Otto

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Era uma manhã fria de abril de 1975. Otto se levantava para tomar seu café e sair para trabalhar, com com uma leve ansiedade para que fosse pontual em sua chegada, ele organiza seu café de maneira metódica e quase mecânica. Ele sempre foi assim, disciplinado e focado, mas não que isso fosse algo sempre bom para ele, às vezes essa característica acabara por o atrapalhar ou o fazer menos feliz em sua vida social, que diga-se de passagem, nunca foi agradável.
Após seu café, Otto entra no carro e sai olhando o relógio, tremendo, em direção a o que seria sua segunda semana de trabalho naquele laboratório, em uma segunda-feira comumente odiosa para muitas pessoas, Otto tinha mais um motivo para estar apreensivo naquele dia.
Chegando a porta do edifício, Otto sai do carro, com a mesma tremedeira incessante e um suor gelado que descia da sua testa até o fim do seu rosto, ele olha aquele prédio monocromático com um pensamento em mente: "isso vale a pena, vamos lá...". Ele ajusta seu jaleco, organiza a gola de sua camisa e caminha em direção a recepção, onde troca olhares com a atendente da bancada, e sem nenhuma única palavra, a moça abre um elevador especifico para Otto, onde ele entra, e desce em direção ao seu local de trabalho.
Enquanto Otto seguia para os níveis subterrâneos daquele prédio, a sensação de ansiedade e desespero se transformariam em aceitação mórbida para o que o aguardava nos níveis mais baixos daquele local.

Os andares subiam diante de seus olhos de forma lenta, ele olhava aquele painel com números verdes, que contrastavam com o branco do metal e concreto daquele elevador exageradamente largo.
Chegando ao décimo segundo subsolo, a porta se abre em duas, dando acesso a um corredor mal iluminado com diversas portas. Otto sai do elevador, caminha lentamente até a porta de número 202, ele puxa seu cartão e põe no interior de uma fechadura eletrônica, com as mãos pálidas e frias, ele abre a porta e encontra um dos seus colegas:

-Otto! finalmente você tá aqui, os nossos superiores passaram mais instruções pra testar nas cobaias.

Exclama Marcus, com um café em uma mão e uma prancheta em outra, mal deixando Otto se acomodar no lugar em que havia acabado de chegar.

-O que tem de novo pra hoje?

Diz Otto, de maneira impaciente, colocando suas coisas na mesa de metal no centro da sala e tirando documentos de dentro dela. Enquanto Marcus chega perto de Otto, com a prancheta na mão falando das tarefas a fazer naquele dia.

-Hoje eles mandaram coisas mais simples, é só injetar um desses compostos na cobaia e mandar os resultados por escrito pra eles.

Marcus fala enquanto mostra os três frascos enviados para eles, com um líquido viscoso escuro, meio avermelhado. Otto encara aquilo com a mesma desconfiança das semanas passadas, com uma curiosidade incessante de saber quais eram as propriedades daqueles compostos, ou quais eram as motivações para todos aqueles testes e experimentos.

-Eles não falaram nada sobre os compostos de hoje?

-Não Otto, acho que você já sabe que eles não nos informam nada de maneira concreta, eles só mandam, e a gente obecede. Eles nos contrataram pra isso.

-A gente vai acabar se ferrando junto com nossa equipe nesse projeto, eu tô te falando isso desde o primeiro dia. Eu tenho certeza que a gente tá num caso criminoso!

-Otto, não questiona! Não lembra do contrato? Enquanto a gente servir direito a eles, e manter a confidencialidade, o governo garante proteção e um salário gordo, quer mesmo correr o risco de perder isso?! São 100 mil por mês!!

Otto encara Marcus, aborrecido e sem resposta, ele pega um dos frascos e põe o conteúdo em uma seringa fina e longa, e a deixa reservada na mesa onde estão os outros dois frascos.

-Vamos fazer isso logo.

Ele vai em direção aos armários presentes na sala, o qual ele abre e retira uma roupa de segurança, trocando o seu jaleco pela mesma, e indo em direção a porta da sala da cobaia.

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⏰ Última atualização: Nov 02 ⏰

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