novo visual

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O tique-taque do relógio na parede ecoava pelo quarto. Apertei os olhos para tentar enxergar as horas, ainda estava meio cedo, faltavam duas horas. Duas horas para o meu primeiro dia no terceiro ano do ensino médio.

Meu último ano escolar...

Levantei as sobrancelhas, agora pintadas de roxo, combinando com o novo tom dos meus cabelos, um roxo acinzentado. Tinha cortado tudo até o pescoço, num impulso total. Encostei o queixo no ombro, encarando meu reflexo no espelho. Um calor estranho se espalhou no peito, e um sorriso pequeno escapou sem que eu percebesse.

Estava sendo radical demais? Nem o meu tio Amado sabia da minha decisão repentina de mudar o visual. Seria uma surpresa. Uma grande surpresa.

— Ele vai me matar… — murmurei para mim mesma, jogando o corpo de volta na cama sem me importar se iria manchar ou não os lençóis. — Mas vai combinar com meus olhos.

Cobri o sorriso com a mão. Meus olhos... Eu tinha uma condição rara, algo relacionado a uma quantidade anormal de melanina no estroma iridiano. Complicado, né? O resultado era que meus olhos eram violetas, um roxo incomum.

Desde criança eu usava lentes castanhas para me sentir menos estranha. Qualquer coisa fora do padrão era tratada como um defeito, como algo a ser escondido. E eu escondia. Muito bem, por sinal.

Mas, de repente, me veio uma ideia: que tal começar o último ano de um jeito diferente? Com coragem, sem me importar com o que pensariam. Eu sempre quis mostrar a verdadeira cor dos meus olhos. Só nunca consegui.

Mas, e se agora fosse o momento? Meu último ano na escola. Meu último ano sendo adolescente. Por que não me livrar de tudo que me prende? Do medo de viver, do medo de me declarar para o meu melhor amigo, do medo de ser eu mesma.

Quem sou eu, afinal? Sumire Kakei. Dezessete anos. Apaixonada desde pequena pelo meu amigo e nunca correspondida. A garota que vive escondida atrás dos outros, mas que está tentando mudar isso.

Sorri para mim mesma no espelho, ainda um pouco tímida, mas sentindo uma pontada de confiança surgir.

Sim, acho que esse ano pode ser diferente.

As horas foram se arrastando. Peguei algumas peças do armário e joguei em cima da cama: uma calça jeans de cintura alta e corte largo, uma blusa de manga longa azul-marinho. Para os pés? Decidiria depois. Eu iria para a escola de patins, então deixaria o tênis Converse para quando chegasse lá.

Respirei fundo e fui direto para o banheiro só com a toalha. Já estava na hora de tirar a tinta do cabelo.

Pendurei a toalha no gancho e abri a torneira. A água fria me fez hesitar, mas aumentei a temperatura, sentindo um alívio gostoso percorrer meu corpo. Fechei os olhos por um momento, deixando a água morna escorrer e levar embora o cansaço da manhã.

Depois de uns minutos, já estava pronta. Me enxuguei e voltei para o quarto, passando creme na pele e no cabelo. Coloquei a roupa que tinha escolhido e só faltava secar o cabelo. Liguei o secador e o barulho tomou conta do quarto, abafando todos os outros sons. Não daria para ouvir nem se alguém estivesse gritando meu nome.

Depois de mais alguns minutos, desliguei o secador e, então, escutei uma voz familiar me chamando. Era o meu tio.

Um friozinho subiu pela espinha, mas eu empurrei o nervosismo para longe.

— Pode entrar, tio! — gritei.

Ele abriu a porta e entrou no quarto. Eu ainda estava de costas, mas sabia que ele tinha parado bem atrás de mim. Me virei para encará-lo e dei uma voltinha, com os braços abertos.

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⏰ Última atualização: Oct 02 ⏰

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