Stitches

0.3

Capítulo 3

Quando cheguei em casa, após o primeiro dia de aula, fui recebida apenas pelo silêncio. Nenhuma voz, nenhum som de passos, nem mesmo o usual burburinho da cozinha. A mansão dos Chambers, sempre tão imponente, parecia vazia. Suspirei de alívio. Pelo menos, teria um tempo para relaxar sem ter que lidar com as presenças intimidadoras da família — principalmente Lucas.

Deixei minha mochila na entrada e subi rapidamente para o meu quarto, tirando os sapatos assim que cruzei a porta. Depois de um dia tão cheio, tudo o que eu queria era alguns momentos de paz. Sentei-me na cama, olhando para a janela que dava para o imenso jardim. O céu começava a escurecer, e a leve brisa que entrava pelo vidro semiaberto trouxe um alívio refrescante.

Depois de alguns minutos, me levantei e desci para pegar algo na cozinha. Ao passar pela sala de estar, ouvi um barulho distante, um ronco de motor. Parei por um momento, tentando identificar de onde vinha. Fui até a janela da sala e, ao olhar para o portão principal, vi uma moto preta entrar com velocidade, parando bruscamente no caminho de pedras. Meu coração disparou. Mesmo de longe, reconheci Lucas. Seu cabelo bagunçado, tatuagens à mostra, e a jaqueta de couro inconfundível. Ele desceu da moto, tirando o capacete com aquele jeito desleixado, como se o mundo girasse ao seu redor e ele não se importasse.

Minha primeira reação foi de pânico. Não estava pronta para encarar Lucas, não agora, e certamente não sozinha. Senti meu corpo se mover antes de sequer pensar e me escondi atrás da cortina grossa da sala de estar, esperando que ele entrasse direto sem me notar. Segurei a respiração, ouvindo o som de suas botas ecoando no caminho. O clique da porta da frente sendo aberta ressoou pela casa.

Prendi o ar, imóvel.

Lucas entrou, e por um breve segundo, o silêncio reinou. Podia sentir a tensão no ar. Ele estava ali, e eu torcia para que não me visse. Ouvi o barulho de chaves sendo jogadas sobre a mesa, o zíper da jaqueta sendo aberto. Ele ficou parado por alguns segundos, provavelmente olhando ao redor, mas eu não me atrevia a mexer um músculo.

De repente, seus passos começaram a se aproximar, ecoando cada vez mais perto. Me afastei um pouco mais para a lateral da cortina, meu coração batendo tão forte que parecia que ele poderia ouvir. Os passos pararam na entrada da sala de estar. Será que ele sabia que eu estava ali?

Fiquei completamente imóvel, torcendo para que ele não entrasse. O som de sua respiração parecia preencher o ambiente. Por que eu estava me escondendo? Eu nem sabia, mas havia algo na presença de Lucas que me deixava nervosa, desconcertada, como se ele tivesse o poder de controlar o ambiente apenas com um olhar. Eu não queria ser alvo de sua atenção, não agora, não depois de um dia tão exaustivo.

Então, ouvi seus passos se afastarem, indo em direção à escada. Soltei o ar devagar, sentindo o alívio inundar meu corpo. O som das botas de Lucas subindo os degraus me deu a certeza de que ele estava fora de vista, pelo menos por enquanto.

Esperei mais alguns minutos antes de sair do meu esconderijo atrás da cortina, respirando fundo para acalmar meus nervos. Subi rapidamente as escadas, tentando não fazer barulho, e entrei no meu quarto. Fechei a porta e encostei-me nela, deixando a adrenalina se dissipar.

Por que eu estava agindo como uma criminosa? Tudo o que eu queria era evitar mais uma interação com ele, especialmente depois das provocações na escola. E agora, a sensação de alívio por ter escapado de uma possível situação desconfortável me trouxe um breve sorriso. Eu sabia que não poderia me esconder de Lucas para sempre, mas por enquanto, isso era o suficiente.

Sentei na cama e fechei os olhos por alguns segundos, tentando encontrar um pouco de paz. Não havia mais barulho vindo de seu quarto, e pelo menos isso me garantia que ele estava ocupado com outra coisa — provavelmente alguma música alta ou qualquer coisa que ele fazia para se isolar.