prólogo

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I got a vicious hold on these waves
I am a ritual that I crave
Unafraid
I am the crimson glow that remains
I am the nights that turn into days
Wide awake

Wide Wake - Roniit

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Eram onze horas da noite quando Teresa chegou em casa da faculdade. O ponto de ônibus mais próximo de casa ficava do outro lado de uma avenida larga, bem no meio da longa quadra. Precisava atravessar as duas ruas de duas vias e dar a volta no quarteirão por cerca de sólidos cinco minutos até chegar em seu portão. O gato rajado balançando o rabo em cima do muro a cumprimentou com um miado arrastado. Teresa não lançou-lhe mais que um olhar ao entrar.

O ar-condicionado do 013 estava pingando, como sempre, enxarcando todo o chão. Além da moto dele, havia um carro no larga e longa garagem em frente aos três apartamentos. Não importasse o quão baixo ele e sua visita estivessem tentando segurar os gemidos, o tapa de pele contra pele era alto. Mas o ronco de Roselita vindo do 014 também era alto. Teresa chegou na frente de sua porta com um suspiro, dando boas vindas ao cheiro forte de hortelã da planta pendurada ao lado de sua porta e tirou o tênis antes de entrar.

A casa, aos poucos, estava tomando forma. Todos os móveis eram de segunda mão, exceto pela sua cama. Roselita, com seus sessenta e nove anos de sabedoria, ajudou na mobilização da casa e emprestou seu nome em uma loja para que parcelasse a cama. Disse que leito era algo sagrado e que não se deveria levar ninguém para o quarto com quem não quisesse dividir uma vida.

Isso também conta para amizades. Você é jovem, não faça como esse irresponsável do 013 que trás todo tipo de gente para cá.

A pressa e o cansaço sempre a deixavam no modo automático quando chegava em casa no final do dia. Deixou a mochila na mesa sob a janela, tirou a roupa e a jogou na máquina de lavar. Nua, ligou o ar-condicionado do quarto e deixou a porta aberta para que refrigerasse todos os cômodos - o que sempre funcionava muito bem. Depois de colocar água no yakissoba de supermercado e levá-lo ao micro-ondas, foi tomar um banho rápido.

As noites de sábado eram para estudar até tarde e as manhãs de domingo inteiras para dormir. Roselita nunca faltava uma missa e depois ia almoçar na casa de uma das filhas, onde passava a maior parte da tarde, então não havia música clássica atravessando suas paredes para acordar Teresa.

Depois de vestir uma calça de flanela larga e um blusão branco gasto, enrolou a toalha na cabeça e enfiou um garfo dentro do yakissoba na mão para se sentar na mesa. Umas das primeiras coisas que tinha feito morando ali havia sido colocar cortinas black-out em todas as janelas, e foi a melhor decisão que tomou. Caso contrário, toda a luz do lado de fora estaria inundando o apartamento naquele momento. A única iluminação de sua casa naquela noite era a da tela de seu notebook e a da cozinha.

A cadeira mais próxima da porta era para refeições, já a cadeira da outra ponta era para estudos. Era lá onde Teresa estava sentada, apesar de não estar estudando, mas sim comendo e abrindo a pasta de lojas online favoritas.

Fazia tanto tempo que ela não entrava naquela loja online em específico que quase parecia a primeira vez. A sensação era a mesma, pelo menos, apesar de Teresa conhecer cada parte daquele site. Era como voltar para casa depois de uma longa viagem.

Ela passou direto por algemas acolchoadas coloridas e plugs de silicone e foi ao seu carrinho virtual. Apesar de ser adepta ao BDSM, Teresa tinha certo pré-conceito com a comunidade. Não era um hobbie para ela. Não era algo para expor em redes sociais como algo extravagante. Não era apenas um fetiche. Para ela, era apenas o tipo de sexo que ela fazia. Era normal. Era o que a deixava molhada. Era a única coisa que realmente a interessava.

Teresa sugou o lábio inferior enquanto vagava pelos seus itens. Não eram muitos, mas alguns ali não saíam de sua cabeça em relação à César.

César era perfeito. Não perfeito de uma maneira que ninguém é perfeito, mas o tipo perfeito para ela. Não era baixo, mas também não era alto. Os cabelos não eram lisos, mas também não eram cacheados, sempre haviam mechas caindo em ondas em sua testa. Usava óculos de graus muito fortes, deixando seus grandes olhos marrons ainda maiores do que o normal. A armação era redonda, preta e simples. O nariz era grande e curvo como o de um tucano, dando a impressão de seu queixo ser um pouco retraído, embora o maxilar fosse muito bem desenhado. Os lábios finos nunca esboçavam sorrisos, embora parecesse ser por pura timidez e não seriedade. Tinha sardas marrons espalhadas pela pele clara como poeira. As poucas vezes que Teresa ouvira sua voz era sempre rouca, baixa e abafada.

Para Teresa, aquele era o homem mais atraente de sua turma. De alguma forma, porém, ele nem passou perto de ser alvo de atenção do grupinho de jovens que mais se destacava na sala com suas risadas altas e perfumes fortes. Por sorte, quando elas não eram todas sorrisos para apenas um homem alto, loiro e forte que havia na turma, elas preferiam flertar com os professores e com os caras da equipe da atlética. Teresa era uma criatura ciumenta e possessiva e não tinha medo de demonstrar isso.

Isso, e todos os produtos em sua tela, a lembrou do seu último relacionamento e a maneira como terminou.

Teresa pensou em César e focou na parte boa. A sua mente fez o resto. Imaginou ele no lugar do último. Imaginou como ele ficaria amordaçado e com os óculos embaçados por lágrimas, rosto vermelho e veias tufando na testa. Imaginou aquela coleira com pontas afiadas no couro interno o sufocando enquanto ela sentava sem parar, a ponto de ele sequer conseguir falar. Os gemidos que ele soltasse seriam puro ofegos molhados por ar, no delicado limite entre dor e prazer. Toda vez que estivesse prestes a gozar, Teresa ia parar. Ela imaginou o pavor e o tesão puro em seus olhos castanhos que, ao contrário de sempre tão fechados, estavam vidrados de necessidade em sua fantasia.

César tentaria manter a cabeça imóvel para a coleira não estrangulá-lo e a parte branca de seus olhos seria visível a quilômetros de distância com o esforço de encarar os seios de Teresa. Lágrimas deslizariam daqueles olhos, respiração pesada e entre cortada fazendo os músculos de seu peitoral contraírem e expandirem em movimentos hipnóticos. Ela o puniria por desviar os olhos dos dela. Esse era o plano.

Porém, Teresa não poderia ignorar sua própria excitação por mais tanto tempo. Não quando os quadris de César perseguiam os seus insistentemente, apesar das amarras que continham seus movimentos. Não quando seus próprios dedos vieram para esfregar o clitóris inchado e carente com pressão suficiente para...

O sono sempre chegava imediatamente após o orgasmo, uma nuvem preta e pesada como um cobertor. O peso do dia inteiro caiu sobre ela. O zumbido do motor da geladeira e do ar-condicionado eram tudo o que se podia ouvir além de sua própria respiração ofegante.

Já era a terceira vez no mês que enfiava a mão entre as pernas pensando nele. A primeira que se permitia ir tão longe nas fantasias. A culpa logo deixou um fino gosto amargo em sua língua.

César era perfeito por ser um garoto normal. Era tímido, respeitoso, estudioso. Teresa e sua sede sem fim adorariam quebrar aquele jovem e belo homem às lágrimas. Mas ele não era para ela, suas garras e suas correntes.

Teresa tirou a mão de dentro da calça e catou a toalha do chão para limpar a umidade dos dedos e das partes intimas. Fechou o notebook e se arrastou para o quarto, tirando as calças no meio do caminho, e empurrou a porta atrás de si.

Teresa dormiu assim que caiu na cama.

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isso é para ser um conto! tentarei atualizar toda semana para ver se essa história sai da minha cabeça. sem enredo muito sério, só sexo e devaneios. aviso: cenas de sexo em todos os capítulos (é um conto erótico, afinal), capítulos longos e personagens moralmente duvidosos e com tendências de autossabotagem.

espero que gostem! se sim, votem e comentem :)

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