Sob a Lua

Cap. Único

As noites sempre foram meu momento de fuga, onde eu podia me desconectar do mundo. O parque era meu lugar favorito para isso - silencioso, vazio e iluminado pela lua, que parecia ser a única companhia constante que eu tinha. Sentado no mesmo banco de sempre, eu observava as estrelas, tentando encontrar paz em meio ao turbilhão de pensamentos que invadia minha mente.

Era uma noite qualquer quando tudo mudou. Eu estava lá, distraído, quando ouvi passos leves atrás de mim. Não era comum encontrar alguém ali tão tarde. Olhei por cima do ombro e vi um garoto alto, com cabelos escuros que caíam sobre os olhos. Ele parecia um pouco perdido, hesitante.

- Você também gosta de observar a lua? - perguntei, mais para quebrar o silêncio desconfortável do que por curiosidade genuína.

Ele olhou para mim, surpreso por eu ter falado, mas então deu um meio sorriso e respondeu:

- Sim, algo assim. Gosto da tranquilidade.

- É difícil encontrar esse tipo de paz por aí - comentei, voltando a olhar para o céu.

Ele se aproximou e, para minha surpresa, sentou-se ao meu lado no banco, sem pedir permissão. Não foi incômodo, na verdade, achei interessante. Um desconhecido que parecia gostar do mesmo que eu, em uma noite tão calma, sob a lua que parecia nos observar.

- Qual é o seu nome? - perguntei, ainda sem desviar os olhos da lua.

- Niki - respondeu ele, com naturalidade.

- Sunoo - me apresentei de volta, sentindo uma estranha conexão instantânea.

Depois daquela noite, comecei a encontrá-lo no parque com frequência. Às vezes ele já estava lá quando eu chegava, outras vezes eu o via chegar depois de mim. A cada encontro, nossas conversas ficavam um pouco mais longas, e eu percebia que havia algo diferente nele. Ele era quieto, reservado, mas havia uma profundidade em suas palavras que me intrigava.

Conforme as semanas passavam, nossos encontros se tornaram parte da minha rotina. Não eram combinados, mas de alguma forma, sabíamos que estaríamos ali, no mesmo lugar, sob a mesma lua. Comecei a me acostumar com a presença de Niki, e sem perceber, comecei a esperar por ela.

Numa dessas noites, o clima estava mais frio do que o normal, e eu me envolvi em um casaco mais quente antes de sair. Ao chegar ao parque, vi Niki sentado em nosso banco habitual, olhando para o céu. Quando me viu, um sorriso iluminou seu rosto, e meu coração disparou. Era incrível como ele tinha esse efeito em mim, mesmo com uma simples troca de olhares.

- Oi, Sunoo! - ele disse, acenando.

- Oi, Niki! - respondi, sentando-me ao seu lado. - O que você está olhando?

- Apenas admirando as estrelas. Elas sempre me lembram de coisas que não consigo explicar.

Eu me perdi naqueles olhos, imaginando o que poderia estar passando pela mente dele. Aquelas palavras soavam poéticas, e eu estava curioso.

- Como o que? - perguntei, desejando saber mais sobre ele.

- Coisas que não podem ser vistas a olho nu - Niki disse, olhando para o céu mais uma vez. - Como sentimentos, sonhos... e o que a lua representa.

As palavras dele me atingiram de uma maneira que eu não esperava. Era como se ele estivesse me convidando a entrar em sua mente, a compartilhar suas inseguranças e anseios.

- O que você acha que a lua representa? - questionei, incentivando-o a continuar.

- Para mim, ela é um símbolo de esperança. Mesmo nas noites mais escuras, ela sempre aparece, trazendo um pouco de luz. Às vezes, acho que é assim com as pessoas também - Niki falou, e sua voz era suave como o vento.