Em todas novas vidas que eu ainda for viver, eu vou te escolher.

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AVISO: Alerta de gatilho, altas chances de choro e lágrimas. (selo Milly de choro comprovado.)

"Oi meu amor,
Como é que tá aí? Sei que você não vai responder, sinto saudades da sua voz ao vivo, mas vou te contar um pouco de como vem sendo as coisas desde aquele novembro, em que você deixou a carta e depois não voltou mais, ainda é difícil processar tudo o que aconteceu. Bom, eu ainda sinto sua falta, ainda olho para o céu todas as noites buscando a estrela mais brilhante, sabendo que você impressiona os anjos com sua voz melodiosa e risada gostosa de ouvir, minha estrela.
O trabalho não é o mesmo sem você, criar e produzir sem ser com e para você, não flui tão bem, quase desisti, mas, você não ficaria feliz com isso. Tudo anda cansativo, a empresa é tão vazia sem você, sua sala ficou pra mim, mas eu não queria, nem um pouco, porque tudo ali lembra você, e as vezes minha cabeça não funciona.
A Maria Catarina tá cada dia mais a sua cara, banguela e com a cascata de cachinhos que ela vive tirando do rosto, os olhos castanhos brilhantes, o jeitinho doce e carinhoso, sempre que olho para ela, me vem você na memória, as vezes é difícil não chorar. Por outro lado, o João Pedro se parece tanto comigo, mas, quer ser músico assim como o "papai João", ele vive entrando no seu estúdio, que continua montado até hoje, está aprendendo a tocar piano na escola, já arranha um pouco no violão que eu ensinei, além de cantar muito bem pra uma criança de 13 anos, eles também sentem muito sua falta.
A Malu continua sendo minha melhor amiga, veio morar comigo pra me ajudar com as crianças, a Gio até hoje não conseguiu ter conforto do que aconteceu, ela é meio ausente, mas eu entendo, sempre que ela lembra de você chora, assim como sua mãe, que ainda não consegue ver as crianças, as vezes seu pai vem aqui trazer presentes e nos acolhe e conversa com aquele jeito bobo dele, o Renan a mesma coisa, ele ainda lembra das suas performances com aquele jeito idiota, talvez ele seja o único que ainda alegra minhas memórias de você, fazendo piadas e relembrando seus momentos de ouro, ele me diverte.
O Zebu seguiu em frente com as composições que você havia deixado, escolhendo a dedo quem iria às cantar, mas algumas ele deixou guardadas, dizendo que são para o João Pedro cantar quando tiver idade. Ele e a Mari estão casados, entraram no casamento ao som de Alinhamento Milenar, todo mundo se acabou de chorar, foi lindo, entrei sozinho de padrinho, ninguém teve coragem de colocar alguém ao meu lado.
Falando nisso, terminei o livro que você pediu pra eu ler, e só na página 70 eu entendi você, aonde diz que o amor é fogo que arde sem se ver... E porra como arde, meu peito dói todos os dias de saudades de você, que saudades da gente, eu sinto sua falta todos os dias, ainda que me esforce para ser forte, é difícil me manter sem o seu apoio.

Fala alto aí de cima que eu preciso ouvir, como é que tá aí?"

Pedro terminou de escrever mais um de seus e-mails que nunca seriam respondidos, mas, que ele ainda relatava tudo como um diário, com os olhos cheios, demorado para conseguir controlar as lágrimas, respirando fundo e secando os olhos com as mangas da blusa quando a pequena Maria Catarina empurrou a porta do quarto, com dificuldade subindo na cama alta e engatinhando até ele, a garotinha de cabelos castanhos e cacheados já estava com seus seis aninhos.

— Papai, vamos lá pra sala. — Ela esticou a mãozinha puxado o pai com cuidado. — Quero ouvir as músicas do papai, tô com saudades.

Ela falou manhosa, os olhinhos brilhando, fazendo Pedro fungar, incrível como alguém tão pequeno, era um consolo tão grande para uma alma ferida.

— Vamos filha, também tô com saudades dele. — Ele falou baixinho, pegando a garotinha em seu colo, a abraçando, a forma que ela trazia o marido para sua memória era assustadora.

— A gente pode ouvir Clarão? É minha preferida. — Ela pediu, enquanto eles iam para sala, chegando no sofá ele colocou Maria no chão, e João Pedro não demorou para os encontrar ali, vestindo uma camiseta que um dia tinha sido do outro pai, João Pedro já tinha seus treze anos.

Impressionado Os Anjos - PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora