Sombra na Multidão

2° CAPÍTULO - "Um Olhar"

Era mais um dia de trabalho na livraria. A mesma rotina de sempre. Soobin estava encostado no balcão, folheando uma revistinha qualquer. A capa colorida havia chamado sua atenção, mas não era nada que realmente o interessasse. A livraria raramente ficava movimentada. A maioria das pessoas entrava, escolhia um livro, e se sentava nas mesas espalhadas pelo lugar para ler. Comprar livros, de fato, era raro.

Soobin quase não levantava os olhos. Até que o som de passos suaves se aproximando do balcão o fez erguer a cabeça. Seus olhos caíram sobre uma garota que segurava dois livros. Ela era... diferente. Tinha uma beleza que não passava despercebida. Cabelos longos e lisos que escorriam até quase sua cintura, e um rosto que parecia ter sido esculpido com cuidado, era delicado. Ela sorriu de forma educada ao estender os livros para Soobin, e ele piscou rapidamente, quase esquecendo do que deveria fazer.

Ela entregou o cartão para pagamento, e foi nesse momento que Soobin aproveitou para olhar o nome dela gravado no plástico: "Jang Won-Young". Ele leu o nome em silêncio, seus olhos deslizando pelas letras. "Wonyoung... Que nome lindo", pensou ele, um sorriso discreto nascendo em seus lábios. Assim que a compra foi concluída, Soobin devolveu o cartão com um sorriso educado, agradecendo.

Discretamente, seus olhos seguiram Wonyoung enquanto ela se afastava do balcão. O som suave dos sapatos dela batendo no piso ecoava em sua cabeça, e o balanço dos cabelos dela, como se o tempo tivesse desacelerado, ficou marcado em sua mente. Ele a observou até ela desaparecer pela porta.

Assim que ela saiu, o sorriso de Soobin mudou, transformando-se em algo insidioso. Ele mordeu os lábios com certa satisfação, enquanto pegava uma caneta rapidamente e anotava o nome dela no pulso, um lembrete para si mesmo. Uma garantia de que não esqueceria aquele nome, por mais que ele parecesse ter sido cravado em sua mente.

O restante do dia se arrastou como sempre. Recolher livros, arrumá-los nas prateleiras, verificar as estantes, uma rotina tediosa e automática. Mas algo era diferente dessa vez. Sua mente estava longe. A imagem da garota ocupava cada pensamento, cada segundo. Ele não conseguia deixar de pensar nela. As engrenagens em sua cabeça começaram a girar, traçando planos, ideias de como descobrir mais sobre ela. Quem era, o que fazia, onde vivia.

Quando o expediente acabou, Soobin caminhou até o ponto de ônibus como sempre fazia. O ônibus chegou rápido, e ele subiu, escolhendo uma das cadeiras perto da janela, seu lugar habitual. No entanto, desta vez, ao invés de deixar a música preencher seus ouvidos e as luzes da cidade noturna passar por seus olhos durante o caminho, ele puxou o celular do bolso.

Soobin abriu o Facebook, uma conta que ele praticamente não usava mais. Ele não se importou com as notificações que pipocaram na tela; seu foco era outro. Rapidamente, digitou o nome que estava escrito em seu pulso: "Jang Wonyoung". E lá estava ela. Seu perfil no Facebook. Ele percorreu a página com os olhos ávidos, cada foto, cada detalhe. Não demorou muito para encontrar o link para o Instagram dela. Mas, claro, ele não podia segui-la com sua conta pessoal. Não ainda.

O ônibus parou, e Soobin guardou o celular no bolso, descendo rápido antes que perdesse o ponto. Ao entrar no prédio, mal notou a ausência do porteiro ou o ambiente decadente ao seu redor. Ele estava com pressa. Subiu as escadas correndo, ignorando a fome que começava a incomodar, e entrou em seu apartamento de um só cômodo, sem nem olhar para o ambiente ao redor.

Jogou-se na cama e, em poucos minutos, criou uma conta falsa no Instagram. Algo genérico, sem traços que pudessem ligar a conta a ele. Quando o perfil estava pronto, ele usou para seguir Wonyoung. A sensação de vê-la aceitar o pedido de amizade foi quase como uma vitória pessoal. A conta dela era privada, não podia ver suas postagens se ela não aceitasse sua solicitação, e não queria usar sua conta pessoal para segui-la.

Se levantou indo ate o lado onde ele considerava ser a cozinha, com o celular em mãos, Soobin abriu o freezer, pegando um resto de pizza que ainda restava. Ele voltou para a cama, mastigando distraído, enquanto seus olhos corriam pelas fotos de Wonyoung no Instagram. Cada postagem, cada sorriso, cada lugar que ela visitava. Ele prestava atenção nos detalhes. Não apenas nas fotos, mas nos comentários também. Quem eram os amigos dela? Onde costumava ir? O que gostava de fazer?

A curiosidade de Soobin crescia a cada deslizar de dedo pela tela. Seus olhos percorriam cada imagem como se estivesse construindo um quebra-cabeça. Ele começou a juntar as peças. Pequenos detalhes da vida dela que ela nem imaginava que alguém estava montando.

Enquanto ele navegava pelas postagens de Wonyoung, seu coração acelerava. A cada nova descoberta, um sentimento estranho de satisfação o envolvia. Queria acreditar ser apenas curiosidade, uma profunda curiosidade. Soobin queria saber tudo. Queria entrar no mundo dela, se aproximar de forma natural, sem que ela percebesse o quanto ele já sabia.

E com cada foto que ele via, com cada nova informação que descobria, o desejo de se aproximar aumentava. A realidade é que Soobin não estava apenas curioso. Ele estava obcecado. Mas não faria, obviamente não chegaria tão longe. Acreditava não ter ânimo para novas interações, talvez por isso não conseguia fazer novas amizades e nem mesmo conseguiu manter as que já tinha.

Estava apenas observando ela pelas redes sociais, que ruim havia nisso? Certo? Afinal, qual o sentido de postar suas fotos se não quer que outras pessoas lhe venham?

O apartamento continuava tão vazio quanto ele, mas o brilho da tela em suas mãos parecia a única fonte de calor naquele espaço gelado e sem vida. Havia algo nela, naqueles sorrisos perfeitos nas fotos. Soobin via cores nela, era como se Wonyoung brilhasse. Ele tinha certeza que suas preferidas era quando ela estava sorrindo. Era como se, ao mergulhar na vida dela, ele pudesse sentir um pouco de cor, como se estivesse ali com ela... ou no lugar dela.

Soobin tinha dias repetitivos e tediosos. Mas sequer tinha ânimo para fugir daquilo. Se sentia uma caixa vazia.

Ele largou o celular na cama ao lado e encarou o teto escuro por alguns segundos, o nome de Wonyoung ainda reverberando em sua mente.

─── Só estou observando... ─── Murmurou para si mesmo, quase acreditando. Um sorriso espontaneamente surgiu em seus lábios só de lembrar do sorriso de Wonyoung... era isso, estava apaixonado pelo sorriso dela. Era isso que repetia em sua mente... estava apaixonado pelo sorriso de Wonyoung.