PRÓLOGO

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A escuridão se movia com ele, a escuridão era ele, saindo por de baixo do manto grosso e negro que carregava ás costas, saindo por de baixo da máscara negra e gasta que cobria seu rosto. A escuridão se movia com ele.

Ele era a escuridão.

Caminhava por cima do largo tapete vermelho sangue gasto estendido pelo chão, era o único resquício de cor por pelo menos cinquenta metros a frente. Suas passadas eram silenciosas e rígidas, se movia de forma diferente, quase animalesca, as botas pisavam com receio sobre o tapete abaixo delas, ao mesmo tempo que certeiras, pareciam hesitantes, amedrontadas sobre o tapete, como um leopardo atento ao caminho que fazia até sua presa, como um animal ansioso pelo jantar. A hesitação vinha daquele pensamento, seria ele o jantar?

Era impossível enxergar adiante, era impossível ver mais do que apenas alguns passos sobre o tapete, mesmo que janelas altas de vidro, janelas altas demais, cobrisse algumas paredes fornecendo uma pequena parcela de luz proveniente da lua alta daquela noite, era impossível ver o chão, mesmo para ele, era impossível enxergar além. As janelas eram altas demais, precisava erguer a cabeça alto demais, dobrar o pescoço para trás num ângulo nada confortável para olhar as janelas, que tipo de ser havia construído janelas tão altas? Outro pensamento para comandar suas botas hesitantes.

Deveria estar ali, era a localização que o mapa em seu bolso dera, um mapa roubado e velho, com detalhes escritos em uma outra língua antiga, língua que mesmo alguém antigo como ele não sabia ler, língua que nem os malditos e arrogantes sábios que conhecera e ameaçara durante os últimos anos sabiam reconhecer. Maldito mapa antigo, maldito mapa antigo escrito numa língua antiga que o levava ao meio do nada, num castelo no meio do nada, com apenas nada ao redor em uma distância muito, muito longa. Mais um pensamento para suas botas hesitantes.

Os olhos não se adaptavam a falta de luz por mais que tentasse, o lugar era duvidosamente escuro, e ele mesmo já passara por cavernas com menos iluminação do que aquilo, já que as janelas ao topo ainda existiam, mas ainda assim tinha se adaptado. Algo o fazia imaginar que talvez a escuridão realmente andava com ele, bloqueando sua visão e confundindo seus sentidos, já que além de não enxergar nada, também não sentia cheiro de nada, nem da noite, nem de pedra antiga, nem de poeira. Se sentia em um vácuo, e mais um pensamento fora adicionado ás suas botas hesitantes.

Estava se cansando daquelas botas hesitantes.

Malditas botas.

Precisava avançar, precisava encontrá-la, precisava trazer de volta o que fora perdido, consertar o que estava quebrado e resgatar os perdidos. Ela faria aquilo por si, trabalharia ao seu lado, ela o ajudaria a conquistar tudo de novo.

Mas onde ela estava?

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