Somos apenas fábulas,
Vivendo sem fala, única página
Nas mãos de um escritor sem capa.
Para ele, a lebre é morta e assada,
Sua moral é não faltar drogas nem cachaça.
Para nós, a dívida sempre vem dobrada,
A cada dia, alvo de caça,
Somos a matéria-prima de suas armas,
Somos animais incendiando nossa própria mata.
Sonhamos com uma cama sem ter casa,
Fabricamos ouro para ganhar latas,
Não pagamos luz para pagar fardas,
Usamos a chuva, não pagamos água.
Viva a merda do luxo,
Viva o sangue e a espada,
Viva o hoje sem nada.
Sem futuro, sem dinheiro,
Nosso "aceitar" é puro receio
Do seu ódio, do seu desprezo.
Viva nossa morte, nossa perda,
Viva nossa vida em cativeiro.