Raphael, com a voz falhando, olhou em volta enquanto o ambiente que antes parecia alegre e acolhedor começou a se distorcer. A música suave e o som de risadas diminuíram até se transformarem em sussurros angustiantes e distorcidos, ecoando pelo ar como lamentos de almas perdidas.
De repente, o chão começou a rachar no centro da praça, liberando um odor podre, como carne em avançado estado de decomposição. Uma figura emergiu lentamente da fenda escura, e o ar ao redor dela parecia vibrar de pura malícia. Não era apenas uma criatura; era uma visão de pesadelo feita carne.
Sua forma era alta e esquelética, mas suas proporções estavam todas erradas. A pele, ou o que restava dela, parecia esticada sobre ossos que não pertenciam a um corpo humano. Ao invés de carne sólida, havia uma substância translúcida, como uma película fina e pegajosa que oscilava com seus movimentos. Dentro dessa pele transparente, órgãos pulsavam e se contorciam de forma irregular, expostos, visíveis como se a criatura fosse uma monstruosidade que nunca deveria existir.
Mas o que aterrorizava ainda mais eram os seus olhos — ou a ausência deles. No lugar de globos oculares, havia dois buracos negros e profundos que sugavam toda luz ao redor, como poços sem fundo. Era impossível desviar o olhar, e quando Lunorion tentou, sua cabeça doeu como se algo estivesse sendo arrancado de dentro de seu crânio. Ele pôde sentir sua energia vital escoando lentamente, como se os próprios olhos da criatura estivessem bebendo sua alma.
A boca, ou o que parecia ser uma, era uma fenda distorcida que se abria de maneira grotesca. Dentro, fileiras de dentes irregulares e afiados, como fragmentos de vidro quebrado, gotejavam uma substância negra e viscosa. Toda vez que a boca se movia, um som de ossos quebrando ecoava no ar, como se o próprio corpo da criatura estivesse se reorganizando a cada segundo, sem um formato definitivo.
"Bem-vindos..." a criatura sussurrou, mas sua voz não saiu como som, e sim como uma presença na mente de cada um deles, algo impossível de bloquear. Era um murmúrio frio e apático, como se a própria morte estivesse falando.
Solare deu um passo para trás, o coração batendo tão forte que parecia à beira de explodir. "O... o que é isso...?" Sua voz quase não saía, sufocada pelo terror.
A criatura avançou lentamente, suas pernas disformes se arrastando pelo chão com um som nauseante de carne molhada. Ao redor de seus pés, a terra começava a escurecer e apodrecer, como se sua presença estivesse infectando tudo ao seu redor. À medida que se aproximava, uma névoa densa e opressiva começava a envolver o grupo, abafando todos os sons e enchendo o ar com um cheiro fétido e insuportável.
"Vocês caíram na minha armadilha..." murmurou a criatura, sua boca deformada se contorcendo em algo que poderia ser um sorriso, se não fosse tão horrivelmente errado. "A festa... as risadas... tudo isso foi um jogo para sugar sua vida. Agora, vocês pertencem a mim."
Raphael tentou falar, mas sua voz não saía. Ele olhou para suas mãos e viu com horror que sua pele estava ficando translúcida, como se estivesse lentamente se dissolvendo, sendo consumida pela névoa que cercava a criatura. "Minha... minha vida..." ele balbuciou, desesperado, enquanto sua força vital parecia escoar de seu corpo.
A cada passo que a criatura dava, seus dedos finos e alongados se esticavam como garras deformadas. As unhas eram longas e pontiagudas, cobertas por pedaços de carne apodrecida e sangue coagulado. Havia algo errado em seus movimentos; era como se o corpo dela estivesse se despedaçando e se reformando a cada instante, nunca assumindo uma forma definida. Quando uma de suas mãos tocou o chão, o impacto fez surgir pequenos vermes e larvas que se espalhavam rapidamente, como se estivessem esperando por suas próximas presas.
Dayana caiu de joelhos, sentindo uma pressão insuportável em sua cabeça, como se algo estivesse tentando penetrar sua mente. "Não... isso não pode estar acontecendo!" Ela gritou, mas suas palavras soaram frágeis e distantes, como se já estivessem sendo sugadas pela criatura.
"Vocês sentem isso?" A criatura riu baixinho, um som gorgolejante, como algo preso em sua garganta. "É o toque da minha verdade... da verdadeira escuridão. Quanto mais vocês lutam, mais rápido eu me alimento. Suas almas... já estão começando a se desintegrar."
Lunorion apertou os olhos, tentando se concentrar, mas sentia sua mente se fragmentar. As imagens ao seu redor começaram a se embaralhar, e a aldeia, antes cheia de vida, agora parecia um lugar morto, congelado no tempo. Os aldeões, que momentos atrás dançavam alegremente, estavam parados como estátuas de carne, seus corpos começando a apodrecer, os olhos vazios e sem alma. Cada um deles parecia estar sendo consumido pelas mesmas sombras que envolviam a criatura.
Solare, com a respiração entrecortada, olhou para Lunorion e Raphael, desesperada. "Nós... não podemos lutar contra isso."
"Vocês não lutam..." disse Crumarke, suas palavras perfurando suas mentes como agulhas. "Vocês apenas aceitam. Aceitam que suas vidas... me pertencem."
Então, com um movimento lento e deliberado, Crumarke estendeu seus braços deformados e começou a envolver o grupo com suas sombras pegajosas, sugando sua vitalidade, pedaço por pedaço.
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Ecos De Luz E Sombras
FantasyNum mundo onde as leis são constantemente quebradas por pessoas ricas e desprezíveis, uma lágrima enfurecida do sol e um fragmento da escuridão da lua caíram na Terra com o propósito de salvar a humanidade. No entanto, será que essas forças terão su...