Prólogo

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O voo de nove horas parecia um abismo entre o mundo que eu conhecia e o que estava prestes a conhecer. Não era só o fato de estar viajando em classe executiva, o que por si só já era um exagero para alguém como eu, mas sim o destino: uma ilha luxuosa, reservada para uma festa de casamento. 

A família do noivo da minha irmã não conhecia outra forma de viver que não fosse em abundância. Eu, por outro lado, sempre vi o luxo como uma forma de distanciamento da realidade. Quanto mais eles gastavam, mais desconectados pareciam da simplicidade que eu tanto prezava.

A aeromoça se afastou, e eu voltei a olhar pela janela. As luzes da cidade que deixávamos para trás pareciam diminutas diante da imensidão do céu. Fechei os olhos por um momento, tentando afastar o desconforto. Estava prestes a passar uma semana cercada de pessoas que mediam o valor das coisas pelo preço, enquanto eu tentava encontrar sentido nas relações humanas.

Então, um homem se sentou ao meu lado.

Ele não era o tipo de pessoa que passava despercebida. Alto, com uma presença que parecia preencher todo o espaço ao redor, ele vestia uma camisa preta justa que destacava os braços tatuados. Havia algo quase enigmático em suas feições — o sorriso que ele me lançou foi o tipo de sorriso que poderia causar problemas. Sorri de volta, sem realmente saber por que, mas senti o calor subir pelas bochechas.

— Desculpe por invadir seu espaço — ele disse, com uma voz rouca e profunda.

— Não se preocupe. — Respondi rapidamente, tentando parecer indiferente, mesmo que por dentro estivesse intrigada.

Ele puxou o cinto de segurança, e por alguns minutos não houve mais conversa. Meus pensamentos, que antes estavam focados na extravagância do casamento, começaram a vagar em direção a ele. Quem seria? Um homem de negócios? Um artista? Ou, talvez, alguém tão alheio a esse mundo quanto eu?

Ele tirou um livro da mochila de couro desgastado que havia colocado debaixo do assento. Uma surpresa. Não parecia ser o tipo de homem que lia. Pelo menos não na minha visão estereotipada de quem ele era. O título era algo em italiano que eu não reconhecia, e ele se concentrou na leitura, seus olhos se movendo rapidamente sobre as páginas.

A curiosidade me corroía, mas eu não queria parecer intrometida. Decidi fechar os olhos e tentar dormir. Contudo, a proximidade dele e o leve cheiro de sua colônia me mantinham alerta, incapaz de relaxar.

Após alguns minutos de silêncio, ele falou novamente, sem tirar os olhos do livro:

— Você também está indo para o casamento?

Fiquei surpresa pela pergunta, mas respondi calmamente:

— Sim. Sou irmã da noiva.

Ele ergueu uma sobrancelha e finalmente fechou o livro, virando-se para mim.

— Interessante. Eu sou... amigo da família. — Ele hesitou por um segundo, como se escolhesse cuidadosamente as palavras. — Na verdade, conheço o noivo há bastante tempo.

Havia algo na maneira como ele disse aquilo, um tom sombrio escondido sob o sorriso fácil. Algo sobre ele era um paradoxo. Ele parecia pertencer a esse mundo de luxo, mas ao mesmo tempo, algo em seus olhos, nas linhas de suas tatuagens, sugeria que havia muito mais por trás da fachada.

— Sou Winter, a propósito. — Estendi a mão, tentando manter a cordialidade.

— Jackson. — Ele apertou minha mão, e o toque foi firme, seguro. Havia uma faísca no ar, e por um breve segundo, senti uma conexão inexplicável, como se nossas histórias já estivessem entrelaçadas antes mesmo de nos conhecermos.


Sob o véu da fortunaOnde histórias criam vida. Descubra agora