Track 8 - Harley's in Hawaii

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Entre assombrações e serial killers meu filme de terror é protagonizado por Lee Heeseung
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Saímos do galpão em completo silêncio. Não sei por quanto tempo aguentaria ficar assim, sem poder dizer uma única palavra, seguida por um sentimento intenso de vergonha alheia. Geralmente, eu só me sinto assim quando estou com minha mãe ou com pessoas mais velhas. Basicamente, esse era o caso com Lee Heeseung, embora eu não tenha tanta certeza se ele era tão mais velho assim. Quero dizer, dois anos a mais do que eu? Isso não significava nada; era a mesma diferença de idade que eu tinha com Ni-Ki e Jungwon, e nos dávamos bem a maior parte do tempo. No entanto, tenho uma teoria: talvez Lee Heeseung pareça realmente bem mais velho devido à quantidade de responsabilidade que ele teve desde que era uma criança. Não sou nenhuma especialista no assunto, mas acredito que esse fato faça as pessoas amadurecerem, às vezes mais do que o necessário.

Heeseung agora trancava as portas de entrada do galpão. O vento batia forte, e estou praticamente engolindo alguns fios de cabelo sem querer enquanto o observo fazer aquela tarefa tão simples. Seus cabelos voavam igualmente aos meus. Por fim, ele termina, jogando os cabelos para trás e colocando o capacete. Faço o mesmo por força do hábito; afinal, não teria como nós entrarmos em conflito se estivéssemos fazendo a mesma coisa. Apesar de sentir que me manter perto de Heeseung é equivalente a um conflito total, mesmo que não fosse premeditado como da última vez em que nos encontramos.

Era uma péssima ideia permanecer aqui como se houvesse, no mínimo, algum motivo plausível. Se Ni-Ki deduziu que seu irmão e eu poderíamos nos tornar amigos ou, sei lá, meros colegas, ele não poderia estar sendo mais estúpido. Aquilo estava fora de cogitação, de órbita; era um evento que o espaço-tempo jamais concordaria. Perguntei-me até, durante o percurso do galpão até sua moto estacionada, quantas virgens foram sacrificadas para que esse momento estivesse acontecendo. Será que elas sabiam que haviam morrido em vão? De qualquer forma, era tarde demais para chorar pelo leite derramado.

Heeseung agora, posicionado em sua moto, virava a chave de ignição e me encarava de cima a baixo com desgosto, se perguntando, assim como eu, o motivo de tudo aquilo. O motor roncava alto e provavelmente já estava quente. Enquanto isso, eu permanecia distante daquela situação, presa em meus próprios pensamentos, incapaz de fazer uma tarefa tão simples quanto ir até lá e me sentar na garupa.

— Você não vem? — ele perguntou, meio impaciente. Não respondo de imediato. Confesso que até tentei verbalizar algo, mas as palavras simplesmente não saíam da minha boca.

Esse era um grande defeito meu, penso, e logo desisto. Talvez por isso eu estivesse com tanta dificuldade em terminar aquela maldita coreografia, por pensar demais no momento em que eu deveria estar concentrada no ensaio. No entanto, um pouco de lucidez às vezes era necessária. Afinal, dentro de mim havia duas Hannas: a que pensava demais em seus erros e a que não estava nem aí para as consequências. No momento, estou em um intermédio para decidir qual delas lidaria melhor com a presença de Heeseung.

— Gasolina custa dinheiro, sabia? — ele continuou a dizer, atrapalhando o meu foco mental. — Está com medo? Eu posso ir mais devagar... Se não contar a ninguém, você pode até... bom, você pode...

— Eu posso? — perguntei, encorajando-o a continuar.

— Pode me abraçar — ele diz a última palavra com tanta dificuldade que eu mal consigo acreditar que não sou a única que está tendo um leve surto mental — ou sei lá, fazer essas coisas de garota mimadinha. O importante é que se sinta segura.

— Claro, porque isso é importante para o Ni-Ki? — avancei, me sentando na garupa da moto. — Quer que eu diga isso a ele em voz alta?

Passei meus braços por sua cintura, segurando firme. Heeseung travou o abdômen no mesmo instante em que minhas mãos se encontraram lá; era como se ele estivesse impossibilitado de respirar. Aquilo me fez rir um pouco. Quero dizer, havia mesmo receio dentro de mim com a presença de alguém tão patético como Lee Heeseung?

Paranorma 1009 - Lee HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora