O barulho das rodas do avião tocando a pista trouxe um alívio momentâneo a Senjuro, mas o peso em seu peito permaneceu. Ele estava finalmente no Japão, o país que sempre ouviu falar pela mãe e que, em segredo, idealizava como um refúgio perfeito. Só que agora que estava ali, tudo parecia mais intimidante do que acolhedor.
Viajou para participar de um grande campeonato de poesias, algo que começou a se apaixonar devido às influências de sua mãe, uma mulher japonesa que admirava muito a escrita antes de adoecer, passando essa paixão ao seu filho mais novo, que não demorou muito para pegar o jeito e começar a escrever seus próprios poemas sozinho.
Enquanto arrastava sua mala pelo aeroporto movimentado de Tóquio, seus olhos se fixaram em letreiros escritos em kanji, hiragana e inglês. As palavras que ele sabia ler misturavam-se às que não entendia, deixando-o com uma leve dor de cabeça. O clima também era diferente - fresco, mas não com a mesma umidade de Recife, sua cidade natal, onde o cheiro do mar sempre lhe fazia companhia.
'Vai dar certo', ele pensou, repetindo para si mesmo, mas a saudade de casa já começava a apertar. Deixou sua amada mãe para trás, adoecida, e seu irmão mais velho, Kyojuro, aguentando sozinho os problemas com o pai. Ele prometeu que venceria o campeonato de poesia e que dedicaria o prêmio à mãe, no objetivo de orgulhar a mulher. Ele precisa vencer.
No caminho para o hotel, Senjuro sentia o peso da decisão. O táxi serpenteava pelas ruas iluminadas de neon e edifícios altos que pareciam nunca acabar. Tudo era rápido demais, diferente demais. Ele sorriu, tentando manter o espírito leve. A poesia sempre fora o meio de lidar com o que parecia maior do que ele, e ali, entre o novo e o desconhecido, ela seria sua âncora.
Enquanto o taxista dirigia plenamente até o hotel que se hospedaria, Senjuro pega seu caderninho de poemas, para tentar se acalmar de toda aquela ansiedade do novo.
"Lanternas brilham como estrelas ao alcance,
passos apressados dançam sem direção.
O vento traz cheiros que não conheço,
e cada esquina sussurra promessas
que ainda não entendo..."Murmurava baixinho enquanto rascunhava o poema, de vez ou outra, observava o ambiente e as pessoas do local, perdendo-se com a mudança de clima comparado ao seu país.
- Aqui é bem diferente do Brasil... será que eu vou conseguir me acostumar? - questionava para si mesmo, refletindo se foi uma boa ideia ter viajado para o Japão.
Ao mesmo tempo que estava tenso, Senjuro também estava aliviado. Finalmente não precisaria mais aguentar as reclamações de seu pai, que acabou ficando violento após sua mãe adoecer gravemente.
Ele sabia que não iria ficar longe dos problemas por muito tempo, porque alguma hora teria que voltar ao Brasil, mas deveria aproveitar esse tempo para focar no seu sonho.Quando finalmente chegou ao hotel, Senjuro soltou um suspiro longo, sentindo o cansaço pesar nos ombros. A recepção era iluminada por luzes suaves, e o ar cheirava a chá verde e madeira polida. Ele pegou a chave do quarto e seguiu para o elevador, arrastando a mala atrás de si. Assim que empurrou a porta do quarto e se jogou na cama, seu celular vibrou no bolso. Era Kyojuro. Por um segundo, pensou em ignorar - mas atendeu, sabendo que o irmão sempre fazia questão de acompanhar seus passos.
- Sen! Chegou bem? - voz de Kyojuro era tão alta e calorosa que quase fez Senjuro rir. - Sim, tô aqui no hotel já - respondeu.
- Lembre-se, estamos todos torcendo por você! Faça sua melhor poesia, a mamãe vai ficar orgulhosa, tenho certeza - Senjuro apertou o telefone com um sorriso pequeno, mas seu coração apertava. - Vou tentar, maninho. Prometo.
Assim que a ligação terminou, Senjuro ficou olhando para o teto do quarto por alguns segundos, ouvindo o leve zumbido do ar-condicionado. A conversa com Kyojuro o reconfortava, mas também trazia um peso silencioso. Carregar as expectativas da família não era fácil, principalmente com a mãe cada vez mais doente. O otimismo do irmão fazia tudo parecer simples, mas, para Senjuro, as coisas nunca eram tão fáceis assim. Ele sabia que precisava vencer. Não apenas por ele, mas por todos que ainda acreditavam nele.
Levantou-se devagar, caminhando até a janela. A vista mostrava a cidade viva mesmo à noite - faróis iluminando as ruas, pessoas apressadas desaparecendo nas esquinas, e letreiros que piscavam em ritmos hipnóticos. Ele abriu o caderninho de poemas mais uma vez, deixando a caneta deslizar pela página em branco.
"As luzes nunca descansam,
mas eu ainda preciso respirar.
No silêncio entre os versos,
encontro espaço para ser quem sou."Fechou o caderno e se deitou, deixando o cansaço finalmente vencer. No dia seguinte começaria o campeonato, e com ele, um novo capítulo da sua vida. De olhos fechados, prometeu a si mesmo que daria o seu melhor, mesmo que o caminho se mostrasse mais difícil do que imaginava.
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.
.!continua!
Era pra eu estar continuando a escrever BFTD? Era, mas eu sou rebelde demais pra isso e não me segurei pra começar a escrever essa fic😪
Senjuro brasileiro foi a melhor coisa criada na face da Terra, juro
Como eu sou ansioso, provavelmente hoje ou amanhã eu já vou postar o próximo capítulo, aproveitem enquanto eu tô no ânimo, já ja acaba 🙏
(Capítulo não revisado!)
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Troca de Olhares são Poemas Calados - YuiSen
FanfictionSenjuro Rengoku, um garoto nipo-brasileiro, decide deixar o Brasil e fazer uma viagem ao Japão para participar de um concurso de poesia que tanto aguardou. Durante a competição, Senjuro fica para a fase final junto de um garoto chamado Yuichiro, qu...