Sob a Luz do Reino

Prólogo

 Após mais uma vitória na guerra contra o reino de Lucks, o generoso rei Dragomir presenteou toda a nobreza e sua corte com um deleitoso baile de inverno. Os bailes de Dragomir são conhecidos por todo país, afinal, são repletos de entretenimento, desde as melhores baladas, até a mais suculentas fofocas. Além de serem o palco perfeito para o fortalecimento ou rompimento de alianças.

 Ademais, este foi o primeiro baile com a presença oficial da primogênita de Heilly, filha do grande rei Dragomir e da bondosa rainha Bevelly, a pequena princesa Aylla. Até aquele dia, a princesa era mantida em segredo, poucos, além dos funcionários do palácio real, sabiam a identidade da princesa, ao menos era isso que o rei e a rainha acreditavam. Afinal a pequena princesa costumava frequentar os belos bailes de Dragomir as escondias, o que a fez saber exatamente o que fazer no seu dia de estreia.

 Após cumprimentar todos os nobres e nobrezas sedentos por um laço agradável com a querida filha de Dragomir, Aylla explorou o salão de dança, apenas fazendo de perto o que até então só fazia de longe, observar. Por mais que tivesse acabado de sair da infância, Aylla era observadora e atenta, podia notar e quase sempre entender o que acontecia em seu palácio, como por exemplo, o modo ousado como algumas das jovens nobrezas se inclinava para seu pai, a fim de serem suas concubinas reais. Também podia notar pequenos furtos dos funcionários reais enquanto todos dançavam embriagados. Além de ver o modo como sua mãe bebia uma grande taça de vinho após ver o marido caindo nos encantos de mais uma nobre despreocupada.

 Aylla gostava de entender o modo como as coisas funcionavam, tanto por entretenimento quanto para escapar, se achasse um momento onde todos estivessem distraídos poderia fazer o que mais gostava em bailes, mais do que ver de perto as fofocas do palácio. Aylla saia do salão de dança, percorria alguns corredores, subia a grande escadaria real e ia diretamente para uma das bibliotecas. Gostava da que ficava pouco acima do salão de dança, pois lá, escondida no meio de algumas estantes, estava a passagem para a mais pacata e espaçosa das sacadas de Dragomir. Uma que só ela e mais alguém sabia. Este alguém era seu melhor amigo Arvid.

 Aylla e Arvid se conheceram em uma das idas secretas de Aylla ao baile, ele é o filho de um duque, que assim como Aylla, entendia como era divertido assistir de perto as histórias cabulosas de Heilly. Passaram a ir às escondidas para a sacada, conversavam sobre as novas histórias que ouviram ou viram e às vezes dançavam ao som das baladas vindas do salão de dança. Definitivamente os bailes de Dragomir tinham o poder de fortalecer laços.

_ Soube da morte prematura de Delibor, meus pêsames Vossa Alteza Aylla. _ Disse Arvid se apoiando preguiçosamente na borda de pedra da sacada.

_ Dalibor era um dos poucos criados de meu pai que não via primeiro a coroa em minha cabeça, ao menos não demonstrava olhar apenas para ela. _ Aylla dizia se lembrando da forma como foi recebida pelos nobres no início da noite, antes de ser apresentada alguns deles a ignora

_ É impossível não ver a coroa Vossa Alteza Aylla, ela brilha tanto quanto a lua hoje. Achei que soubesse, você costuma ser tão inteligente, não é?

_ Acreditava que seria mais difícil notar a falsidade na fala daqueles nobres, quer dizer, você ao menos tanta esconder que só é meu amigo pela coroa. _ Arvid era o único amigo de Aylla em toda Heilly, mas, no fundo ela acreditava que tinha fundo político, afinal todas suas relações eram baseadas em poder.

_ Confesso que a primeira vez que te vi, achei que era uma ladra, convenhamos que não é muito comum uma princesa fugir após roubar alguns doces da mesa, não acha? _ Arvid encarava Aylla com um rosto risonho.

_ Acreditava que estava sendo discreta! E se formos pensar deste modo, não é muito comum, muito menos adequado que um lorde esteja desacompanhado na companhia da princesa não acha? _ Arvid gostava de provocar Aylla, que mesmo que fosse esperta, acabava caindo em suas artimanhas.

_ Acho que somos péssimos nobres. Mas eu sou um bom dançarino e alguém precisa aprender a como dançar valsa agora que será convidada por todo nobre que aja como tal. O que acha Vossa Alteza? Me concede uma única dança?

 Aylla e Arvid se conheciam há anos, era uma amizade forte por mais que tivessem pouco tempo juntos, afinal, se viam uma vez a cada baile, não podiam trocar cartas, pois sabiam que eles não seriam os únicos que as leria. No entanto, no pouco tempo em que ficavam juntos, sentiam que aquele momento durava para sempre, que seriam felizes e eternos para enquanto estivessem próximos mutuamente. As paredes de pedra daquele lugar guardariam para a eternidade aquele segredo entre a pequena princesa e o jovem lorde, aquela dança, o abraço de despedida e por fim o primeiro e último beijo dos jovens amantes.

 Ao se despedirem, Aylla costuma ser primeira entre eles a sair da sacada, para ver se o cômodo está seguro para Arvid. Após Arvid sair, Aylla gostava de ficar um pouco só, aproveitar os poucos momentos em que podia relaxar sua postura e sorrir ao lembrar do breve tempo com Arvid. Infelizmente naquela noite, seu sossego não durou muito, Dragomir entrou na biblioteca de forma veloz, fechando a porta atrás de si com cuidado. Ele estava acompanhado, Aylla achou que seria apenas uma concubina real, mas não pode identificar a figura misteriosa.

 Dragomir parecia sério, irritado demais para quem estava comemorando a vitória contra os Lucks. Ele caminhava com a figura em direção a uma das mesas da biblioteca. Aylla sabia que precisava sair de lá, mas antes que pudesse pensar em alguma alternativa, foi acertada com uma forte pancada em sua cabeça.