Capítulo 21 - Os Demônios são CRUÉIS

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Eu não sei dizer ao certo quanto tempo passei sentada no sofá, encarando o fogo crepitante.

As chamas dançavam diante dos meus olhos, mas meu olhar estava vazio, distante.

A casa estava silenciosa, exceto pelo estalo ocasional da lenha queimando, e eu sentia como se estivesse presa naquele instante, naquele calor que não conseguia alcançar meu coração.

A imagem de meu pai, a chuva, o gatinho — tudo girava em minha mente como um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.

Minha cabeça latejava, e as palavras dele ecoavam, me deixando confusa, miserável.

Eu queria acreditar que Levi nunca faria algo para me machucar... mas e se ele estivesse mentindo esse tempo todo?

Pensei em todas as coisas que vivi ao lado de Levi... As conversas, os olhares, até mesmo os momentos em que ele parecia me proteger do mundo.

Mas, ao mesmo tempo, todas as dúvidas que surgiram na última noite começaram a me corroer.

Será que ele estava mesmo me usando?

Será que tudo isso, cada gesto de afeto, não passava de uma ilusão cruel?

Minhas mãos foram instintivamente ao colar de safira em meu pescoço.

Ele havia me dado de presente, dizendo que era um símbolo de nossa ligação. Mas, agora, ele parecia mais pesado, como se fosse uma corrente ao redor do meu pescoço.

As palavras do meu pai ressoavam: "Ele vai devorar sua alma..."

Olhei para o brilho da pedra entre meus dedos, a safira tão azul quanto os olhos de Levi.

Eu queria acreditar que ele era mais do que aquele monstro que meu pai descrevera, mas o medo começava a se infiltrar em cada canto da minha mente.

O pobre gatinho... ainda estava deitado no meu colo, encharcado e imóvel.

O calor do fogo parecia tão distante enquanto eu o segurava.

Ele parecia tão pequeno, tão indefeso, e o pensamento de que ele pudesse ter sido um demônio me rasgava por dentro.

Com cuidado, passei a mão pelo seu pelo macio, tentando limpá-lo.

Mas ele não se mexia.

Uma parte de mim queria acreditar que ele estava apenas dormindo, mas outra parte sabia da verdade.

Levantei-me devagar, segurando o corpo frágil do gatinho nos braços. Sem saber o que mais fazer, eu o envolvi em uma manta.

Não conseguia simplesmente deixá-lo ali, exposto. Ele merecia, pelo menos, um descanso em paz, longe de tudo isso.

Eu peguei o gatinho, e saí da casa.

Com passos lentos, eu caminhei até o jardim próximo à praia.

As mãos tremiam, mas eu comecei a cavar a terra molhada com os dedos, criando um pequeno buraco.

Não sei quanto tempo estive ali, ajoelhada no chão úmido, com a chuva cessando e o céu nublado acima de mim.

O vento ainda carregava a umidade do recente temporal, e o frio penetrava minhas roupas, mas eu mal sentia.

Minhas mãos estavam sujas e doloridas do trabalho de cavar a pequena cova, e o meu coração estava em pedaços.

Enquanto cobria o pequeno corpo com terra, sussurrava palavras de desculpas e lamento, como se isso pudesse fazer alguma diferença.

— Eu sinto muito — repeti, esperando que ele soubesse que minha intenção era a de lhe dar um descanso digno, apesar de tudo o que havia acontecido.

O Demônio do FarolOnde histórias criam vida. Descubra agora