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“Meninas bonitas como você não sentem dor”
Ouço a voz de minha mãe ao pé do meu ouvido, sussurrando aquele velho ditado no qual usavamos entre nós. Ao erguer a minha cabeça, sinto como se tivesse levado mil marteladas de um martelo de uma vez só, pois a dor é insuportável.
“Ai” Solto um grunhido quando sinto o meu nariz quebrado e o sangue escorrendo desde a narina até a minha boca com um pano entrelaçado em volta dela. Entro em desespero quando vejo minhas mãos amarradas para trás de meu corpo, junto com minhas pernas. Aparentemente, estou em um galpão fechado e não há som de nada. Tento desfazer aqueles laços em meu corpo, mas é em vão. As cordas foram amarradas ao meu corpo com muita força.
As lágrimas escorrem pela minha bochecha ao lembrar do que aconteceu com aquela criança. Pobre menina. Que os pais sejam consolados por esta perda imensurável. As portas do lugar foram abertas e vejo, embora a claridade do sol machucasse a minha visão, reconheço novamente aquele homem magro e fedorento com um palito de dente na lateral da boca.
— Acordou, ratinha? Temos uma longa viagem pela frente. É melhor dormir mais um pouco. — Diz, puxando uma cadeira pequena para se sentar à minha frente.
Grito em sua direção, mas minha voz é abafada com aquela mordaça em volta de mim.
— Quer falar alguma coisa? — Questiona, tirando a mordaça de meus lábios. Não perco tempo e cuspe saliva mesclado com sangue em sua cara em desprezo.
— Você não perde por esperar. — Exclamou, erguendo a cabeça — Quando o meu irmão souber o que você fez, seu assassino, vai pagar com a vida! — Ameaço em sua direção.
Observo quando ele limpa o cuspe com um lenço da camisa e coloca novamente no bolso da calça. As órbitas de seus olhos me olham com ódio e fúria. Ele vem em minha direção, até que as portas do galpão são abertas novamente e um homem, desta vez mais estiloso com terno de leopardo e um óculos verde, vem em nossa direção.
— Onde está o meu prêmio? — Questiona, abrindo os enormes braços tatuados e observando o capataz. O lugar está tão vazio que sua voz ecoa pelo ambiente. Ao tirar seus óculos de sol preto, vejo seus olhos ficarem maravilhados, mas seu semblante muda ao ver o meu nariz.
Automaticamente, se vira para o capataz.
— Imprestável! Quebrou o nariz dela. — Rosnou contra o seu rosto, agarrando o seu colarinho e encurralando o homem no canto do galpão. — Você tem merda nesses ouvidos? Eu disse que o pacote deveria estar 100% intacto se quisermos lucrar com ela.
— Ela ia fazer escândalo se eu não a apagasse — Defendeu-se com dificuldade erguendo as mãos — Queria a polícia atrás de nós? Ou pior… Vladimir — sussurrou o nome de meu irmão como ele fosse ouvi-lo. — Eu ainda por cima trouxe um brinde junto com o pacote.
— Metade dele — Corrigiu outro homem, tirando as luvas de enfermeiros cheias de sangue. — Você destruiu o cérebro e os olhos. Não deu para aproveitar quase nada, mas o resto tá de boa.
— Os órgãos da garota prestam? — Se vira para o comparsa — Caso contrário, vou ter que tirar os desse verme como pagamento pelo mau serviço. — Desta vez, agarra o maxilar do magrelo.
— Sim, pantera. Os órgãos da menina estão ótimos e intactos. Sem sinal algum de doenças transmissíveis. Vamos ganhar muito dinheiro com ela — Colocou a mão em seu ombro. — O que sobrou joguei para os cães. — Deu de ombros.
— Ótimo. Menos mau. Não estou afim de sujar o meu terno.
— Vocês são malucos! — Grito para todos — Estão falando de uma criança como se ela fosse nada. — Um nó se forma na minha garganta quando vejo a forma fria como eles se referem aquela criança. Começo a soluçar copiosamente em lágrimas.