Ele se foi...

88 21 0
                                    

O vento gelado cortava a pele de Jeongguk como facas afiadas, enquanto ele permanecia parado, em silêncio, diante do túmulo recém-coberto. As flores, ainda frescas, pareciam uma zombaria dolorosa diante da realidade brutal: Yoongi se fora. Jeongguk lutava para aceitar a ideia de que ele estava realmente enterrado ali, naquele pedaço de terra úmida e fria. Tudo o que restava eram ecos de risadas, sussurros de promessas não cumpridas, e uma dor sufocante que o envolvia como um manto escuro, quase insuportável.

As pessoas começaram a se dispersar lentamente, mas seus rostos borrados e indiferentes se misturavam em um turbilhão de emoções que Jeongguk não conseguia decifrar. Os sussurros de condolências ecoavam ao seu redor como uma música distante e triste, mas sua mente estava presa em cada detalhe do último dia em que viu Yoongi. O tom de voz dele, tremendo e angustiado, quando disse que precisava de espaço. A expressão de desespero em seu rosto, como se estivesse lutando contra um mar revolto. Jeongguk fechou os olhos com força, tentando escapar da realidade, mas a dor sempre o trazia de volta.

Yoongi estava morto. Ele nunca mais atenderia suas ligações, nunca mais usaria aquelas camisetas largas que sempre roubava de Jeongguk, transformando cada item em uma lembrança viva de sua presença. Nunca mais o irritaria com seus comentários afiados, nunca mais o faria sorrir com aqueles olhares tímidos que só ele conhecia. A ausência dele era como um buraco negro no peito de Jeongguk, devorando tudo o que restava de alegria em sua vida.

A culpa se instalou em seu peito como uma ferida aberta, ardendo a cada batida do coração. Ele olhou para a lápide, o nome de Yoongi gravado ali parecia uma piada cruel e sem sentido. Min Yoongi, 1993 – 2024. Era uma inscrição tão simples, tão desumana, incapaz de capturar a profundidade de alguém que havia preenchido sua vida de maneiras que ele nunca poderia explicar. Alguém que significava tudo para ele, e que agora se tornara apenas uma memória.

Sentindo uma onda de raiva e tristeza se misturarem dentro dele, Jeongguk se lembrava das noites em que passavam juntos, rindo e compartilhando sonhos, as promessas de um futuro que agora pareciam tão distantes quanto estrelas em um céu sem luz. Cada batida do seu coração pulsava com a dor do que havia perdido, como se seu corpo estivesse tentando gritar, mas a voz dele tinha sido silenciada pelo peso da sua própria dor.

Ele se agachou, tocando delicadamente a terra que cobria o corpo de Yoongi, como se aquela conexão pudesse, de alguma forma, trazê-lo de volta.

— Desculpe — murmurou, a voz embargada, quebrada por um lamento profundo. — Desculpe por não ter visto o seu sofrimento, meu amor. Desculpe por ter descontado meu estresse em você... Me perdoa! Por favor. — As lágrimas escorriam pelo seu rosto, misturando-se com o vento que parecia trazer ecos de risadas e conversas que agora eram apenas lembranças. O mundo ao seu redor estava em desordem, e a única coisa que Jeongguk desejava era poder voltar no tempo, ter uma chance de corrigir o que estava quebrado.

O sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e roxo, mas aquela beleza só parecia aumentar a sua dor. Jeongguk sabia que precisava ir, mas não queria deixar aquele lugar, não queria se afastar da última lembrança física de Yoongi. Ele queria gritar, mas as palavras simplesmente não saíam. Finalmente, com um esforço que parecia quase impossível, ele se levantou, dando um último olhar para a lápide, como se esperasse que Yoongi estivesse ali, olhando para ele com o mesmo amor e compreensão de antes.

Mas a realidade o atingiu como um soco no estômago: Yoongi não estava mais ali. E ele estava sozinho.

Cartas para o meu Yoongi | YKOnde histórias criam vida. Descubra agora