Cap 1

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Pov Simone Tebet

Ao observar os inúmeros contratos sobre minha mesa, uma clara preocupação transparecia em meu olhar. Eu estava perdida. Meu restaurante enfrentava uma grave crise, os contratos estavam sendo rompidos e, gradualmente, minha clientela desaparecia, aumentando ainda mais minhas apreensões quanto ao futuro. Para complicar, o restaurante nem sequer era minha propriedade, mas sim um legado dos meus pais, algo que eles jamais permitiram que declinasse. Contudo, assim que assumi a gestão, fui envolvida em uma polêmica que nem ao menos compreendia, traída por aqueles em quem confiava. Agora, estava aqui, praticamente sem nada, tendo perdido quase tudo. Meus funcionários pediram demissão, e os renomados chefs que um dia trabalharam conosco já não faziam mais parte da equipe. Sabia, no fundo, que a culpa não era minha. Jamais utilizaria o restaurante dos meus pais como fachada para qualquer outra atividade. No entanto, essa foi a acusação que me lançaram, e a situação só piorava. O maior temor, porém, era que meus pais descobrissem. Desde jovem, fui pressionada a sempre dar o meu melhor, e agora me via na iminência de arruinar tudo pelo que eles lutaram.

Fui tirada de meus pensamentos pela chegada da minha esposa, que entrou em meu escritório com uma expressão preocupada. Eu estava ali desde cedo, e já eram nove horas da noite. Ela sempre foi boa para mim, e o meu amor por ela era imenso, mas, há algum tempo, nossa relação começou a declinar, e aos poucos nos perdemos. Eu e Janja já não nos olhávamos com a mesma intensidade de antes. Reconhecia que parte da culpa era minha, pois, envolta em meus problemas e responsabilidades, não dedicava o tempo necessário para ela ou para nosso casamento. Estávamos juntas havia quase dez anos, uma data que passou despercebida por mim, pois, de que adiantava lembrar do nosso aniversário se eu não conseguia demonstrar o amor que ela merecia?

Janja trazia uma bandeja com várias iguarias que eu apreciava, a qual colocou sobre minha mesa. Ao analisar o conteúdo, percebi que, mesmo sem querer admitir, ela ainda se importava comigo.

Janja: - Aceite como um pedido de desculpas... pelo ocorrido mais cedo.

Simone: - Eu também sinto muito...


Tivemos uma discussão acalorada a respeito do meu restaurante. Janja insistia que eu deveria contar a verdade antes que meus pais descobrissem, enquanto eu argumentava que o melhor seria manter o silêncio por ora, pois estava confiante de que conseguiria recuperar o estabelecimento. No entanto, como de costume, aquela pequena discussão acabou se transformando em uma briga séria, e eu contribui para agravar a situação quando me tranquei no escritório e me recusei a sair. No fundo, sentia-me culpada por esses conflitos. Se eu não tivesse cometido erros, nada disso estaria acontecendo.

Janja: - Não é sua culpa. Sei que está se sentindo pressionada. Agora coma um pouco; acredito que você não fez nenhuma pausa para se alimentar, não a vi sair do escritório.

Simone: - De fato, não consegui parar. Você entende que estou fazendo isso pelo nosso bem, não é?

Janja: - Você já conhece minha opinião, então não preciso dizer mais nada. Só peço que não discutamos novamente, por favor.

Simone: - Claro.

Foi inevitável não me sentir abatida, pois Janja deixava claro que a briga havia sido causada por minha culpa. Eu queria manter meu ponto de vista, mas, e se ela estivesse certa? E se realmente fosse necessário contar aos meus pais o que estava acontecendo? Será que eles conseguiriam manter a calma e compreender a minha situação? Provavelmente não. Eu conhecia meu pai, ele sempre foi muito rígido comigo. No entanto, não podia ser ingrata, afinal, tudo que tenho hoje é graças a ele. Até mesmo o meu emprego dependia dele. Com esses pensamentos me afligindo cada vez mais, esqueci que Janja ainda me observava.

Without You - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora