Sombras em Chamas

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5:00 da manhã. O alarme toca, um som agudo que ressoa pela casa, mas Emanuel já está acordado. A ansiedade o mantém em vigília, os olhos abertos para a escuridão do quarto. Levanta-se, como um espectro em busca de seu destino, e caminha em direção ao armário. Com um gesto meticuloso, puxa o galão de gasolina que havia escondido, seu conteúdo escuro e viscoso refletindo a luz fraca da manhã.

Desce as escadas em silêncio, cada degrau rangendo sob seu peso, a casa ainda mergulhada em um silêncio opressivo. A atmosfera é densa, como se as paredes soubessem do que estava prestes a acontecer.

Na cozinha, Emanuel abre todas as bocas do fogão, permitindo que o gás escape lentamente, um sussurro de perigo que se infiltra no ar. O odor pungente preenche o ambiente, mas ele não se deixa abalar. Com um sorriso enigmático, caminha pela sala, espalhando a gasolina pelos cantos, passando pelo corredor e pelos quartos de seus irmãos, até finalmente chegar ao quarto dos pais.

Ele entra com passos leves, o coração pulsando em um ritmo frenético. "Pai, acabou o pão", diz com uma voz tranquila, quase como um canto de ninar em meio à tempestade.

O pai, ainda preso ao sono, murmura: "Pega algum biscoito."

"Não tem também," responde Emanuel, enquanto apanha o dinheiro da carteira que o pai apontou, uma ação simples, mas carregada de significado. Antes de sair, ele tranca a porta com um clique suave, assim como fez com todas as outras da casa, uma a uma, garantindo que não haveria saída.

De volta à cozinha, ele pega um fósforo, o movimento rápido e preciso. Ao riscar, a chama ilumina seu rosto por um breve momento, revelando um brilho insano em seus olhos antes de tocar o chão encharcado de gasolina. O fogo se espalha rapidamente, serpentes ardentes engolindo o ambiente, enquanto Emanuel se retira pela porta dos fundos, trancando-a atrás de si com um sorriso frio e satisfeito.

Montando na bicicleta, ele começa a pedalar, o coração batendo calmamente em seu peito, como um tambor em um desfile macabro. O caos que ele havia criado não o incomodava; ao contrário, era uma sinfonia de triunfo.

Na padaria, age como qualquer outra manhã, pedindo pães e doces, a expressão no rosto uma máscara de normalidade. No entanto, ao virar a esquina de volta para casa, a realidade se transforma em um pesadelo. A rua está cheia de carros de bombeiros e policiais, as luzes piscando como faróis de um mundo em chamas, enquanto uma densa nuvem de fumaça engole o céu.

Emanuel para a bicicleta, o coração agora disparado, mas não de medo — é a emoção do momento que o envolve. Ele corre em direção à multidão de curiosos, o olhar cheio de uma surpresa bem ensaiada. "O que está acontecendo?" pergunta, sua voz ecoando com um falso espanto.

"É sua casa, garoto?" questiona um policial, a urgência em sua voz cortando a cena como uma faca.

O choque se espalha pelo rosto de Emanuel, mas é apenas uma fachada. "Minha casa?! Minha família! Eles estavam lá dentro! Eu... eu não sei o que aconteceu!" Suas palavras são um eco de desespero, um lamento que ele mal consegue conter.

Ele avança em direção às chamas, mas é rapidamente contido por outro policial. Emanuel se debate, gritando em um desespero genuíno, as lágrimas brotando como um rio de hipocrisia. O caos ao seu redor só intensifica a satisfação que pulsa em suas veias.

Enquanto os bombeiros lutam contra o fogo, a explosão esperada chega quando o gás do fogão finalmente atinge seu limite, lançando chamas para o céu como se fossem almas clamando por libertação. As portas trancadas garantiam que ninguém escaparia do inferno que ele havia criado. Emanuel, no meio da confusão, observa de longe. Por fora, ele é um garoto destroçado. Por dentro, a alegria pulsava em seu ser: o plano tinha sido perfeito.

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⏰ Última atualização: Oct 05, 2024 ⏰

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