Único - Onde está o Seung?

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Olá, pestinhas da NA. Hoje trouxe uma história que mostra a dura realidade de mulheres em todo o mundo. Me inspirei em uma música chamada ‘Rosas’, do Atitude Feminina. Espero que gostem e que entendam atráves dessa fanfic que nem todo casal que aparenta ser normal, está de bem. É uma dura realidade que, infelizmente, acontece muito!

Caso queiram ajudar a tia, deixem estrelinhas e comentários, obrigada! 💙🐳

O som ritmado do jogo de dominó ecoava pela pracinha, entre risadas altas e gritos que vinham das casas ao redor. O cheiro denso de maconha misturava-se com o perfume das árvores frutíferas que tentavam sobreviver entre as vielas. Era assim na favela do Rio de Janeiro, um contraste entre vida e caos. As paredes dos barracos eram enfeitadas por grafites que contavam histórias, com cores vibrantes que se destacavam no cinza das construções inacabadas. Ali, o calor parecia constante, um calor que não vinha apenas do sol, mas da tensão sempre presente no ar.

JeongHan lembrava-se bem do dia em que conheceu SeungCheol. Eram dois garotos franzinos, cheios de vida, mas marcados pela dureza da realidade. Brincavam com uma bola de meia improvisada, os pés descalços levantando poeira no chão de terra batida da pracinha. SeungCheol tinha um sorriso largo, daqueles que iluminavam até os cantos mais sombrios da alma. JeongHan, por outro lado, era mais tímido, sempre observador, com os cabelos caindo sobre o rosto, escondendo um olhar que parecia absorver o mundo ao redor. Desde aquele dia, uma conexão instantânea surgiu, algo que nenhum dos dois conseguia explicar. JeongHan sentia uma espécie de segurança ao lado de SeungCheol, como se o amigo fosse seu porto seguro em meio ao caos da vida na favela.

Com o tempo, eles se tornaram inseparáveis. Cresceram juntos, compartilhando sonhos e medos. Enquanto as ruas da comunidade os ensinavam a ser fortes, os dois encontravam um no outro um lugar de fuga. A adolescência veio, e com ela, as descobertas. Foi SeungCheol quem levou JeongHan para o seu primeiro baile funk, onde o som das batidas ecoava no peito e fazia o chão tremer. Foi com ele também que JeongHan deu o primeiro beijo. Aquilo aconteceu de forma despretensiosa, uma tarde como qualquer outra, quando voltavam para casa depois de mais um dia na pracinha. Naquele momento, JeongHan sentiu algo mudar dentro de si. O toque suave e inesperado dos lábios de SeungCheol o fez perceber que o que sentia pelo amigo era mais do que amizade.

Depois daquele beijo, JeongHan não conseguia parar de pensar em SeungCheol. Seus sentimentos estavam confusos, mas o desejo de estar sempre ao lado do amigo era mais forte do que qualquer dúvida. Cada sorriso, cada toque, cada momento compartilhado parecia carregar um peso maior. Os olhos de JeongHan brilhavam sempre que SeungCheol estava por perto, como se o mundo ao seu redor perdesse importância quando ele estava com ele.

Wonwoo, o amigo mais próximo de JeongHan, sempre o advertia. "Você tá se entregando demais, Jeong. Vai com calma, não é tudo isso que você pensa." Wonwoo era sério, com um olhar sempre desconfiado das coisas e das pessoas. Ele conhecia o mundo duro ao qual pertenciam, sabia que nada durava para sempre, especialmente um amor nascido em meio às dificuldades da vida na favela. "No começo é tudo festa, mas a realidade vem com o tempo", repetia Wonwoo. Mas JeongHan, cego de amor, preferia ignorar. Ele acreditava que aquele sentimento era puro, intocável. Para ele, SeungCheol era o príncipe encantado que o resgataria daquele mundo sombrio.

E por muito tempo, parecia que seria assim. SeungCheol era carinhoso, chamava JeongHan de "filé", um apelido que, na cabeça de JeongHan, soava doce e íntimo. Era uma forma de mostrar que ele era especial. Wonwoo, por outro lado, torcia o nariz. "Isso é uma besteira, ele não te respeita como deveria", dizia, mas novamente, JeongHan ignorava. Na visão dele, SeungCheol era perfeito. Mas as coisas começaram a mudar.

Aquele sorriso fácil que antes encantava JeongHan foi desaparecendo aos poucos. As promessas de amor eterno começaram a ser substituídas por explosões de raiva. O cheiro de cerveja e maconha se tornava uma presença constante na vida de SeungCheol, e JeongHan não sabia o que estava acontecendo. As noites de carinho foram trocadas por silêncios sufocantes, por longas esperas e pelo medo crescente de perder o que um dia havia sido seu refúgio.

Certa noite, SeungCheol chegou em casa mais tarde que o habitual. Seus passos eram pesados, descoordenados, e o cheiro de perfume barato não deixava dúvidas de que havia estado com outra mulher. JeongHan, desesperado, perguntou o que estava acontecendo. E foi naquele momento que SeungCheol, sem pensar, o empurrou com força contra a parede. O impacto fez JeongHan ver estrelas, e a dor física foi superada apenas pela dor de perceber que aquele que ele amava estava se tornando alguém que ele mal reconhecia.

No dia seguinte, SeungCheol apareceu com lágrimas nos olhos, pedindo desculpas. Disse que não sabia o que havia acontecido, que estava arrependido. E JeongHan, como sempre, o perdoou. Ele acreditava que o amor poderia consertar tudo, que ainda havia esperança. Mas as agressões se repetiram, cada vez mais violentas, cada vez mais cruéis. O ciclo de violência e arrependimento tornava-se sufocante, e JeongHan se via cada vez mais isolado.

Nessa tentativa de restaurar a paz, JeongHan adotou uma criança, Yvy, uma pequena que trazia consigo uma esperança renovada. Ele acreditava que, talvez com a chegada de Yvy, SeungCheol mudaria. Talvez ele voltasse a ser o homem por quem JeongHan havia se apaixonado. Yvy era sua luz em meio à escuridão, seus pequenos olhinhos brilhantes e sua risada inocente eram tudo o que restava de bom na vida de JeongHan.

Mas naquela noite, o pior aconteceu. SeungCheol chegou furioso, quebrando tudo ao redor. O barulho dos objetos caindo no chão, o som do vidro estilhaçando, o choro desesperado de Yvy — tudo se misturava em uma cacofonia de caos e medo. JeongHan tentou proteger sua filha, segurando-a nos braços, mas a fúria de SeungCheol era incontrolável. Ele empurrou JeongHan com tanta força que o fez cair, e no processo, Yvy foi atingida. O mundo de JeongHan desmoronava naquele instante. O cheiro de sangue, o som de seu coração batendo forte em seus ouvidos, o peso da perda iminente — tudo se tornava insuportável.

Enquanto sua visão escurecia, JeongHan pensava em como tudo poderia ter sido diferente. Pensava em Wonwoo, nas palavras que ele tantas vezes repetiu e que JeongHan ignorou. "E se eu tivesse denunciado? E se eu tivesse escutado?" Eram pensamentos que giravam em sua mente enquanto o sangue escorria e a escuridão o consumia.

No hospital, JeongHan foi declarado morto. Hemorragia interna. A pequena Yvy, levada às pressas pelos vizinhos, sobreviveu. Agora, ela teria um futuro à frente, mas sem seu pai. Os sonhos de JeongHan de construir uma família e ser feliz haviam sido interrompidos de forma brutal naquela noite.

No dia do enterro, SeungCheol apareceu. Ele trouxe rosas, as mesmas que JeongHan tanto amava, mas agora era tarde demais. Com lágrimas nos olhos, pediu para JeongHan voltar, para lhe dar mais uma chance. Mas não havia mais volta. JeongHan estava em paz, longe da dor, longe da violência que o consumira.

Agora, ele descansava em silêncio, onde o cheiro de cerveja e maconha não podiam mais alcançá-lo.

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Escrita por: remleez.
Início: 11/10/2024.
Final: 11/10/2024.

© Todos os direitos reservados a REMLEEZ.

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‘Hoje, meu amor veio me visitar,
E trouxe ROSAS para me alegrar,
E com lágrimas pede para eu voltar’

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⏰ Última atualização: Oct 11, 2024 ⏰

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