da cama e finjo não dar ouvidos aos gritos e batimentos incessantes na porta do meu quarto. 

Devido as diversas operações que vem sido feitas no morro, meu pai me proibiu de frequentar a escola até a poeira abaixar, ele finge se importar com a segurança da filha por algo que é e sempre vai ser de extrema responsabilidade dele até o meu aniversário de 18 anos.

É isso mesmo, quando eu completar 18 anos, serei obrigada a assumir a posição de Gerente no morro e ficar responsável pela lavagem de dinheiro.

E, por incrível que pareça, eu tinha o sonho de cursar  faculdade de Direito. Sempre me imaginei sendo juíza e decidir sobre os casos judiciais ou até mesmo ser delegada. Acontece que sendo filha do MM, isso seria praticamente impossível, então, o que me restava era apenas sonhar e acreditar que finalmente, algum dia eu estaria livre para seguir meus sonhos.

Meus dias tem sido extremamente entediantes, não tenho amigas e só saio de casa para ir até a boca com o meu pai aprender como gerenciar os traficantes. 

Antes das invasões começarem a ficar frequentes, meu pai junto de outros meninos da facção estavam me levando num galpão abandonado que fica atrás da mata do morro, para treinar meus tiros.

Eu não gostava da ideia de aos meus 18 anos entrar para uma facção criminosa mas confesso que gostava da adrenalina e de sentir o respeito que as pessoas tinham por mim.

 — Melina, querida, por gentileza, venha tomar o café da manhã — Dona Maria novamente suplica.

Resolvo fugir de meus pensamentos e atender ao pedido de dona Maria, vou ao banheiro do meu quarto prendo o meu cabelo num coque alto, calço meu crocs  e continuo com o meu pijama de gatinhos.

Desço as escadas e vejo a mesa repleta de comida, na mesa apenas dona Maria e o PP sentados conversando e tomando suco de laranja. Antes de adentrar a cozinha, meu olho percorre pelo corpo de PP que está sem camisa, com uma bermuda branca deixando a cueca a mostra. Ele tem os olhos castanhos, o cabelo é raspado como se fosse um corte militar e possui algumas tatuagens no corpo.

Ao analisa-lo, meus olhos se encontram com o fuzil atravessado em suas costas, ele sempre ficava de vigia quando meu pai precisava resolver alguma coisa no asfalto. Apesar de eu achar ele um gatinho, nunca poderíamos ter algo, meu pai era extremamente ciumento e eu temia de medo dele.

— A margarida resolveu aparecer — Diz dona Maria.

Eu reviro o olhos e sento na mesa, ficando de frente para PP, ele me analisa sem expressar qualquer reação. Foram poucas as vezes que pudemos conversar sem estarmos na presença do meu pai.

— Seu pai pediu para te avisar que hoje ele não vai voltar e eu vou ficar na segurança para que você não saia de casa — Diz o PP me olhando fixamente.

Já percebi que hoje será mais um daqueles dias entediantes.

Corações em ConflitoOnde histórias criam vida. Descubra agora