Quem É Essa?

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     O mar, água sem fim. O homem pouco soube ou saberia sobre onde daria o mundo imenso e inimaginável abaixo dos oceanos, pois só observava o superficial, sempre acima da terra ou do próprio céu…
     O que se sabia, no mundo acima da terra, era que as sereias haviam sumido na época das Grandes Navegações. Com homens navegando e tendo canhões, revólveres e espadas, além do aprendizado de que não se poderia ouvir o canto das sereias, esses seres passaram a ficar no fundo do mar para a sua própria proteção da raça humana.
     O rei dos mares possuía sua filha legítima e os filhos bastardos, assim como todos os deuses costumavam ter. Dentre os filhos bastardos, havia apenas um que gostaria de destronar a irmã e conquistar o poder absoluto para si mesmo.
     Anantawut movia sua calda de grossas escamas para lá e para cá. O peito nu possuía músculos advindos dos trabalhos manuais que fazia na forja das armas do deus Noturno ou como poderia ser chamado… Poseidon.
     As mãos cheias de calos seguravam a sua última arma criada, a espada mais afiada e inquebrável já existente. Uma espada assassina de deuses. Ou que poderia fazer algo próximo disso.
     — Consegui! Finalmente, eu vou conquistar meu lugar de direito, assim como o primeiro filho de um deus deveria possuir! — Elevou a espada ao alto se sentindo o campeão do mundo.

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     Pilanthita era uma surfista vencedora de medalhas no mundo todo. Mas um ataque de tubarão, em um ponto do ocenano onde não poderia se encontrar um tubarão, a havia feito perder uma parte de sua perna esquerda.
     Haviam alguns meses em que ela estava treinando para competir em competições contra outras pessoas com deficiência. As medalhas não deixariam de brilhar em seu peito. E ela levaria orgulho para o Havaí, assim como havia levado tantas vezes antes.
     Os cabelos loiros, clareados pelo contato frequente com o sol, estava molhado. A pele estava bronzeada num tom em que a deixava com um tom chamativo. E o sorriso estava em seu rosto. Um sorriso que a deixava com uma aparência mais bonita por deixá-la com aquela aparência de quem é capaz de iluminar todos ao redor.
     Ela amava o mar e estava em casa quando sentia a água salgada tocando seu corpo musculoso. Então, passaria a tarde inteira treinando na praia da pequena ilha de pescadores humildes em que vivia, cercada de tantos vulcões.
     Esperou as ondas virem em sua direção para nadar em direção à elas. E elas sempre vinham, assim como ela queria. Nunca a deixavam na mão, o que facilitava que ela praticasse sempre da melhor forma.
     A água do mar era salgada. Os lábios de Pil estavam acostumados com aquele gosto e ela sabia que nunca, em sua vida, poderia ficar longe daquele gosto ao qual tanto amava. Então, ela sentia o gosto, enquanto murmurava para si mesma a música da Madonna, La Isla Bonita.
     O que ela mais amava no mundo, além do mar, era a Madonna. Dançava, movendo a única perna que tinha na água, fazendo os movimentos com os braços na água em cima da prancha e cantava para si mesma músicas da cantora que amava tanto.
     Ficou ali por algum tempo, até ver em seu relógio à prova d'água que estava na hora de estar em casa. O pai, um pescador da ilha, levaria os peixes da janta e ficaria preocupado se ela não estivesse lá quando ele chegasse da pesca.
     Ela nadou em cima da prancha rumo à praia. Até que tocou o pé na areia fofa, usando a prancha como apoio para chegar à prótese que usava em sua perna, onde a encaixou no que restava de sua perna.
     Após se levantar e caminhar rumo à sua casa, Pilanthita viu o corpo de uma mulher caído na orla mais adiante. Parecia desacordada. Talvez estivesse afogada ou morta, o que assustou a mulher e a fez sair correndo com a mobilidade em que poderia até chegar ao corpo caído.
     Sabendo dos procedimentos de salvar uma pessoa, Pil verificou o pulso e viu que a mulher estava viva, também que respirava. Então, a olhou com calma. Estava um pouco pálida.
     — Coitada! Capaz de ter sido um naufrágio e ela veio nadando até aqui. Deve ter passado por apuros, tadinha. Tão bonita e quase perde a vida assim. — Suspirou e resolveu esperar por ali para que a mulher não ficasse sozinha.
     Ela sabia que o pai a procuraria e a ajudaria a levar a mulher para casa, procurando ajuda com o curandeiro da ilha.
     Pil não possuía mais as formas para arrastar a mulher sozinha e, na ilha, não possuía nenhum hospital. Tudo ali era feito com a ajuda de um pequeno posto médico e com as curas medicinais indígenas antepassadas do curandeiro do lugar.
     Ela suspirou e esperou ao lado do corpo caído. Não havia muito o que poderia se fazer além disso, esperar. Então, ela começou a cantar baixinho, murmurando para si mesma, enquanto observava a mulher desacordada com certa preocupação.
     — Bah, bah, bah… I'm crazy for you… — Murmurava no ritmo da música.
     — Hum… — A mulher caída gemeu.
     — Oi… — Pil se aproximou e viu que a mulher gemia e se mexia como se quisesse nadar para longe de algo. — Calma… Está tudo bem, você está em terra firme. Já passou. Só fica calma, eu estou com você.
     Pil falou com calma e tranquilidade. Um tom de voz que só poderia vir de alguém que estava acostumada a ter a calma em sua vida, alguém que esperava ondas o dia todo e que havia recomeçado do zero com a mesma calma em que esperava as ondas.
     Se via que Pilanthita era uma mulher que se movia com a calma de uma maré em dia fresco. Era paciente e calma, levando e trazendo as ondas. E era com essa mesma calma que ela falava para a mulher loira caída na areia da praia.
     — Não… — A mulher repetia como se quisesse evitar algo.
     — Calma, está tudo bem. — Pil passou a mão na testa da mulher para afastar os cabelos que estavam caídos em seu rosto e a mulher parou instantaneamente.
     Pil, então, viu que a mulher ardia em febre. Olhou com toda atenção para o rosto pálido da pobre mulher que aparentava estar muito cansada e doente pelo tanto que havia nadado. Notou os lábios com aquela bolinha, muito característica e os olhos puxados.
     — Tão bonita, pobrezinha! E está tão doente. Se eu tivesse força, já teria levado ela para casa. — Murmurou para si mesma e a mulher se moveu, colocando a mão em cima do pé de Pil.
     Com a pressa e a preocupação, Pil nem notava que estava com a prótese mal colocada em sua perna. Ela nem sentia o incômodo que deveria ser causado pela forma que a prótese estava.
     Pil suspirou e sentiu pena genuína. Sabia que os músculos que possuía, feitos pelos anos no mar, movimentando os braços e as pernas para nadar longas distâncias, não serviam de nada quando ela possuía uma única perna que aguentaria o peso da mulher. E as próteses não eram tão boas, mesmo sendo os anos oitenta e a tecnologia já estivesse bem melhor quanto a isso.
     — Espero que meu pai chegue logo para que a gente leve ela para casa e chame o curandeiro. — Voltou a suspirar e olhou para o mar.
     O pôr do sol estava deixando as cores do céu laranja, roxa e rosa. Ela amava quando ficava nesse tom colorido. E sentia tristeza por não poder mais ver o pôr do sol dentro do mar. Não quando o pai a havia proibido de ficar solitária.
     Pil sempre havia sido uma criança ligada ao mar. Depois, foi uma adolescente que, se pudesse, viveria o dia todo no mar e não estudaria, mas o pai havia a obrigado a estudar durante horas todos os dias em sua casa.
    Sempre que podia, estava no mar. O mar era como se fosse uma extensão do corpo dela. Como se ela tivesse sido feita no mar e não na terra com os homens. E ela se sentia assim, um peixe. Assim como se sentia um peixe fora d'água com as pessoas que não gostavam tanto do mar quanto ela.
     — O que está fazendo… — O pai apareceu, ao longe e gritou irritado, mas parou ao ver o corpo.
     O homem de aparência de uns quarenta e poucos anos, e músculos causados pelos trabalhos de pesca, correu com muita pressa para perto da filha e da mulher caída. A mobilidade era a mesma de alguém que estava acostumado a correr na areia, pois era um homem que gostava de se exercitar por prazer.
     — Por Deus! O que aconteceu? — Ele colocou a mão na cabeça.
     — Encontrei ela assim, pai. Precisamos ajudar. — Pil estava preocupada e o pai concordou, pegando a mulher no colo com uma certa facilidade.
     — Vamos… — O homem saiu andando e Pil ajeitou a prótese para caminhar melhor, depois que ficou em uma posição para ver a mulher caída.
     Então, os dois saíram caminhando lado a lado até a casa humilde que mais parecia ser uma cabana simples de pescadores. E após o pai colocar a mulher no colchão de Pil, ele saiu apressado para ir atrás do curandeiro, deixando Pil sozinha com a mulher.
    Ela ficou ali em pé olhando a mulher que ainda ardia em febre. Suspirava e cantava Madonna baixinho, mais para se acalmar do que qualquer coisa. Sentia muita pena da mulher e torcia para que ela se recuperasse.
     — I am a material girl… — Até que viu a mulher murmurando a letra junto com ela, o que a deixou surpresa. — Hum… Gosta de Madonna. Legal… Você vai ficar bem para a gente cantar juntas.
    

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⏰ Última atualização: Oct 10 ⏰

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