Está escuro... Frio... Não consigo respirar nem me mover. O lugar é apertado... Ouço vozes distantes, mas não consigo reagir. Depois de um tempo, bem devagar, as vozes vão diminuindo, e o silêncio volta a dominar a escuridão.
Tento entender o que está acontecendo. Lembro-me apenas de que tudo parecia normal, até que, de repente, me vi cercado pela escuridão. Um sentimento avassalador de desespero e angústia me consome. Quero chorar, mas as lágrimas não vêm. Tento gritar, mas minha voz não sai. Quero socar, chutar o que me aprisiona, fugir daqui, mas meu corpo não responde.
«««»»»
Tenho a sensação de que dias, talvez semanas, se passaram (já nem sei mais). Todo esse tempo no escuro, imóvel, sem entender o que acontecia. Ouvi vozes ao longe, outras bem próximas. Elas diziam muitas coisas; algumas soavam suaves, outras, desesperadas. Mas, de tudo o que falavam, apenas uma palavra se fixou na minha mente. Independentemente do tom de voz ou do que diziam, todos perguntavam a mesma coisa: "por quê?"
Tentei entender a que se referiam, mas era impossível. Além daquela pergunta, nada do que falavam fazia sentido, era como se fosse uma língua estrangeira. O tempo passou, e os sons ao meu redor foram diminuindo mais a cada dia. Às vezes, os únicos sons que eu ouvia eram passos distantes e o badalar de um sino, provavelmente de uma igreja. Não conseguia pensar direito, "onde eu estou?" "por que não consigo me mexer?". Eu continuava sem respostas.
Um dia, escuto passos novamente, mas desta vez eles estão se aproximando. O barulho aumenta parece mais próximo "Que sensação estranha" penso comigo mesmo. Os passos continuaram durante alguns segundos, mas depois o silêncio se instalou novamente. Não sei quanto tempo ja se passava.
"Oi, amor." Se eu pudesse, teria saltado de surpresa. Reconheci a voz imediatamente. A que eu ouvi todos os dias nos últimos três anos, uma voz que eu conhecia todas as suas alterações, quando queria chorar, quando tinha raiva ou quando queria carinho. A voz que nos últimos meses, passou a me chamar de "amor", "meu bem", "meu anjo", "amor da minha vida". Uma enxurrada de memórias me invadem como se eu abrisse o portão que as seguravam: pessoas, lugares, conversas... Lembranças que eu nem sabia que tinha. E, de repente, lembrei onde estava antes de chegar aqui. Minha ultima memoria iluminando meu ser como um filme se iniciando na sala do cinema. Estava sol, eu estava feliz, um pouco distraído, mandando uma mensagem pra ela. Foi apenas um minuto e quem me dera ter visto antes, mas já era tarde demais, não dava para desviar.
Escuto a voz dela. Desta vez, ao contrário das outras, eu entendia tudo o que ela dizia. De repente, o desespero na sua voz se tornou evidente, e logo percebi que ela chorava. Queria abraça-la, dizer que estava tudo bem, que não importava o que tivesse acontecido, eu estava lá para ajudá-la. Mas eu não podia. Ela chorava, e eu não podia consolá-la. Ela chorava por minha causa. Afinal, eu estou morto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Escuridão silenciosa
RandomTextos que ando escrevendo após a morte repentina do meu namorado