vamos começar com o para sempre

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Ele não tinha certeza sobre muitas coisas da vida; não sabia se existia vida após a morte, nem se poderiam haver outros seres coexistindo em planetas distantes. Com toda certeza não podia afirmar se existia um Deus ou vários deuses para crer, e também não saberia dizer o que o futuro reservava para si.

Nunca pensou muito sobre o significado que as palavras tinham, mas havia lido uma vez sobre o conceito de etéreo — algo elevado espiritualmente, sublime, divino — e lembra de ter pensado que jamais usaria aquele adjetivo para caracterizar alguma coisa; não acreditava que existisse algo a critério de divino naquele mundo tão cruel e hostil.

Porém, desde que conhecera aquela criatura tão singular, Hoseok, que já não tinha muitas certezas, passou a questionar-se a respeito de tudo que conhecia; de tudo que ao menos pensava conhecer.

Não precisou de muito para entender que Min Yoongi era, sim, etéreo, do modo mais literal que fosse possível empregar àquela sentença. As vezes, era como se não houvessem palavras em nenhum idioma conhecido para definirem de maneira exata o que ele realmente emanava.

Quando o conheceu por acaso em uma noite chuvosa, perdeu o fôlego; os pelos do seu corpo se eriçaram e ele compreendeu de maneira imediata que o ser em sua frente não era uma pessoa; havia algo a seu respeito que repelia o Jung, ao mesmo tempo que o atraía intensamente.

Não sabia dizer se era aquela pele imortalmente pálida ou aquele par de olhos intensos pintado num tom de bordô muito singular; de repente fosse o caráter felino, preciso e fluído de todos os seus movimentos, que o faziam soar como algo de outro mundo. Hoseok realmente não sabia dizer qual era o principal motivo, mas foi contra todos os seus instintos primitivos de sobrevivência e ficou.

Encarar Yoongi fez com que o restante do mundo — inclusive a chuva que caía impiedosa sobre sua cabeça — parecesse irrelevante.

"Não está com medo?", foi a única coisa que aquela voz rouca pronunciou. Seu timbre era de uma melodia difícil de explicar, como se houvesse um segredo oculto e misterioso pairando por entre os fonemas e sons. Mesmo ali, com o cabelo pingando em gotas grossas, totalmente encharcado pela chuva, ele continuava sendo uma visão de outro mundo. Seu rosto era devastadoramente lindo, mesmo molhado; Hoseok soube ali que nunca mais iria a lugar algum que não fosse estar perto daquele ser.

"Por que eu teria medo de algo tão delicadamente etéreo como você?", foi tudo o que o humano perguntou, sendo surpreendido por um riso malicioso, até assustador, como resposta.

"Nada em mim é delicado, sequer etéreo. O seu corpo sente isso", foi o que a figura se permitiu responder, o encarando com tamanha intensidade, quase como se fosse capaz de comê-lo vivo. "Mas me é curioso... Por que ignora tão avidamente o seu instinto de autopreservação?"

Hoseok se perguntou o mesmo, mas não tinha uma resposta lógica para aquilo. Era irracional, até, a forma como ele persistia querendo mais atenção daquela figura, mesmo que o temporal que caísse sobre a sua cabeça significasse um resfriado depois.

"Ignoro porque temo que, caso eu pisque os olhos, você desapareça", respondeu, por fim. "Ignoro porque ter você aqui, na minha frente, me faz entender que o mundo que eu conheço não é realmente o mundo; e se pode existir algo tão bonito, tão efêmero, tão... Divino... Bem, se algo assim existe, eu não quero perder nem um segundo sequer".

O alvo da sua contemplação o encarava totalmente imóvel. Mesmo que a chuva estivesse o deixando tão molhado quanto a si mesmo, ele permanecia sobrenaturalmente parado, quase que petrificado, não parecendo compartilhar do frio que o Jung começava a sentir; os olhos expressivos como se guardassem séculos de história fitaram Hoseok com espanto.

etéreo » yoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora