Gabriela - entre coroas e girassóis

Capítulo 01 | A origem

Gabriela Magalhães 🐝

Quando eu nasci, o senhor Antônio Magalhães, meu pai, como um bom soteropolitano, resolveu homenagear o escritor Jorge Amado e o meu nome foi tirado de uma das personagens do livro "Gabriela, cravo e canela". O autor escreveu um romance, e retrata Gabriela, uma jovem de beleza ímpar, cheia de vida, é a personificação de transformações acerca de uma sociedade patriarcal.

Minha mãe, a senhora Giovanna Almeida, é mineira e os dois se conheceram na época da faculdade, quando estavam no segundo ano de graduação, mais precisamente na cidade de São Paulo. Meu pai tem especialização em cardiologia e minha mãe é fisioterapeuta. Foi por influência deles que a paixão pela parte do cuidar surgiu.

Mas o destino não quis que eu fosse abençoada em ter os dois durante o meu crescimento. Meus pais sofreram um acidente aéreo quando estavam indo para um congresso no sul do país, e faleceram.

Aos oito anos eu fui morar com meus avós e tias no interior de Minas. Foram anos difíceis, eu estava sempre com saudades do afeto, do amor e carinho dos meus pais, e de tudo o que eles me proporcionaram durante um curto espaço de tempo.

Não que os meus familiares não fossem amorosos, mas o carinho dos meus pais eu jamais teria.

Hoje, aos vinte e cinco anos, eu só tinha olhos para os meus estudos, era a medicina que pulsava e me mantinha cativa no peito. Sempre que possível tentava manter em alta as notas, planejava bem meu futuro e deixava as baladas para depois.

Ainda na faculdade, no terceiro ano de graduação eu conheci o Demétrio, calouro do curso de Odonto, aquele homem de um e noventa, moreno, tatuado, corpo esculpido em beleza, com um sorriso encantador, surgiu na minha vida, virando-o ao avesso. No final, o que me cativou foi a sua sinceridade e depois daquele encontro, surgiu a necessidade de sempre estarmos juntos.

E assim foi por alguns anos...

Memórias, dia 07 de junho de 2019.
Como diz a música, "tudo que é bom dura pouco" e nossos sentimentos, planejamento, e a esperança de um futuro juntos foram se desfazendo, como um castelo de areia, depois de uma onda.

Primeiro, logo ao amanhecer, na sexta-feira, recebi uma mensagem, e juro que até tentei absorver as palavras, "Não existe outra forma de te contar... foi mal, eu errei pra caralho, fui moleque!" Só depois eu visualizei o remetente e fiquei sem entender.

E naquele momento lembrei que pela madrugada, o meu celular recebeu milhões de fotos, e de fato, com a lua na casa do caralho, meus astros estavam desalinhados, e nessa nova etapa de inferno astral eu estava vivendo-o intensamente. Ou seja, me fodendo legal!

Faz exatamente duas horas, quinze minutos, vinte três segundos que eu recebi sua mensagem de texto, seria um pé na bunda? Custava aquele traste do Demétrio Mendonça entender meu lado CDF¹? Tudo o que eu precisava era que ele fosse um namorado compreensivo e me desse um pequeno crédito, eu tinha um final de semestre bem exaustivo, custava esperar só mais um pouco? Faltava tão pouco para as férias...

Assim, eu teria tempo disponível para lhe dar toda a atenção do mundo. Mas aquele filhote de cruz credo decidiu que a semana de inferno que era o final do semestre durante o internato não poderia esperar, então no meio do caminho tinha "a calourada da odontologia".

E como desgraça pouca é bobagem, ele fez o que todo macho escroto, sem noção e sem remorso faz, traiu, e foi além, quando permitiu que geral explanasse o xifre e só depois da merda formada pôs um fim no nosso relacionamento através de um sms. Deixando uma placa verde neon gritante "corna mansa" bem colada na minha testa.

Que belo filho da puta.

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1. CDF: Segundo o dicionário, pessoa muito inteligente e esforçada que prefere estudar do que participar de atividades sociais e festivas, sendo geralmente o melhor aluno da sala: a melhor nota é sempre do CDF. Etimologia (origem da palavra CDF). Talvez das expressões "cabeça de ferro", "crânio de ferro".