Tentação, Confusão e Construção | Hyunlix

Sozinho

Eu não consigo saber o que se passa na cabeça do Jisung enquanto ele profere todo esse discurso carinhoso e acolhedor pra tentar me fazer me sentir menos culpado com a decisão que tomei. Ele provavelmente me julga tanto quanto ou até mais que eu nesse momento, por ter agido como uma completa vagabunda, mas ele nunca vai me dizer isso.

É estranho porque ao mesmo tempo que vejo tenho certeza de que o Han está decepcionado e com nojo de mim, não consigo vê-lo ser tão maldoso assim comigo. Pelo visto é só mais uma das situações em que eu imagino o pior cenário possível e me maltrato com ele, mesmo enquanto vivo outra realidade.

Pra mim, a cabeça de ninguém deveria ser capaz de ser tão insuportável de viver assim, cheio sempre dessas mesmas cobranças que ficam piores a cada decisão merda que eu tomo. Será que isso passa uma hora? Será que existe uma forma de fugir da vala que se é jogado pelos próprios pensamentos? Realmente não sei, só não tenho essa resposta.

"E na verdade eu to aqui falando e falando num monólogo eterno que você não está ouvindo porque não são as palavras de acusação que você imagina que merecia estar ouvindo agora, estou certo?" Jisung respira fundo, vencido, se debruçando sobre a mesa enquanto mexe o café a sua frente com um canudo. "Queria saber o que tá se passando nessa sua cabecinha e te tirar daí, bebê. Não sei qual o impacto que isso vai ter em você, mas já to preocupado".

E ele realmente parece preocupado, consigo ver nas sobrancelhas levemente contraídas e no sorriso triste que montou nos lábios, tentando amenizar qualquer pensamento ruim que eu possa estar tendo. Ele é sempre tão bom pra mim. Por que é que continuo me sentindo sozinho mesmo com ele aqui?

"Ah, Ji" respiro fundo tentando organizar os pensamentos, dizer qualquer uma dessas coisas de uma forma que vá fazer sentido pra ele, que acalme ele "Eu vou ficar bem... na verdade nem foi tão ruim assim, só me incomoda pensar que ele é um estranho e que eu fui pago por isso" tá, não era exatamente o que eu esperava dizer, mas parece ter sido o suficiente pra amenizar as coisas. Talvez se eu tentar descontrair um pouco mais as coisas fluam por um caminho melhor.

"Não queria ser uma preocupação pra ti trazendo tudo isso" minha voz acaba soando insegura ao admitir isso e a expressão dele fica carregada novamente, não me parece um bom sinal dessa vez.

"E por que eu não poderia me preocupar contigo? Yongbok, sou eu, o Jisung, lembra? Nossas mães são melhores amigas da faculdade. Engravidaram e tiverem a gente juntos e nós crescemos inseparáveis como almas gêmeas que somos. Eu sempre vou me preocupar com você, meu raio de sol e isso não é algo ruim. Deixa eu me preocupar com você. Deixa eu chorar com você, deixa eu estar aqui pra ti! Não me tira isso, por favor!"

Os olhos dele se enchem de lágrimas enquanto fala. Parece estar sendo bombardeado pelo mesmo flashback que eu fui enquanto ouvia tudo isso. Como ele foi a única família que sobrou pra mim quando todo o resto decidiu que eu não fazia mais sentido para eles e simplesmente me jogaram fora. E é quase uma certeza que compartilhamos a mesma dor quando um soluço escapa pela minha garganta e nossos rostos se contorcem juntos. Começamos a sofrer entre os soluços, com o peso que se instalou sobre nossos peitos e nos esmaga quando nossas primeiras lágrimas finalmente começam a rolar.

Fecho os olhos com força tentando me permitir viver esse momento ignorando a existência das pessoas a nossa volta, tentando ignorar que elas provavelmente estão nos julgando e cochichando umas com as outras sobre o quão patéticos parecemos. Não sei se é essa a realidade por trás de minhas pálpebras, mas me recuso a vive-la de qualquer forma, então apenas me curvo sobre a mesa, com a cabeça sobre minhas mãos e me permito chorar, sentindo Jisung se aproximar e me abraçar, chorando contra o meu pescoço.