Banana Pancakes [AGATHARIO]

Único.

A primeira coisa que Agatha reconheceu, mesmo antes de abrir os olhos, foi a brisa fria que entrava no quarto através da janela aberta. As cortinas esvoaçantes dançavam em direção ao centro do cômodo e Agatha murmurou suavemente ao puxar os cobertores até o pescoço antes de se virar em cima dos lençóis, deitando de lado e abraçando os próprios joelhos. O clima, normalmente ameno, estava estranhamente mais fresco naquela manhã, o que a levou a acreditar, sem precisar olhar para o relógio, que era muito cedo para levantar. Ela suspirou profundamente e se acomodou na cama mais uma vez, virando-se para o outro lado e esticando o braço na direção onde Rio deveria estar.

Mas ela não estava lá. Agatha franziu a testa e moveu o braço novamente, a mão espalmada deslizando pela cama vazia ao seu lado. 

O dia ainda estava amanhecendo, mas era claro o suficiente para Agatha perceber o quarto arrumado ao seu redor, bem diferente da noite anterior, onde roupas estavam jogadas no chão, em cima da cômoda e cobrindo a luminária. Ela até se lembrou vagamente de ver um sutiã—não conseguia dizer se era dela ou de Rio—pendurado em um canto da televisão. Ela riu suavemente ao pensar naquilo: Rio provavelmente organizara o quarto logo depois de acordar. Ela sentiu uma súbita vontade de se levantar e andar pela casa procurando sua esposa, como se um mero segundo notando sua ausência fosse suficiente para entristecer seu coração.

No entanto, antes que pudesse realmente perceber a extraordinária preguiça que sentia naquela manhã em particular, seus devaneios foram interrompidos por um barulho alto vindo da cozinha, alto demais para ser um mero acidente causado pelo vento. Em tempo recorde, Agatha se colocou em pé, sem se importar em vestir algo além do short de malha preto e da camiseta branca que cobria seu torso. 

— Rio? Agatha perguntou assim que chegou à cozinha, franzindo a testa enquanto olhava ao redor, procurando por sua esposa. 

— Droga. Não foi assim que eu planejei. — Por trás do balcão da cozinha, Rio se levantou rapidamente, oferecendo a Agatha uma visão que ela definitivamente guardaria pelo resto de seus dias—séculos a fio.

Vestindo uma calça de moletom e uma camiseta larga, ambas as peças pretas, Rio exibia uma expressão frustrada, mas com uma suavidade que Agatha só via em determinados momentos. Os cabelos castanhos estavam presos em um coque desajeitado, alguns fios escapando do prendedor e emoldurando seu rosto. As irises castanhas estavam voltadas para Agatha, como se pedissem desculpas pelo que havia acontecido, o que, de alguma forma, parecia mais grandioso do que realmente era. 

Mas foram os pequenos olhos castanhos que apareceram atrás das pernas da mulher mais velha que captaram a atenção da bruxa. Com seus cabelos castanho-claros completamente brancos, cobertos por uma grande quantidade de farinha de trigo, o pequeno Nicholas espelhava exatamente o olhar de sua mãe, como uma perfeita miniatura de Rio Vidal.

— Bom dia, mama... — Sua voz era suave, quase envergonhada, enquanto ele se escondia atrás de sua mãe como se estivesse completamente protegido de qualquer que fosse seu medo.

— Eu... — Agatha começou, franzindo as sobrancelhas.  — Eu quero saber o que está acontecendo aqui? 

Não era uma afirmação, mas uma pergunta.

Agatha arqueou a sobrancelha direita, incerta se realmente queria saber a resposta à pergunta que tinha acabado de fazer, mas era impossível conter o sorriso que começava a se formar em seus lábios.

— Bom... Era pra ser um café da manhã surpresa, mas, como você pode ver claramente, não saiu como o planejado — Rio disse entre os dentes, clara o suficiente para Agatha entender.

Subitamente, tudo fez sentido e Agatha sentiu uma intensa vontade de rir. Não de sua esposa e muito menos de seu filho, mas da situação em si: os dois estavam cobertos com uma variedade de ingredientes, a cozinha estava uma completa bagunça e, sobre a bancada, havia uma tentativa frustrada de café da manhã surpresa.