Capítulo 26

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POV Rebeca

Mexi o café sem parar, como se aquele movimento circular fosse me enviar a inspiração que eu precisava. O problema é que eu estava no dia 7 de junho desenhando a campanha digital de inverno, entendi os prazos de movimentação das empresas, e o avanço em termos de temporadas, mas não consegui pensar em nada decente com aquele sol escaldante que dava para ver pelas janelas da cafeteria onde eu estava. Eu não conseguia imaginar como seria o site no outono, quando eu estava vestida com uma saia jeans tão curta quanto a decência permitia e uma regata vermelha. O ar condicionado ajudou a evitar que eu tivesse uma síncope, mas o calor havia diminuído e eu estava muito consciente disso.

Parei o movimento da colher e coloquei a xícara num copo de vidro com gelo, que o garçom muito gentilmente me trouxe, embora eu não o tivesse pedido. O café quente só iria derreter ainda mais meu cérebro. Levei o líquido aos lábios e forcei minha mente a continuar pensando, e embaralhei cores, fontes, temas, slogans, mas nenhum deles me convenceu, senti falta de ter um colega de trabalho, o trabalho que Freen e eu estávamos fazendo era de minha exclusiva responsabilidade há pouco mais de dois meses. Saint contratou um cara para me ajudar, mas não foi muito bom. Além de não ser muito criativo, ele nem me deixava trabalhar, porque eu passava a maior parte do tempo evitando os flertes que ele me dava, da maneira mais educada que podia. Em algum outro momento eu poderia ter pensado em ter algo com ele para me divertir.

Em algum outro momento.

No final, Saint acabou demitindo-o. E eu lhe assegurei que poderia cuidar do trabalho sozinha temporariamente. Eu não queria substitutos de Freen que só me dariam mais dores de cabeça do que as que já tive. E também  não queria que acabassem contratando alguém que pudesse fazer o trabalho dela, porque assim ela não teria como voltar.

Eu me dei um tapa mentalmente enquanto passava a mão pelo cabelo. Eu me forcei a não viver como se estivesse esperando por ela. Na maioria das vezes eu conseguia. Quase consegui respirar sem sentir que faltava alguma coisa. Exceto quando eu estava no escritório e olhava para cima e encontrava um escritório vazio na frente do meu. Ou quando ouvi saltos em algum corredor e não pude deixar de procurá-la por trás daquele barulho, naqueles momentos foi um pouco mais difícil, mas no geral sentia muito orgulho de mim mesma.

Não estava feliz, mas também não tão triste. Pelo menos eu não sentia mais aquela vontade incontrolável de chorar toda vez que via cabelos pretos, a verdade é que Nam não era minha visão favorita desde que ela partiu.

Como se eu a tivesse chamado pensando nisso, meu telefone começou a tocar e o número da minha amiga apareceu na tela.

-Onde você está, alma com dor?- Não tive tempo de cumprimentá-la quando ouvi a voz de Nam. Ela estava me chamando assim desde que me recusei a sair para festas com a mesma assiduidade de antes. Eu também tive bastante orgulho disso, não saí mais em farras para tentar me distrair das minhas misérias.

- Bem, numa cafeteria, tentando trabalhar. A frase lhe parece familiar?

-Trabalhando? Becky, você sabe que é sábado, certo? - Para Nam, sábado era sinônimo de festa. Para mim, eles também eram até recentemente.

-Bem, eu sei, Nam. Mas acontece que em algumas semanas terei que apresentar as primeiras ideias para a próxima campanha a Saint, e estou com um grande bloqueio. Então se você só está me ligando para me incomodar, sinto lhe dizer que neste momento não tenho tempo... - A voz dela não me deixou terminar.

-Rebecca, É SÁ-BA-DO!- Tive que afastar um pouco o telefone do ouvido, pois elA havia gritado aquelas três sílabas para mim pelo celular.

-Hoje é o dia do óbvio? Você já me disse, Nam...

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