Fernando se contorce no banco do carro, tentando encontrar uma posição que alivie a tensão acumulada em seus ombros. O sol frio da manhã de São Paulo entra pela janela aberta, mas a brisa fresca não consegue dissipar a pressão que ele sente no peito. A mentira que contou à mãe sobre ter uma namorada tomou proporções inesperadas e todos os seus irmãos já estavam sabendo da novidade.
Recebeu a ligação de Thomas, contente pelo irmão mais velho ter encontrado alguém que certamente está fazendo seus olhos brilharem. A realidade é que Fernando se sente sufocado por dentro com uma mentira que era apenas para ser uma brincadeira com a mãe. Desde o término caótico com Charlene, ele se esconde atrás de muros emocionais.
A mulher era mais velha e cheia de ambições, foi uma tempestade na vida dele que ainda era um jovem universitário. Fernando se recorda do gosto amargo das traições e do vazio que ficou após a separação conturbada. Estava mais em um jogo de poder do que em uma relação saudável ao se envolver com ela, sendo um dos motivos do desejo de desafiar a mãe controladora que sempre tem um plano para sua vida.
Agora, ele se vê preso na teia da própria invenção, a ideia de ter uma namorada soa tão distante e irreal. Fernando solta um suspiro profundo e bate os dedos nervosamente no volante. A situação o atinge como um soco no estômago. Como pode manter essa farsa? O peso da mentira parece crescer a cada instante. Olhando pela janela, vê as pessoas passando apressadas na calçada. No sinal vermelho, ele fecha os olhos por um momento e tenta pensar em como resolver aquele caos. Abrindo os olhos novamente voltando a dirigir decidido a agir, mantendo a mentira.
Fernando chega à empresa de Glenda, a ideia é fazer uma passada rápida para pedir sua ajuda, afinal, também precisa trabalhar. Ele atravessa o saguão movimentado de pessoas apressadas. As portas do elevador abre e ele entra, pressionando o botão do andar desejado da imobiliária Prado. Ao chegar ao andar desejado, o corredor do escritório com cheiro recente de limpeza está iluminado, as obras de arte nas paredes exalam o gosto sofisticado da CEO, incluindo os prêmios que recebeu pela empresa ser vencedora anos de representatividade, incluindo números de funcionários de grupos minoritários.
Alguns funcionários o olham com curiosidade e sorriem amigáveis, Fernando retribui com acenos, sentindo-se um pouco mais leve. Ele avança até a sala de Glenda dando apenas um toque na porta e abrindo sem esperar que ela conceda a ordem. A CEO está sentada à mesa, falando ao telefone como quem acabara de receber uma notícia inesperada. Assim que percebe a presença de Fernando, avisa que precisa desligar e direciona sua atenção para ele.
— Então você anda mentindo pra sua mãe, Fernando Duarte? — Glenda estreita os olhos.
— Porra, até tu já tá sabendo — ele joga a maleta em cima da poltrona e deita no sofá.
— Claro, ela ligou pra todo mundo pra espalhar essa porra — Glenda segue para a poltrona e senta. — Me admira ela achar que é verdade.
— Caralho, não esculacha também…
— Tu foge de relacionamento igual o diabo foge da cruz — Glenda umedece os lábios — mas o que deu em você pra inventar isso?
— Foi por uma boa causa porque me senti coagido, saiu sem querer. Agora tô fodido — Fernando dá de ombros.
— Por que acha isso? — Glenda franze a testa.
— Querendo ou não, vou ter que aparecer no aniversário de casamento dos meus avós. Como vou sustentar essa mentira por mais que eu queira? — Ele se ajeita desconfortavelmente no sofá.
— Vocês homens não sabem mentir — Glenda abre a caixa de charutos com um movimento ágil, pegando um e o isqueiro. Ela coloca o charuto entre os lábios e acende com um gesto rápido.

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Proposta Perfeita
Roman d'amourFernando considera o aniversário de casamento dos avós um evento indesejado, e as razões para isso são óbvias. No entanto, à medida que a data se aproxima, ele decide que é necessário mudar essa situação naquele ano. Para isso, é fundamental deixar...