Coração de Soldado, alma de cortesã

No eco da morte, o brilho do luar

— Você é uma cortesã, portanto aja como tal. — A voz masculina ecoava com arrogância, um tanto arrastada, como se a bebida já tivesse começado a entorpecer seus sentidos.

As palavras, carregadas de desprezo, cortaram o ar e atraíram a atenção imediata do príncipe e de seu fiel guarda. Ambos interromperam sua caminhada, trocando olhares rápidos antes de se aproximarem da cena, seguidos pelos soldados que os acompanhavam como sombras. A expressão de Luffy mudou de despreocupada para sombria quando avistou o que estava acontecendo.

Um velho de aspecto asqueroso, com o rosto inchado e mãos ásperas, encurralava uma mulher de aparência frágil, empurrando-a contra uma parede. Ela lutava, tentando empurrá-lo com as mãos trêmulas, o pânico estampado em seus grandes olhos. Sua pele pálida contrastava com os longos cabelos ruivos que caíam desordenados por seus ombros. O vestido que a ruiva usava, uma seda outrora impecável, estava rasgado e sujo, expondo a vulnerabilidade de seu corpo.

— Por favor, meu senhor! — A voz dela era um apelo desesperado, quase sem fôlego, enquanto suas mãos se erguiam em uma tentativa inútil de afastá-lo. Mas o velho riu, um som grotesco que se misturou com o silêncio da noite.

Antes que o príncipe pudesse intervir, seu cão militar, Zoro, já estava em movimento. Com um único passo firme, ele se colocou entre o agressor e a mulher. Seus olhos gélidos e implacáveis, brilharam à luz das tochas. Sem hesitar, o Roronoa empurrou o velho com uma força brutal, fazendo-o cambalear para longe. A lâmina de sua espada cortou o ar em um arco letal, e em segundos, o som abafado da carne sendo dilacerada tomou conta do ambiente. A cabeça do homem rolou no chão de pedra com um baque surdo, enquanto seu corpo desabava, pesado e sem vida.

O príncipe, que observava a cena com atenção, não conseguiu conter um sorriso.

— Desculpe, meu senhor! — Zoro limpou a espada suja de sangue com um movimento rápido e fluido antes de embainhá-la. Sua voz, normalmente calma, estava carregada de desprezo. — Odeio estupradores e não consegui me controlar.

O príncipe soltou uma gargalhada enérgica, os olhos brilhando de satisfação.

— Agiu bem, Zoro. Agora vamos dar um jeito de sumir com esse corpo. — Com um aceno despreocupado, ele ordenou que os outros soldados arrastassem o cadáver. — Que sujeira.

Enquanto os soldados trabalhavam, Zoro permaneceu imóvel, seus olhos fixos na mulher que havia sido salva. A ruiva ainda estava sentada no chão, os braços abraçando o próprio corpo, com uma expressão de terror.

A luz do luar caía sobre ela como um véu prateado, destacando seus cabelos ruivos e a palidez de sua pele. Era extraordinariamente bela, muito mais do que qualquer outra cortesã que Zoro já havia visto. Seu corpo tremia ligeiramente, os seios parcialmente expostos pela seda rasgada e apesar de seus esforços para cobri-los, eles se insinuavam para fora dos braços. Notou que havia uma força silenciosa em seus olhos, um brilho que o Roronoa não pôde ignorar.

Zoro pigarreou, um tanto desconfortável com a situação. A gentileza não era uma característica comum em sua vida. Desde que se lançou no campo de batalha, havia perdido não apenas a suavidade de seu comportamento, mas também a capacidade de lidar com a vulnerabilidade alheia. A guerra, com seu incessante fluxo de sangue e morte, endureceu seu corpo e sua alma. A ternura, antes parte de seu vocabulário, havia sido substituída pela frieza e pela necessidade de sobreviver. No entanto, algo naquela mulher despertava uma vontade instintiva de proteger.

Zoro retirou a capa negra que usava e a lançou sobre a ruiva. Nami se agarrou a ela com um suspiro de alívio, seus olhos refletindo uma mistura de gratidão e alívio.

— Obrigada, meu senhor. — A mulher finalmente falou, sua voz era um sussurro. Ela agarrou-se à capa negra que Zoro jogou sobre seus ombros. — E-eu juro que vou devolver.