Gracinha

147 27 42
                                    


No quarto de Kyujin, a luz suave da tarde filtrava-se pelas cortinas floridas, criando um ambiente quase acolhedor. Quase. Woonhak e Kyujin estavam sentados lado a lado na escrivaninha, com livros abertos e lápis na mão, tentando focar na lição de matemática. O único som deveria ser o riscar dos lápis no papel, mas a discussão acalorada vinda da sala logo abaixo os distraía a cada segundo.

Kyujin, isso não faz sentido — Woonhak murmurou, franzindo o cenho enquanto olhava para o exercício de multiplicação. — Como a gente vai somar frações se tudo que dá pra ouvir é isso?

Kyujin suspirou pesadamente, largando o lápis com um baque no caderno. Ela cruzou os braços, claramente irritada. Do lado de fora da porta, a voz de Sunghoon ecoava, alta e firme, discutindo algo com Jaewon, seu ex-marido. Eles estavam separados há três meses, mas a tensão entre os dois parecia apenas aumentar.

Eles estão sempre brigando — Kyujin murmurou, a voz contendo um ressentimento evidente. — Desde que o Jaewon fez... aquilo, ele só vem aqui pra reclamar. Se ele não gostava tanto de estar com a gente antes, por que não fica longe agora?

O "aquilo" de Kyujin pesava no ar, mesmo sem ser dito diretamente. Woonhak sabia do que ela estava falando — sobre como Jaewon havia traído Sunghoon. Desde então, as visitas eram cheias de tensão, e Kyujin ficava cada vez mais incomodada com a presença do pai.

Ele é quem errou, mas age como se fosse o contrário — ela continuou, apertando o punho sobre o caderno. — Por que ele não pode deixar o appa em paz?

Woonhak, embora não entendesse completamente o peso de uma traição, sabia que isso era algo sério. Ele olhou para Kyujin, sem saber como consolá-la. Não era apenas uma briga qualquer. Era como se a cada visita de Jaewon, ele voltasse para reabrir uma ferida que Sunghoon estava tentando fechar.

Ei, pelo menos seu pai não sai gritando de volta. Quer dizer, ele está sendo super calmo... — ele começou, mas uma nova onda de vozes altas lá embaixo cortou sua frase. Jaewon gritava sobre horários de visitas, enquanto Sunghoon respondia de maneira firme, mas visivelmente exausto.

Calmo? — Kyujin bufou, olhando para a porta como se pudesse ver através dela. — Ele só quer resolver as coisas, mas o Jaewon... — a menina apertou ainda mais os punhos, e woonhak ficou preocupada que ela pudesse machucar as mãos com as unhas. — Ele não quer que as coisas sejam fáceis. Eu... eu queria que ele só... fosse embora.

Woonhak, sem saber o que dizer, balançou a cabeça. Ele entendia o suficiente para perceber que Kyujin estava mais que frustrada; ela estava magoada. "Se eu tivesse um jeito de ajudar", ele pensou.

E como a boa cabeça-pensante que era, logo uma lampada se acendeu na cabeça do jovem Sim, olhando para a amiga com um sorriso no rosto que parecia até meio diabólico, mas a menina não se assustou, muito pelo contrário, conhecia o melhor amigo muito bem, e sabia que ele estava armando alguma coisa

Você não acha que o Tio Sunghoon e o meu pai formariam um casal bonito?

O Tio Jake? — Kyujin ponderou por um momento, mas logo um sorriso iluminou seu o rosto — Sim! Formariam um casalzão.

Então eu vou fazer algo!

...


Kyujin e Woonhak desceram a escada em silêncio, com cada degrau trazendo uma sensação crescente de tensão. A discussão entre Sunghoon e Jaewon continuava, vozes reverberando pela casa, mas os dois se moviam com cuidado, como se pisassem em um campo minado. Quando eles chegaram ao pé da escada, as vozes dos dois adultos se calaram abruptamente, como se a presença das crianças tivesse cortado o fluxo da discussão.

Meu Pai Disse || JakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora