𝐏rólogo

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2 anos atrás

- O CORPO MAGRO DE ANABEL DANÇAVA sob o tecido justo de seu vestido, a cintura marcada deixando-a com o ar ainda mais sexy.

A taça de vinho entre seus dedos finos brilhava, o salão opulento tendo grande contraste quando comparado ao brilho intenso do objeto.

O lustre bem disposto no teto, a extensão longa e lisa do chão escuro. Corpos batiam um contra o outro, sussurros suaves de 'desculpa' saindo pela boca dos mais vulneráveis.

Contudo, nada chamava mais atenção do que o homem de cabelos grisalhos, bem acomodado na mobília cara que havia no canto direito do salão lotado. As duas pernas gordas acomodavam grandes bundas, que farejam dinheiro de longe.

E a missão dela era acabar com o caixa eletrônico de ambas.

Contudo, seus planos foram cancelados quando a bunda fodidamente bonita de Sandiego se acomodou ao lado do homem gordo, de dentes amarelos.

E mais uma vez, Anabel iria brigar por um corpo.

[. . .]

O salto alto batia contra o mármore do jardim, a escuridão ofuscando o brilho dos olhos esverdeados daquela que corria atrás de sua vítima.

Sem pensar duas vezes, Anabel meteu a mão no fecho de seu sapato, jogando-o contra o gramado molhado, pegando ainda mais velocidade agora que se mantinha descalça.

- Caralho, Sandiego - suas palavras carregavam um ódio incomum. Não era a primeira vez que o homem de cabelos loiros chegava primeiro em uma de suas vítimas.

E como se soubesse, Sandiego parou.
Suas íris escuras varreram o local e, quando encontram Anabel, um sorriso de escárnio ilumina sua boca.

A garota atravessou o enorme campo, a pistola saindo de dentro do coldre preso na coxa; seus dedos carregaram o armamento e o levantaram, apontando na direção do loiro.

- Ele é meu, seu fodido!

Um tiro.

- Venha pegar, amor.

Dois tiros.

Em vinte segundos, Anabel estava nas costas de Sandiego, seu antebraço preso em um mata leão no pescoço dele, forçando com firmeza.
Ambos revólveres estavam jogados na grande profundidade da fonte de água, o velho de cabelos grisalhos engatinhando na direção das árvores, tentando escapar daqueles dois que, se não estivessem brigando, estariam correndo atrás de si.

Sem hesitar, Sandiego derrubou o corpo da garota no chão, pondo-se sobre ela, enquanto prendia seus pulsos acima da cabeça.

As íris não se desgrudavam; castanho no verde. Verde no castanho.
Era sempre assim. O mesmo sentimento, a mesma briga, o mesmo final.

Sandiego levantou os olhos, encarando o corpo do homem que ainda tentava escapar.
Levantou-se com rapidez, caminhando em sua direção.

Grudou-lhe as mãos no colarinho da camisa e o jogou para longe da densa floresta.

- Hoje não, velho maldito - Sandiego lhe chutou o estômago, fazendo-o se comprimir e tossir. - Não cometo o mesmo erro duas vezes.

Anabel se levantou, correndo na direção da fonte de água sem nem hesitar.
Lançou-se lá dentro, ofegando enquanto umedecia a barra do vestido - a água gelada alcançando seus joelhos.

A garota agarrou o revólver negro dali de dentro, pulando para fora segundos depois.
Uma batida contra a perna. Outra. E mais outra. Isso foi o suficiente para ela dar a arma como pronta.

Aproximou-se de ambos homens, engatilhando aquilo.

- Sai daí, Sandiego. Ele é meu, porra.

O loiro a encarou, soltando o mesmo riso debochado de sempre.

- Não sei por que você ainda tenta. Sinceramente, que perca de tempo. - Foram suas últimas palavras antes de puxar outro revólver da calça, apertando o gatilho contra a cabeça grande do velho gorducho.

O sangue fluiu quente em Anabel, seu coração palpitando dentro do peito com tremenda rapidez e firmeza.
Ela poderia matá-lo também, se não soubesse que faria ambas famílias entrarem em guerra.

E isso o fez sorrir, porque ele sabia o quão obediente Anabel era.
Não suportaria iniciar uma guerra logo depois de seu pai se aposentar e alegar o fim dos serviços que fazia - agora, aguardando o momento em que sua filha completaria os vinte anos e tomaria seu cargo por completo, deixando de ser apenas uma assassina de aluguel.

Se o pai disse não, seria não.

O brilho nas íris de Anabel se esvaiu, o vazio voltando arrastado.
Sandiego deu-lhe às costas, empurrando o corpo sem vida de Carlies MilaNova para o chão.

O homem grudou o indicador no colarinho daquele estirado no gramado, começando a puxa-lo na direção da saída dos fundos.

E Anabel permaneceu ali, analisando tudo o que acabou de acontecer.
Ela havia perdido para Sandiego Mantovanni novamente.

E isso não era o pior.

Seu pai era, na verdade.

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