eu estava sentada no sofá, com um pequeno caderno apoiado em meu colo, misturando tintas e tentando desenhar alguma coisa.
na tentativa de fazer uma flor, o pincel borra, eu fico extremamente decepcionada, e começo a reclamar, jogar toda a culpa no pincel.
minha mãe ouve e sai da cozinha o mais rápido possível, então senta ao meu lado.
- o que aconteceu, raposinha? - minha mãe disse com a sua doce voz acariciando minhas costas
- eu tava tentando desenhar uma flor, o pincel borrou e destruiu minha pintura toda! - digo deixando o pincel de lado e cruzando os braços.
minha mãe suspira, observa o pincel e diz
- quando crescer, vai entender que às vezes, no começo a gente tenta desenhar uma flor, algo bonito. às vezes o pincel pode borrar, você pode ter outra ideia de pintura e pintar outra coisa em cima disso. talvez a pintura fique ruim, ou boa, nunca se sabe.. mas lembre que você sempre tem a oportunidade de pegar uma nova tela branca e começar de novo.
Eu me lembrava disso observando as flores no caixão dela, perto dos seus cabelos ruivos, que passou para mim.
grande ironia não é? um dia ela tava comigo me dando os melhores conselhos que eu poderia imaginar, e no outro estava dentro de um caixão repleto de pessoas chorando em volta dela, eu seria uma dessas pessoas se não tivesse dopada.
minha mãe faleceu exatamente dois dias atrás, motivo? ninguém sabe. o que parecia é que ela tava no sofá assistindo alguma coisa, e simplesmente percebeu que tinha chegado a hora.
minha mãe sempre falava para mim que sonhava com o dia em que ela morresse, que para ela a morte não era algo assustador, era algo libertador. o dia que ela morresse, ela ia ficar sobrevoando o céu, e poderia tocar em uma das coisas que ela era mais fascinada nesse mundo, estrelas, ela era apaixonada por estrelas.
minha tia, Amélie, e meu tio Charlie estavam de braços cruzados observando a minha mãe dentro do caixão, eles são família por parte de pai, e meu pai.. bem, vamos dizer que a relação dele com a minha mãe nunca foi boa, e a raiva dele por ela tinha passado para os meus tios, os de sangue pelo menos, por que o tio Charlie era o único que não era tão mal amado assim.
- que palhaçada, megan nunca gostou de gente triste, aí vão tudo para cima do caixão dela chorar? - minha tia disse cutucando meu tio, que olhou para ela como se dissesse "olha a Lydia ali"
o silêncio tinha tomado conta do lugar de novo, as pessoas estavam se recompondo, enxugando as lágrimas umas das outras, dói ver eles assim.
minha tia balançava as chaves de maneira irritante, enquanto puxava meu tio para o carro, eu sem escolhas, acompanho.
- vamos o mais rápido possível, temos que pegar as roupas dela e vender! - minha tia disse enquanto empurrava meu tio para dentro do carro, como pode alguém ser tão insensível?
- tia, eu sei que você quer vender as roupas dela, mas ela é minha mãe sabe? não tem como você deixar algumas coisas dela para ficar comigo?
- você sabe muito bem que o seu pai não quer sua guarda, o dinheiro das roupas dela vão ser para você, para de ser tão mal agradecida! sua mãe não tá mais viva e não tem o que fazer, nem se guardar as roupas dela ela vai reviver.
- para de falar assim com ela! não tem necessidade disso Amélie! - meu tio retruca, pelo menos ele tem cabeça e usa o cérebro.
- você quer gastar o seu salário todo com uma adolescente então? já não tivemos filho para não gastar salário com isso, e agora você vai gastar do seu com o filho dos outros?
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Tela negra
FanfictionLydia tenta lidar a todo custo com a morte da mãe, aonde a única presença que tem da mãe são livros e uma espécie de poema. a mesma tenta decifrar e usá-los como conselhos para continuar seguindo a sua vida. no meio dessa bagunça, Lydia lida com rel...