Um

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A flecha acertou diretamente o alvo. Sobre o cavalo, ele cavalgava com habilidade, acertando todos os pontos vermelhos pendurados nas árvores. Os cascos gastos de seu cavalo tropeçaram num obstáculo e ele foi ao chão. Grunhindo, se levantou limpando a terra de suas calças.

— Relaxe, não foi ruim, você passou a maioria dos obstáculos — consolou Constância, se aproximando para espanar sua roupa. As unhas compridas cutucando sua pele por cima da camisa. — Apenas um pouco mais de treino e você irá ser perfeito.

— Não foi bom, foi péssimo — Yoongi se martirizou. — Tenho que tratar dos cascos do Lutero.

Constância sorriu.

— Por que escolheu esse nome, novamente?

— Você sabe o porquê — Yoongi enfaixou as mãos cortadas pelas farpas das flechas. — Ele é um grande companheiro, e esse nome significa “liberdade”. Ele não merece menos de mim — acariciou a crina negra do cavalo, que puxou-o para um abraço com a cabeça.

— Bem — Constância se aprumou. — Está na hora de treinar magia.

Essa era a pior tarefa do dia. Yoongi não dominava sua própria magia e cometia muitos erros que o faziam parecer fraco, apesar de sua mestra discordar e dizer que seu esforço lhe levará a grandes distâncias. Ela sempre o incentivou para que se tornasse o bruxo que sempre quis ser, e acredita no seu poder mais do que qualquer outra coisa. E é por isso que ele a ama tanto.

Yoongi foi à arena de treinamento, uma parte aberta da floresta, longe da casinha em que eles moravam — bem longe da vila. Ali, estariam seguros de olhares alheios, mesmo que ninguém morasse por perto, não podiam arriscar.

— Concentre-se — ela o aconselhou. — Vamos tentar a projeção da proteção à distância. Eu estarei bem aqui — Constância se deslocou para um ponto longínquo onde Yoongi não poderia alcançá-la. — Está pronto?

— Estou.

Yoongi pôs as mãos para frente do corpo e olhou fixamente para sua mestra. As mechas esverdeadas de seu cabelo brilharam, assim como seus olhos, em um verde fluorescente. Uma onda invisível se projetou de suas palmas, indo para Constância. Ela então, andou devagar para o lado, e Yoongi se esforçou para segui-la, mas a barreira se desfez, sugada de volta para suas mãos.

Ele gemeu em descontentamento.

— Porcaria!

— Acalme-se, Yoongi — disse ela. — Você consegue. Vamos dar uma pausa.

— Eu vou para a câmara — ele anunciou, apertando o nó em sua mão com os dentes. — Estou sentindo uma presença estranha.

— Só tome cuidado, não quero que se fira.

— Não irei.

Longe dos humanos, eles viviam uma realidade gentil, onde nada iria destruir essa ligação que ambos tinham. Yoongi cresceu ao lado de Constância e sempre foi incentivado a lembrar-se da mãe, mesmo que não pudesse vê-la em suas lembranças, ela ainda era presente em sua mente pelas histórias mágicas que sua mestra o contava. E mesmo sem conhecê-la, Yoongi admira-a imensamente.

Ao entrar na câmara, a sensação de mal-estar o acertou em cheio. Tem algo aqui. Um barulho alto chamou sua atenção para o altar da jóia. Uma mão empurrou sua cabeça.

— Durma!

Depois disso, Yoongi não se lembra mais de nada.

Em tempos difíceis, Yoongi costumava cantar uma cantiga que sua mestra o ensinou há muitos anos, quando ainda era uma criancinha melequenta. Eram palavras notoriamente ofensivas a qualquer humano que desgostasse de bruxas, e, para ele, a melodia mais agradável do mundo.

Tons esverdeados de magia | YoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora