Perdido no jogo: A obsessão de Leon

O fim de uma jornada

   Depois daquela noite, Leon não conseguia parar de pensar naquilo. A proposta de internação dos amigos, a dor nos olhos de Nilce, tudo parecia um exagero pra ele. "Eu não tô doente! Não tem nada de errado comigo!", ele repetia pra si mesmo, andando de um lado pro outro no apartamento. O silêncio entre ele e Nilce era sufocante, e cada vez que ele olhava pra ela, sentia uma mistura de culpa e raiva. Aquele jogo, que começou como algo divertido, agora parecia ser a única coisa que ainda fazia sentido pra ele.

   Numa madrugada, depois de horas em frente à tela do celular, Leon tomou uma decisão. Ele precisava sair dali. Precisava fugir. Não ia mais aguentar as cobranças, as discussões e os olhares cheios de julgamento. E, além de tudo, ele sabia que ainda tinha uma missão inacabada: capturar o Porygon. Era como se, naquele Pokémon raro, estivesse a chave pra ele se sentir bem de novo, pra tudo voltar ao normal, ao menos dentro de sua cabeça.

   Sem fazer barulho, Leon começou a arrumar suas coisas. Jogou algumas roupas na mochila, junto com o carregador do celular e a carteira. O coração batia rápido, mas ele sabia que era isso ou continuar vivendo aquela vida que já não parecia ser sua. Quando terminou, olhou uma última vez para Nilce, que dormia no quarto, sem imaginar o que estava prestes a acontecer. Ele pensou em deixar um bilhete, mas não tinha certeza do que escrever. Que palavras explicariam o que ele sentia? Que ele estava indo embora pra encontrar... o quê, exatamente? Então, ele simplesmente saiu, sem deixar nada pra trás além de silêncio.

   A viagem pro Japão foi longa, mas Leon não se importava. A cabeça estava cheia de pensamentos confusos, mas uma coisa era clara: ele não ia voltar. Quando o avião pousou, ele respirou fundo. O Japão era tudo que ele imaginava, o lugar perfeito pra continuar sua jornada no Pokémon GO. Lá, ninguém ia julgá-lo, ninguém ia dizer que ele estava perdendo a cabeça ou que precisava de ajuda. Ele podia ser quem quisesse ser, e naquele momento, tudo o que ele queria era capturar todos os Pokémons raros que conseguisse.

   Enquanto isso, no Brasil, Nilce acordou sozinha. Sentiu um vazio estranho na cama ao lado e, num primeiro momento, pensou que Leon estava apenas saindo cedo pra mais uma caçada de Pokémon. Mas à medida que as horas passavam e ele não dava notícias, a preocupação começou a crescer. Quando foi até o armário e viu que as coisas dele não estavam mais lá, a verdade a atingiu como um soco no estômago. Leon tinha ido embora. Sem uma palavra, sem uma despedida. Ele simplesmente a deixou, junto com os amigos, o canal e todos os fãs.

   Os dias que seguiram foram dolorosos. Nilce tentou continuar com o canal, mas era difícil sem Leon ao seu lado. A audiência começou a perguntar sobre ele, a criar teorias e rumores. Alguns achavam que ele estava tirando umas férias, outros falavam que ele tinha abandonado tudo para viver o jogo. Mas, no fundo, ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido. Nem mesmo Nilce.

   No Japão, Leon vagava pelas ruas, o celular sempre na mão, os olhos fixos na tela. Ele estava sozinho, mas parecia não se importar. Cada Pokémon que capturava trazia uma satisfação momentânea, mas logo o vazio voltava. Ele não pensava mais em Nilce, nos amigos, ou no canal. Sua vida agora era outra, e o resto parecia estar distante, como se pertencesse a uma versão antiga dele mesmo.

   Mesmo assim, havia momentos em que, no silêncio da noite, ele se perguntava se tinha feito a escolha certa. Estava realmente feliz? Será que capturar o Porygon era o que ele precisava pra preencher o vazio que sentia por dentro? Essas perguntas ficavam na sua cabeça, mas ele as afastava rapidamente, preferindo se concentrar no jogo. O mundo real já não importava mais.