poema 14

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não vejo mais seus olhos
na escuridão omissa do
meu devaneio.

só o que restou do seu
corpo em mim são as
noites de verão inscritas
no meu subconsciente.

não vejo mais seus olhos
na margem do meu carrossel
de sonhos felizes,
agora só vejo seu par de
esmeraldas vigilantes na
lembrança meia-boca das
suas mãos me percorrendo.

não te vejo mais,
se é que me entende; somos
ambas periódicos tristes
da semana passada, nada
do que se orgulhar.

de vez em quando, me
vem o gosto da sua boca,
ambíguo e sutil,
amargo e caramelizado
como meus longos
devaneios lésbicos.

me aguarde na entrada,
te beijarei até a saída;
por entre suspiros e mobília,
desapareço nas suas palavras
inacabadas, frases pela metade
que pra mim fazem todo sentido.

nunca te gostei pela metade,
sempre desfrutei do seu inteiro,
como um poeta nunca deixa
de redigir a segunda estrofe.

seus suspiros são o clímax
do meu miniconto;
os versos por ti tocados
estremecem, assaltando a
métrica e roubando-lhe
a proporção.

não mais te sinto
arrepiando-me a espinha,
não mais deliro em sua
fúnebre ausência;
só procuro por um livro
que me conte sobre ti,
sobre a beleza de
uma alguém que nunca
houvera sequer existido.

a paixão em termos lesbianosOnde histórias criam vida. Descubra agora