NOSSO ÚLTIMO ECLIPSE

CAPÍTULO 5

Apolo

Nunca poderia imaginar que a escola se tornaria meu lugar preferido. Tudo havia mudado para melhor, e eu devia isso a Selene. Mesmo que ela não soubesse, foi ela quem transformou minha vida. Viu em mim o que ninguém mais percebia, tocou em minhas fraquezas e as converteu em força. Embora ainda enfrentasse desafios, meu desempenho acadêmico evoluiu significativamente. A confiança que ganhei me permitiu me relacionar com outros alunos, e fiz amizades maravilhosas. Agora, todos me enxergavam.

Minhas notas ainda não se comparavam à média da turma, muito menos às de Selene. Ela era incrível, sempre alcançando a nota máxima em tudo e disposta a ajudar todos ao seu redor. Seu sorriso e incentivo se tornaram a motivação que eu precisava para me esforçar cada vez mais. Cada dia era uma nova oportunidade de aprender e crescer. Por causa dela, comecei a acreditar que poderia ser eu mesmo e ir muito além do que ousei imaginar.

Adorava observar seu rosto sereno nas vezes em que ela dormia nas aulas, exausta por caminhar todos os dias até a escola, que era longe de sua casa.

Vivia animado, falava sobre ela a maior parte do tempo que passava com minha mãe, que estava de volta. Podíamos conversar agora sobre coisas que realmente me interessavam, sem ter que ouvir apenas sobre suas viagens a Milão, Paris ou aonde quer ela que fosse a trabalho pela sua agência de moda. Meu pai também percebia a mudança em mim durante os jantares em família, quando não estava preso ao escritório. Ele dizia estar feliz por eu ter amigos, elogiando Selene como uma boa influência, dizendo que era disso que eu precisava: me relacionar com as pessoas certas, reforçando a idéia de que eu me sentir confuso em relação aos estudos era por antes, eu não está na escola digna de mim. Ele não sabia quem ela era pessoalmente, mas quando soubesse, ficaria tão maravilhado quando eu, Selene era simplesmente magnífica, veria com os próprios olhos que ela não tinha nada de inferior.

A fanática pelo espaço era totalmente incondicional comigo, nunca pedindo ou exigindo nada em troca. O tempo que podíamos passar juntos era sagrado; era como se estivéssemos em um mundo só nosso. Quando matamos aula juntos e fomos ao cinema no shopping cheguei ao ápice da felicidade. Queria ser bom para ela, ver sempre seu sorriso. Durante aquela semana percebi que ela desejava assistir a um filme chato, em que a cada minuto alguém começava a cantar uma música boba. Notei a tristeza em seus olhos enquanto ouvia as meninas falarem que adoraram o filme e como Zac Efron estava mais lindo do que nunca. Any, Julia e Aline sempre foram amigas próximas de Selene, mas ela nunca se encaixou completamente; parecia estar sempre à margem delas em passeios que não tinha dinheiro para participar. Enquanto assistíamos ao filme, presenciei suas lágrimas de felicidade deslizando pelo seu rosto, um sorriso imenso iluminando seu olhar. Foi nesse momento que percebi: tudo o que eu pudesse fazer para vê-la feliz, eu faria.

Quando o primeiro ano do ensino médio começou, minha amizade com Any também se fortaleceu. Ela me mandava mensagens no Orkut e, à noite, me chamava no MSN, confessando que estava gostando de mim. Any era bonita, e as coisas que dizia eram diferentes das que eu ouvia de Selene, que sempre falava que eu era o melhor amigo que ela já teve.

Eu andava confuso, sentindo coisas diferentes e mudanças pontuais em meu corpo. Às vezes, meu pensamento me induzia ao desejo de beijar uma garota, por isso aceitei o convite para ser o príncipe na festa de quinze anos de Any, para beijá-la durante a valsa. Comentei com Selene minha intenção, e sua felicidade era evidente. O que me surpreendeu foi que, em meu íntimo, desejava que isso a incomodasse, pois era ela quem realmente queria beijar. No entanto, não era arrogante a ponto de ignorar a realidade: eu era apenas mediano, e ela era excepcional; ainda estava preso a uma expectativa, enquanto ela era livre para voar.

Os dias passaram, e nossa amizade se tornava cada vez mais forte. Any e eu começamos a namorar, e o grupo estava sempre unido. Tudo estava bem até aquela maldita feira de ciências. E foi aí que tudo mudou...