Professora Particular

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Estou cansada de ter que comparecer a direção por motivos desnecessários, mas eu meio que já me acostumei, porque tudo, definitivamente tudo que acontece nessa droga de escola é culpa minha. Tudo bem, não sou tão boa aluna assim, na verdade, nem de longe sou uma boa aluna, mas colocar a culpa em mim por tudo já é sacanagem.

Eu não estava nervosa, apenas irritada, e o barulho que a diretora fazia enquanto batia o lápis na mesa não me ajudava a ficar mais calma, eu já estava trancafiada naquela droga de sala com aquele dragão que é minha diretora me fitando a mais de dez minutos.

Não entendo como uma mulher daquelas perde tempo sendo diretora, sinceramente, para algumas pessoas a idade cai muito mal, mas para ela, caiu muito bem. Seus cabelos são loiros naturais, porém escuros, seus olhos eram um castanho clarinho, que no sol ficam verdes, ela tem um corpo de dar inveja em qualquer um, tinha 35 anos. Se não fosse minha tia, eu até pegava, ou não. 

O jeito como ela me olhava é de dar medo, principalmente já sabendo que eu devo levar a maior bronca quando chegar em casa. Como tenho 17 anos, eu moro com ela, que é meu parente mais próximo, e fez questão de me por na escola onde ela é diretora, só para poder me vigiar de perto.
Só faltava sair laser de seus olhos então eu decidi quebrar o silêncio. 

- Vai demorar pra me culpar ou eu já posso sair? - perguntei impaciente.

- Estou pensando no que fazer com você. Eu sinceramente não sei mais o que devo fazer contigo Camila. Batizar a bebida da escola no baile anual? Onde estava com a cabeça? - disse séria e fria.

- Tia Mari... - comecei a falar e comecei a fazer carinha de cachorro perdido, mas não adiantou.

Revirei os olhos e bufei. 

- Só deixei as coisas mais interessantes, a maioria dos alunos tem 17 anos, não somos mais crianças.

- 17 anos Camila! Ainda sim são menores de idade! - falou, incrível como ela não perdia a pose, sua voz era calma, mas a expressão em seu rosto era ameaçadora.

- Tia... Estamos em Londres, será que tenho que lembrar a você que aqui não é o Brasil? Com 17 anos já somos considerados maiores de idade!

- Mesmo assim! É proibido, sabe o que é isso Camila? Esses jovens estão sobre minha responsabilidade, e você está pondo isso em risco. Você não era assim Camila, o que aconteceu com você? Cade aquela menina dócil, carinhosa e atenciosa, e principalmente, responsável. - a decepção em seus olhos era evidente, mas o tom frio permaneceu. 

- Ela morreu junto com minha mãe. - gritei perdendo a paciência.

- Aquele acidente não foi sua culpa. - ela tentou me convencer, de novo. - Você não precisava ter se tornado tão fria, Camila, Sinu não iria querer isso.

- Não vamos tocar nesse assunto! Deixe-a fora disso.

Eu queria chorar, queria gritar, queria voltar naquele dia e mudar o que aconteceu, queria salvá-la, de algum modo, queria estar no lugar de minha mãe.

Tia Mari sempre tentou me convencer de que eu não era culpada pelo o ocorrido. Mas eu sei que sim, minha mãe estava dirigindo, eu tinha sete anos, ela iria me levar para um park de diversões e eu estava super feliz, cantávamos, e brincávamos dentro do carro, só que eu sem querer derrubei refrigerante no carro e ela foi ver o pequeno estrago que eu fiz e não viu a curva que se aproximava, quando ela virou o rosto pra frente era tarde demais. Ela tentou frear e perdeu o controle do carro, ele saiu capotando e parou de cabeça para baixo. 

Não lembro de mais nada, só que quando acordei no hospital, minha Tia Mari estava sentada no pé da cama e de cabeça baixa chorando baixinho, perguntei o que avia acontecido e se mamãe estava bem. Ela balançou a cabeça negativamente e me abraçou, ficamos chorando por um tempo e ela me explicou que o acidente teria sido fatal pra mim também se minha mãe não tivesse me abraçado, ela se tornou um escudo humano e me protegeu de lesões maiores, deu a vida pela a minha, e a culpa disso tudo era minha.

The more I run, more I give myself to youOnde histórias criam vida. Descubra agora