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Respiro fundo tentando manter a calma, enquanto observo o arranha-céu a minha frente.
Hoje é meu primeiro dia de emprego, terminei a faculdade e recebi essa "premiação". Um contrato de um ano com uma empresa renomada de café, se duvidar, a maior empresa do pais, onde o único objetivo do contrato é fazer uma biografia da empresa. Quase não consigo conter o sorriso ao me lembrar desse fato. Não pensei nem duas vezes e saí de Fortaleza rumo a São Paulo, tudo pago, hospedagem, viagem. Confesso que fiquei um pouco apreensiva, afinal, eu assisti salve Jorge, a Morena foi sequestrada por bem menos, sorrio com esse meu pensamento.
Caminho em direção a grande escada de entrada, é realmente tudo muito luxuoso. O grande arranha-céu de cinquenta e dois andares está localizado na Avenida Oscar freire, o prédio é todo no mármore preto com dourado, portas e janelas de vidro. Só consigo pensar no contratempo que seria se caso faltasse energia, a quantidade de degraus que teríamos que percorrer até o térreo, se bem que, um prédio desses deve ter geradores de alta potência. As vezes meu inconsciente é bem confuso. Balanço a cabeça me reprimindo por pensar em tantas besteiras. Tento focar no mais necessário.
Estou vestida com um conjunto de alfaiataria, fabricado por mim mesma. Hobbies de uma garota que não tinha condições pra comprar roupas, penso comigo mesma. Uma calça social reta, na cor preta, um terninho preto com recortes e uma blusa social branca. Trago comigo meu laptop que comprei parcelado no início da faculdade de letras. Meu laptop está na bolsa que é claro, comprei em brechó.
Passo pela primeira porta de vidro, ainda bem  que vim bem vestida, tudo é muito chique aqui.
Vou em direção ao balcão de entrada, onde tem duas loiras sentadas atrás do balcão, mexendo nos meus laptops chiques que devem ser mais caros que o meu antigo carro.
- Bom dia! - Sorrio. - Sou a Heloísa Feitosa, vim falar com o Sr. Alencar. - Falo com toda simpatia que o Senhor me deu.
- Srta. Feitosa, estávamos ao seu aguardo. - a loira fala.
Ela me entrega um cartão que já tem o meu nome, ela se levanta e sai de trás do balcão.
- Me acompanhe, por favor. - ela pede caminhando em direção ao elevador.
- Peço que coloque o crachá, para que nós possamos a reconhecer. - Ela fala e eu encaixo o crachá no bolso do terno.
Ela para de frente o elevador e aperta o último andar.
- Sala dele é na cobertura. - Ela sorri e eu entro no elevador.
- Obrigado! - Eu falo e a porta se fecha.
O elevador é todo espelhado, tento me acalmar enquanto não chega no meu local.
Agradeço mentalmente por ninguém ter entrado no elevador, tem dias que minha bateria social é abaixo de zero.
Após um minuto, as portas se abrem revelando a imensidão de mármore preto com dourado.
É frio, principalmente pra quem está acostumado com o calor do Ceará.
Caminho em passos curtos Com muito medo de cair, vou em direção ao balcão tenho encontro umas duas loiras. Realmente acho Que o pré requisito pra trabalhar aqui é ser loura, Alta e magra.
- Estávamos a seu aguardo Srta. Feitosa. - Uma das loiras fala, enquanto a outra me olha e sorrir.
- Ele poderá me receber agora? - Pergunto sorrindo, é eu realmente acho que Deus tem os seus favoritos, loiras, altas, magras e educadas.
- Poderá sim! Chegou bem na hora, entre uma reunião e outra! - Ela solta um risinho.
Ela se levanta e sai detrás do balcão.
- Srta. Feitosa, precisamos que assine uns documentos e receba o material que o Sr. Alencar preparou pessoalmente para a senhorita. - Ela fala caminhando por um longo corredor de mármore branco, com portas brancas e no fim do corredor consigo observar uma porta diferente, com cara de cara.
Se bem, que tudo aqui tem cara de caro. Meu inconsistente grita!
- Qual o seu nome? - Pegunto.
- Vanessa. - Ela para e sorri, só então que olho pro seu crachá. "Srta. Vanessa Soares, Secretária."
- Então Vanessa, será que você poderia me chamar somente de Heloísa? Toda essa formalidade me deixa desconfortável! - Peço.
- Srta. Feitosa, o Sr. Alencar é um tanto formal, quando o conhecer entenderá. - Ela sorri.
Enfim chegamos no fim do corredor.
- Pode abrir a porta quando se sentir confortável, não bata, só entre e se apresente! Sairei e deixarei a senhorita a vontade. - Ela fala.
Agradeço e ela sai em direção a recepção, me deixando sozinha. A climatização é exagerada, tremo. Não sei se de frio ou nervosismo, passo uma mão na outra em busca de me aquecer. Passo a mão pelos cabelos e tento me lembrar dos conselhos da mamãe e do papai, "você é especial, tudo tem um propósito!".
Respiro fundo e seguro o puxador da grande porta, seguro firme e empurro, empurro com muita força e quase chego a cair. Me recomponho antes de ser notada, vejo um homem alto, de ombros largos. Ele parece muito concentrado olhando a paisagem da grande São Paulo pelos janelões. Observo a sala, mármore branco com dourado e móveis pretos, janelões de vidro mostrando toda a vista de São Paulo, que é de cair o queixo. Bem padrão, penso.
- Bom dia! - Falo alto e educadamente.
O homem se vira pra mim. Caramba! Meu queixo quase cai, meu inconsistente se desperta e um arrepio passa pelo meu corpo, como um choque.
- Bom dia. - O gostosão fala. Quer dizer, o homem fala.
- Desculpa, devo ter entrado na sala errada. - Falo me virando em direção a saída.
- Quem você procura, Srta Feitosa? - Ele pergunta sério.
Minha boca se forma um "O".
- Co... como? - Pergunto gaguejando. Como o senhor deus grego sabe meu sobrenome? Me pergunto.
- Quem você procura, Srta Feitosa? - Ele repete caminhando em direção a sua mesa, ele puxa a cadeira de couro escuro e se senta.
- Procuro o Sr. Alencar. - Falo me recompondo.
- Achou. - Ele fala em um tom brincalhão, abrindo os braços.
Pisco mais que o necessário, isso acontece quando meu cérebro tenta ser mais ágil.
Minhas pesquisas, penso. Nas minhas pesquisas o Sr. Alencar era um idoso de cabelos brancos. E não um ser magistral vestido de terno.
- Desculpe, Sr. Alencar. Nas minhas pesquisas... Digo, imaginei o senhor diferente. - Falo me embolando em minhas próprias palavras. Como é estranho chamar alguém tão novo de senhor. Como é estranho essa sensação que de repente se instalou em meu corpo.
- Acho que a senhorita pesquisou sobre meu pai. - Ele quase sorri. Caramba, como eu gostaria de ver um sorriso nesse rosto esculpido por Deus.
- Entendo. - Falo olhando para o lado.
- Sente-se. Ou pretende passar o dia aí? - Ele me questiona. Ok, ele é um pouco... digamos que, bruto.
- Ah, claro. - forço meu melhor sorriso. Isso vai ser mais difícil que pensei. Não sou de levar desaforos para casa.
Caminho em sua direção e me sento na poltrona, também de couro preto.
- Fale de você, Srta Feitosa. - Ele diz.
Seu semblante é imparcivel, não consigo detectar nenhuma expressão ou sentimento.
- Heloísa. - O corrijo. Odeio baboseira de formalidade.
- Fale de você, Srta Feitosa. - Ele repete. Cara chato.
Suspiro fundo.
- Sou de Fortaleza, tenho 24 anos. Acabo de me formar em letras, na UFC. Me formei com honras, passei no enem. - Sorrio ao contar. Minha criança interior fica toda contente quando começo lembrar do que já passou.
- Fale mais. - Ele fala me olhando. Que olhar intimidador.
- Não tem muito pra falar sobre mim. - Falo.
- Deve ter muito. - Ele se apoia na mesa ficando mais próximo.
Sinto sua respiração. Que droga, isso é muito torturante.
Ele percebe meu desconforto.
- Quero os detalhes que não estão no seu currículo. - Ele fala se afastando, ele encosta as costas e apoia as mãos na lateral da poltrona.
- O senhor leu meu currículo? - pergunto franzindo a testa.
- Claro. - Ele movimenta a cabeça como se fosse óbvio.
- Os detalhes profissionais estão todos nele. - Afirmo.
- Atrevimento, Srta Feitosa. A senhorita é atrevida. - Ele quase esboça um sorriso.
E o senhor é um intrometido, penso.
- O que o senhor precisa saber está nele! - Afirmo.
- Gosto do seu mistério. - Ele fala baixo, e me olha espantado, como se tivesse pensado alto.
- A senhorita foi servida? - Pergunta.
- Não. - Falo.
Ele pega uma telefone fixo na mesa e disca alguns números.
Sério? Quem usa telefone fixo em pleno 2024?
- Dois cafés e biscoitos. - Ele fala com alguém no outro lado da linha.
- Açúcar ou adoçante? - Ele pergunta me olhando.
- Puro, por favor! - Peço e ele me olha um tanto espantado.
- Os dois puros. - Ele fala e desliga, colocando o telefone fixo de volta ao gancho. Sério, telefone fixo é quase uma relíquia.
- Café puro? - Ele me questiona.
- O senhor não? - Minha vez de o questionar.
- O senhor é considerado o rei do Café, deveria saber que pra apreciar um bom café, deve tomá-lo puro. - Falo e ele me olha com espanto, posso estar enganada mas observei admiração em seu rosto.
- Era desses detalhes que eu lhe pedi. - Ele enfim sorrir.
Não consigo controlar o meus pensamentos e então observa aquele sorriso, aqueles olhos esverdeados penetrantes e apaixonantes. Caramba, ele é imagem da perfeição. Sua pele bronzeada, seus cabelos dourados perfeitamente penteados, suas covinhas aperfeiçoando o sorriso. Meu Deus, onde me meti?
Ele ia falar algo, pude sentir. Mas a porta é aberta desviando nossas atenções. Era Vanessa, ela entra perfeitamente, desfilando esbanjando a sua beleza. Em suas mãos observo uma bandeja, com xícaras de porcelana, acredito eu. Biscoitos em uma travessa também de porcelana.
Decido olhar Para o Sr Alencar, e então seu olhar se encontra o meu. Droga, ele estava me observando.
Vanessa é rápida e ágio. Coloca a bandeja na mesa e sai da mesma forma que entrou, elegante e discreta.
- Sirva-se. - Ele exige pegando para si uma xícara de porcelana.
Pego a outra xícara e um pires para mim.
- Bem, o que estou fazendo aqui? - Questiono depois de tomar um gole do café. É realmente muito gostoso.
- Confesso que em todos esses anos, nunca bebi café puro. - Ele ri ao beber um gole.
- Escrever um livro, quero que escreva um livro sobre mim. - Ele Coloca o pires com a xícara na mesa. Tento não demonstrar meu desconforto em suas palavras.
- Poderia ser mais específico? - Peço pegando uns biscoitos na travessa. Biscoitos de baunilha com gotas de chocolate.
- Poderia, srta Feitosa. - Ele sorri ao responder. - Meu pai, o Sr. Freitas é dono das indústrias Freitas, que caso não saiba, é do ramo têxtil. - Ele pausa e bebe mais um gole de café.
- O Sr. Alencar é meu avô, que recentemente está aposentado. Ele é fundador das indústrias Alencar, no ramo do café. Ele não soube administrar bem os negócios e eu os expandi quando tive maior idade. Hoje somos o principal distribuidores de café do Brasil, Portugal e Espanha. - Ele fala com fascino.
- Onde eu entro na história? - Pergunto ao terminar meu café.
- Você gostou do café? - Ele me olha segurando o pires com uma mão e o café com a outra.
- O senhor sabe que vende um produto de primeira linha. - Esfrego minhas mãos por conta do frio..
- Algum problema? - Ele questiona.
- Por que estou aqui? - Pergunto.
- Está aqui pra escrever um livro sobre meu café. - Ele fala se levantando, ele abre uma gaveta a em sua mesa, pega um controle que acredito que seja de ar condicionado.
- Se estiver com algum problema, é só falar. - Ele fala apertando alguns botões no controle que está apontando para o ar-condicionado.
Ele guarda o controle novamente e volta a se sentar abrindo um botão de seu terno azul.
- Você quer uma biografia? - Pergunto.
- Quero que você escreva com suas palavras, irei dar todas as informações que você precisa, apresentarei a você as indústrias e você escreverá um livro. - Ele fala mexendo os ombros, como se falasse o óbvio. Coloca o pires e a xícara sob a mesa, olha as horas no relógio e se levanta.
- Foi um prazer, Srta Feitosa. - Ele estende a mão. - Nos vemos em breve. - Ele sorri com a mão ainda estendida. O encaro e aperto sua mão. Sinto um arrepio percorrer pelo meu corpo.
- Igualmente! - Falo baixo forçando um sorriso.
- Espero que sua mudança chegue a tempo, minha equipe está e carregada por isso. - Ele fala caminhando até a porta e eu o sigo.. - Gostaria que você viajasse comigo, gostaria de lhe mostrar minhas fazendas e minhas fábricas. Temos muito a conversar, senhorita. É uma pena que tenho muitas reuniões hoje. - Ele abre a porta. - Passe no RH, eles estão com o seu contrato. Leia por completo, procure um advoga de sua confiança, qualquer dúvida, pergunte a minha equipe ou a mim. - Ele continua falando com essa voz rouca e forte. Caramba, ele parece um deus grego.
- Obrigado, senhor. - Falo e a porta se fecha.
Que momento estranho, meu senhor. Caminho em passos rápidos até a recepção, vou até o balcão e avisto Vanessa de cabeça baixa mexendo no computador.
- Oi! - Falo sorrindo nervosa.
- Oi srta. Feitosa. - Ela sorri.
- Gostaria de ver meu contrato. - Ela se levanta e caminha até uma bancada branca atrás dela.
- Se a senhorita tiver alguma dúvida, os contatos estão junto dos documentos. É importante que esteja ciente de cada linha escrita. - Ela sorri.
- Posso lhe ajudar em algo mais? - Ela pergunta ao me entregar uma pasta preta com letras brancas escrito "Alenca's coffe".
- Não, obrigada! - Sorrio e caminho em direção ao elevador. Confesso que não sou de fugir de nada, mas nesse momento, tudo o que eu queria era fugir.

Fábio Alencar Onde histórias criam vida. Descubra agora