Capítulo 1: abril, 2021

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Quem disse que amizade entre ex pode ser tranquila estava mentindo ou apaixonado, é  só mais uma noite comum e a feirinha com certeza é apenas uma desculpa para sair como amigas, quando, na verdade, deveríamos ter sido maduras o suficiente para nem sequer termos saído de casa juntas.

Antes de sair, troquei de roupa milhares de vezes. O tempo estava fresco, mas não o suficiente para roupas de inverno, mas de repente, um vestido preto solto e uma jaqueta jeans pareceram uma ótima ideia. Enquanto me preparava, minha mente se enchia de lembranças. Marina aparecia em meus pensamentos como uma força magnética inexplicável.

Não era tarde quando saí de casa; por volta das 20h, cheguei e a praça estava cheia, com gente por todos os lados. Facilmente me perderia se fosse um pouco maior. A alguns passos do palco, lá estava ela, Marina com a cara de quem queria estar em casa. Seus olhos castanhos contrastavam com sua pele branca e pálida. Seu cabelo estava meio preso, e ela se envolvia em uma jaqueta de pelúcia, parecendo deslocada no meio da multidão. Tinha alguma coisa hipnotizante em sua presença, quase impossível evitar o impulso de sentir uma atração que já deveria ter desaparecido.

A praça estava repleta de vozes e pessoas vibrantes, muita gente reunida e bem arrumada. Eu, mais do que qualquer um ali, estava distante. Meus pensamentos estavam focados em Marina, quase implorando para que voltássemos, mesmo que eu soubesse que isso não seria nada bom. Ao meu lado, ela ainda tinha um poder desconcertante sobre minha vida, mesmo depois de todos os términos. O controle que ela tinha sobre mim parecia quase total.

O relacionamento com Marina sempre foi uma montanha-russa de emoções. Sua falta de consideração me deixara marcas profundas, e a desconfiança de que eu poderia acreditar em um amor recíproco tinha deixado tudo mais difícil. A sensação de sufoco, misturada com o desejo de liberdade, parecia muito maior essa noite. Cada risada ao meu redor apenas aumentava meu desconforto, como se eu estivesse presa em um universo que não era mais o meu.

Enquanto tentava ignorar os pensamentos na presença pesada de Marina, me obriguei conversar com as pessoas da festa. Fingir que não me importo tem sido a pior parte dessa noite, não sei onde estava com a cabeça quando aceitei o convite. Sentada ao meu lado, ela se aconchega suavemente no meu ombro e segura a minha mão, como um ato de recompensa por estar ali, eu, sem poder esboçar qualquer sentimento é como se estivesse no próprio purgatório, com a sentença de estar fadada a se contentar com o mínimo.

Andando em meio à multidão, sinto sua mão fria desprender da minha. Em segundos, por ironia do destino ou não, não havia mais nem sequer um sinal de Marina, o que não foi tão ruim assim. Como um instinto de sobrevivência, procuro ao redor; meus amigos estão longe e eu odeio lugares assim. Com o frio na barriga por estar completamente sozinha, tento encontrar um rosto conhecido quando minha busca é interrompida por alguém de cabelos longos e escuros, que me questiona agora sobre onde estava Marina, dizendo que a viu acompanhada. Naquele momento, meu mundo desabou, e a pouca confiança que restava já tinha ido por água abaixo.

Mesmo saindo como amigas, tínhamos um combinado: não ficaríamos com outras pessoas se saíssemos juntas, mas parece que ela realmente não se importava. Deixei-me levar pelo ódio que senti e retribuí aquebra do combinado. A garota que me questionou, agora estava temporariamenteocupando o lugar de Mari.

a sensação de tristeza só aumentou quando finalmente volto a multidão, mas vejo rostos conhecidos e enquanto me aproximo, um par de olhos encontra os meus. Olhos castanhos e curiosos, brilhando como nenhum outro, e por um instante, tudo ao meu redor desapareceu. O tempo desacelerou como mágica, e por um segundo, já não havia mais Marina, nem relacionamento ruim, nem brigas; só havia ela. Não tenho ideia de quem seja aquela garota, mas a sensação que tomou meu corpo é como se tivéssemos nos conhecidos por uma vida inteira. Ela — com um grupo de amigas — riu de algo, despreocupada e distante, alheia a todos os efeitos que seu olhar causara.

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⏰ Última atualização: Oct 10, 2024 ⏰

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